Operação "Argo" resgatou seis diplomatas norte-americanos que estavam refugiados na residência do embaixador canadense, Ken Taylor, no Irã
Luiza Lopes Publicado em 29/10/2024, às 18h00 - Atualizado às 20h12
Em 4 de novembro de 1979, durante a Revolução Iraniana, manifestantes islâmicos tomaram a embaixada dos Estados Unidos em Teerã, resultando na prisão de 66 funcionários americanos como reféns.
O incidente foi parte de um contexto maior de agitação política, que incluiu a derrubada do regime do xá Reza Pahlavi, um aliado dos EUA, e a ascensão de um governo islâmico radical liderado pelo aiatolá Ruhollah Khomeini.
A situação se deteriorou rapidamente, resultando em um confronto entre os manifestantes e as forças armadas do governo dos EUA, conforme documenta o site da CIA (Agência Central de Inteligência dos EUA).
Enquanto a maioria dos reféns na embaixada enfrentava meses de cativeiro, seis diplomatas americanos conseguiram escapar e se refugiar na residência do embaixador canadense, Ken Taylor. Eram eles: Joseph e Kathleen Stafford (casal); Mark e Cora Lijek (casal) e Bob Anders e Lee Schatz.
"O protesto ocorreu principalmente porque a América tinha admitido o xá para tratamento médico. O edifício consular, onde Cora e eu trabalhávamos, estava a pelo menos cinco minutos do edifício principal da embaixada e tinha sua própria porta para a rua", disse Mark Lijek, um dos sobreviventes, à BBC. "As pessoas que invadiram (o local) inicialmente esqueceram da gente ou não se importaram muito".
A operação de resgate foi conduzida pela CIA, que estava sob pressão para encontrar uma solução criativa para a situação tensa.
O plano foi liderado por Tony Mendez, um experiente agente da CIA, que idealizou uma abordagem inovadora. A ideia era que os seis americanos se passassem por membros de uma equipe de filmagem canadense que estava no Irã para produzir um filme de ficção científica.
A estratégia era baseada na premissa de que, durante um momento caótico, a atenção poderia ser desviada da verdadeira identidade dos refugiados. A CIA, então, trabalhou em conjunto com John Chambers, um renomado maquiador de Hollywood conhecido por sua habilidade em transformar atores.
Chambers ajudou a criar uma identidade falsa para a produção, nomeada Argo, desenvolvendo um logotipo e materiais promocionais, incluindo cartazes e roteiros fictícios. O filme foi descrito como uma aventura espacial ambientada no Oriente Médio, o que parecia plausível para os oficiais iranianos.
Para dar credibilidade ao plano, a CIA até mesmo organizou uma conferência de imprensa falsa em Los Angeles, na qual uma equipe de Hollywood se reuniria para discutir a produção do filme. O evento atraiu a atenção de jornalistas, o que ajudou a espalhar a notícia sobre a suposta filmagem no Irã, repercute o site.
"Eu achei que o plano tinha a quantidade certa de exagero. Quem, além de cineastas, seria louco o suficiente para estar em Teerã em meio a uma revolução? Eu não tive nenhum problema em fingir ser da indústria do cinema", disse Lijek à BBC.
Após meses de planejamento, o presidente Jimmy Carter autorizou a operação em 23 de janeiro de 1980, ciente dos riscos envolvidos. Tony Mendez e sua equipe chegaram a Teerã em 28 de janeiro.
Durante os dias que se seguiram, eles ensaiaram com os refugiados, preparando-os para encenar suas novas identidades. Mendez adotou uma abordagem calma e metódica, ciente de que qualquer erro poderia resultar em consequências desastrosas.
No dia da fuga, os seis americanos, disfarçados de cineastas, dirigiram-se ao Aeroporto Mehrabad. A tensão aumentou quando um voo da Swissair, no qual deveriam embarcar, teve problemas mecânicos, resultando em um atraso angustiante.
Contudo, após mais de uma hora de espera, conseguiram embarcar em um avião, escapando do Irã com sucesso. O resgate foi concluído em 1º de fevereiro de 1980, quando os refugiados desembarcaram em uma base militar dos EUA na Alemanha.
"Felizmente para nós, havia poucos homens da Guarda Revolucionária [no aeroporto]. É por isso que marcaram um voo às 05h30 da manhã, porque eles não eram zelosos o suficiente para estar lá tão cedo", relembrou Mark Lijek ao veículo internacional. "A verdade é que os oficiais de imigração mal olharam para a gente. Tomamos um voo para Zurique e, em seguida, fomos levados para a residência do embaixador dos EUA em Berna. Foi simples assim."
As notícias da fuga e do apoio canadense rapidamente se espalharam, levando os americanos a demonstrarem entusiasmo e gratidão ao Canadá e à equipe da embaixada.
O envolvimento da CIA, contudo, permaneceu um segredo bem guardado até 1997, quando foi finalmente revelado ao público durante a celebração do quinquagésimo aniversário da Agência.
Em 2012, a história foi adaptada para o cinema com o filme Argo, dirigido por Ben Affleck. A produção foi aclamada pela crítica, recebendo vários prêmios, incluindo o Oscar de Melhor Filme e o Globo de Ouro.
O longa-metragem foi criticado por Ken Taylor, o ex-embaixador canadense. Em entrevista ao CTV News, ele disse que seu papel na missão foi minimizado.
"Tony Mendez, tão corajoso e engenhoso quanto seu caráter, ficou lá por apenas um dia e meio", afirmou Taylor. "Após três meses de preparação intensiva para a operação... Acho que meu papel foi um pouco mais do que apenas abrir e fechar a porta da frente da embaixada."
O filme não apenas trouxe à tona a história de um evento significativo da Guerra Fria, mas também destacou a cooperação internacional entre os EUA e o Canadá.
Leia também: Ex-CIA revela como agência contribuiu para golpe contra Allende
Casa dos irmãos Menendez vira pesadelo para vizinhos após série da Netflix
Abdução em Manhattan: A história real da nova minissérie da Netflix
Irmãos Menendez: A outra série que retratou o polêmico caso de Lyle e Erik
Irmãos Menendez: Como foi encontrada a carta que pode tirar Lyle e Erik da prisão?
Gladiador 2: Entenda o que mudou na história de Lucius no novo filme
Irmãos Menendez: Lyle e Erik acreditam que vão sair da cadeia?