Durante muito tempo, pensou-se que múmia de mulher do século 18 e ancestral de Boris Johnson faleceu por sífilis; mas a verdade é ainda mais curiosa
Éric Moreira Publicado em 24/12/2024, às 19h00
Em 1975, durante obras de construção na igreja de Barfüsserkirche, localizada na cidade de Basileia, na Suíça, foi descoberta uma múmia que surpreendeu pesquisadores.
Conforme descrito em 2018 pela World News BBC, pesquisadores do Museu de História Natural do município estudaram o DNA da múmia e identificaram aquele cadáver como uma mulher chamada Anna Catharina Bischoff.
Viúva de um pastor local, ela morreu em Basileia em 1787, aos 68 anos; mas certamente a curiosidade mais surpreendente é que amostras genéticas apontaram-na como ancestral do ex-primeiro-ministro do Reino Unido, Boris Johnson.
Durante muito tempo, os pesquisadores apontaram que a mulher morreu provavelmente de sífilis, devido a alterações no osso do crânio.
Porém, uma análise posterior de uma equipe do Instituto de Estudos de Múmias, na Itália, atestou que não havia vestígios diretos do patógeno transmissivo sexualmente, levantando dúvidas sobre a causa de sua morte.
Uma nova abordagem na análise de DNA antigo demonstrou sua eficácia ao permitir a reconstrução do genoma de uma micobactéria. Essa técnica, conhecida como "montagem de-novo" (de-novo assembly), refutou a teoria anterior que sugeria a presença da sífilis.
"O método está definido para se tornar uma ferramenta importante para elucidar as causas subjacentes de doenças para as quais o patógeno responsável ainda não é conhecido", disse Frank Maixner, microbiologista da Eurac Research e colíder do estudo, em comunicado.
O estudo em questão, publicado no mês de fevereiro na BMC Biology, descreve que a bactéria que afetou Anna Catharina Bischoff pertence ao gênero de micobactérias não tuberculosas. Ou seja, faz parte da mesma família que agentes causadores da hanseníase, em vez de sífilis.
Mesmo com a descoberta tardia da doença que acometeu a mulher, essa não foi a causa, diretamente, de sua morte.
Embora as micobactérias sejam conhecidas por causar doenças como pneumonia ou outras infecções em imunocomprometidos, Anna Catharina Bischoff não morreu devido ao microrganismo.
Ela, na verdade, faleceu através do tratamento que era empregado na Europa do passado contra a sífilis — doença com a qual foi diagnosticada erroneamente em vida. Na época, era utilizado vapor de mercúrio ou unguento.
Isso foi constatado depois que pesquisadores perceberam que a concentração de mercúrio no cérebro de Bischoff era surpreendentemente alta.
A presença deste metal, inclusive, serve para explicar a presença de uma lesão na nuca da mulher — uma das razões que levou à suspeita inicial de sífilis.
Inclusive, o mercúrio auxiliu o processo de mumificação de Bischoff. Segundo o Ancient Origins, as condições atmosféricas criadas dentro de seu caixão e de sua câmara funerária desaceleraram a atividade microbiana, contribuindo ainda mais para que o cadáver fosse preservado ao longo dos séculos.
Logo, como a terapia de inalação de mercúrio era comum para o tratamento de sífilis, não surpreende que historiadores da década de 1970, sem os métodos investigativos mais avançados do cadáver, presumissem que ela morreu devido à infecção sexualmente transmissível (IST).
Por fim, com a identificação do patógeno que realmente acometeu Anna Catharina Bischoff, o microbiologista Mohamed Sarhan, colíder do estudo, opina também no comunicado que a identificação do verdadeiro patógeno nos restos mortais da múmia possui "o potencial de revelar novos deslumbres sobre a evolução e disseminação de doenças no passado", possibilitando assim o "desenvolvimento de novos tratamentos e estratégias de prevenção".
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