Estudo publicado na última semana no periódico Scientific Reports revelou que os registros pré-históricos correm grande risco
Giovanna Gomes, sob supervisão de Thiago Lincolins Publicado em 19/05/2021, às 14h50
A arte rupestre é um importantíssimo patrimônio da humanidade. Ela conta nossa história, revela fatos importantes sobre o que nossa espécie vivenciou antes mesmo de que inventasse a escrita. Os principais desafios cotidianos, como a atividade da caça e, até mesmo, expressões religiosas de nossos ancestrais estão registradas nas paredes das cavernas.
As mais antigas pinturas rupestres que se tem conhecimento estão localizadas na ilha de Sulawesi, na Indonésia. Datando de 45 mil anos atrás, as representações de grandes mamíferos e de criaturas imaginárias ainda guardam inúmeros segredos sobre o ser humano, mas correm risco de desaparecer por completo antes que sejamos capazes de compreendê-las.
Um estudo liderado pela especialista em conservação de arte rupestre Jillian Huntley e publicado no periódico Scientific Reports no último dia 13 de maio, revelou que os desenhos estão desaparecendo em razão das mudanças climáticas que o planeta passa.
A especialista da Universidade Griffith, na Austrália, afirmou que conseguiu evidências de que a fragmentação das rochas tem danificado a arte presente em 11 cavernas de calcário em Maros-Pangkep. Ela explica que o processo, chamado haloclastia, é provocado pela presença de cristais salinos nas estruturas.
Esses cristais tão prejudiciais à preservação das pinturas são formados a partir da água que entra nas cavernas. As rochas absorvem os sais presentes na água, de modo que surgem cristais. O aquecimento e esfriamento do ambiente faz com que eles se expandam e encolham, o que gera estresse na pedra. Com isso, a superfície pode se desfazer.
Em outros casos, os cristais surgem sob o calcário em colunas, de modo a levantar os painéis de arte. Assim, as pinturas desaparecem.
“Nossas análises mostram que a haloclastia não está apenas fragilizando quimicamente as superfícies das cavernas", declarou Huntley. "O crescimento dos cristais salinos atrás das rochas está fazendo com que haja uma descamação."
Segundo a pesquisadora, o aquecimento global pode ser até três vezes mais intenso nas regiões dos trópicos, gerando alterações ainda maiores do que em outras regiões do globo.
“A degradação da arte rupestre deve piorar com o aumento da temperatura global”, afirma Huntley. “As temperaturas ficam mais altas, temos mais dias quentes consecutivos, secas duram por mais tempo, e outros eventos extremos, como tempestades e enchentes, se tornam mais graves e frequentes”, disseram outros autores em artigo presente no The Conversation.
Os especialistas defendem que é necessário realizar mais estudos e trabalhos de conservação não apenas na ilha de Sulawesi, mas também nas demais regiões que sofrem com a possibilidade de ter os registros históricos apagados.
Segundo eles, é preciso documentar as artes já encontradas por meio da digitalização 3D e descobrir o mais rápido possível as demais localidades onde há pinturas rupestres.
Além disso, “se os humanos estão causando esse problema, nós podemos tomar medidas para corrigi-lo”, declararam os autores do estudo, que prosseguem: “Minimizar os impactos das mudanças climáticas ajudará a preservar as incríveis artes rupestres deixadas pelos nossos ancestrais.”
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