Em 20 de janeiro de 1567 portugueses e temiminós expulsaram franceses e tamoios da região da Baía da Guanabara
Fabio Previdelli Publicado em 20/01/2021, às 00h00 - Atualizado em 19/01/2023, às 16h29
Piloto de uma das naus da primeira expedição de reconhecimento do litoral brasileiro, Américo Vespúcio descreveu a chegada ao Rio de Janeiro, no primeiro dia do ano de 1502, como uma imagem “paradisíaca”.
O navegador italiano foi responsável por batizar a Baía de Guanabara de “Rio de Janeiro”. De acordo com os registros históricos, ele foi o primeiro europeu a ter contato com a paisagem carioca.
Entretanto, apesar desse vislumbre, a beleza carioca logo se transformou num cenário de guerra quando os portugueses entraram em conflito com os índios tamoios, que viviam espalhados em centenas de aldeias formadas por cerca de 500 a 3.000 indígenas em cada uma.
Apesar de seus conhecimentos sobre a fauna e flora da região, os nativos acabaram sendo dizimados. Os poucos que sobraram viram suas terras se transformarem em uma cidade. O gigantesco e mortífero confronto ficou conhecido como A Batalha de Uruçumirim, que foi iniciada em 20 de janeiro de 1567.
A cidade do Rio de Janeiro como conhecemos hoje, quiçá nunca existiria — ao menos não com as mesmas características — se o conflito não tivesse o desfecho que teve. Antes disso, em 1º de março de 1565, Estácio de Sá, comandando 220 homens, havia fundado a atual cidade do Rio de Janeiro no sopé do morro do Pão de Açúcar.
Porém, a dominação portuguesa só ocorreu quando o rei de Portugal decidiu enviar reforços bélicos para a colônia dois anos depois. Naquele 20 de janeiro, mais de duzentos homens chefiados pelo governador-geral Mém de Sá e auxiliados por Arariboia — que era o líder dos índios temiminós — chegaram para bater de frente com os tamoios, comandados pelo cacique Aimberê e seu genro francês, Ernesto.
O combate aconteceu, como o próprio nome já supõe, em Uruçumirim — onde hoje é compreendido as praias de Flamengo e da Glória. No início do século 16, os índios do Gato (que depois ficaram conhecidos como temiminós), residiam na Ilha de Paranapuã (atual Ilha do Governador). Porém, como estavam cercados de todos os lados pelos tamioios, uma derrota parecia cada vez mais eminente.
Diante desse cenário, o lider Maracajaguaçu pediu aos portugueses para que os ajudassem a serem levados até o sul do Espírito Santo. O apoio serviu para selar uma duradoura aliança e uma eterna rivalidade contra franceses e tamoios.
Quando a Batalha estourou, em 1567, o terror na Guanabara se estendeu até a Ilha de Paranapuã, durando 48 horas. Durante esse período, os tamoios tiveram suas aldeias atacadas e queimadas, e também foram alvejados com milhares de flechas e tiros de canhão.
Passado esse tempo, o reduto tamoio em terras cariocas tinha ido abaixo. Como se não bastasse, Aimberê e Ernesto foram mortos no conflito, assim como os chefes indígenas de Igaraçu e Pindobuçu.
Sem resistência de seu povo, eles tiveram suas cabeças espetadas em estacas. Os poucos índios que sobreviveram do lado perdedor fugiram e se estabeleceram na região serrana.
Apesar de saírem vitoriosos, os portugueses e os temiminós também sofreram perdas importantes, como o capitão-mor Estácio de Sá, que havia levado uma flechada na face.
Em primeiro momento, exatamente um mês depois, em 20 de fevereiro, ele veio a padecer em decorrência dos seus graves ferimentos, que provavelmente causaram septicemia.
Além de pôr um fim nos tamoios, a Batalha de Uruçumirim também serviu para jogar uma pá de cal nos projetos franceses de criar um novo refúgio calvinista em terras tupiniquins, que havia sido idealizada pelo vice-almirante Nicolas Durand de Villegagnon e reforçada pelo Conde de Coligny.
Um ano e meio depois a brutal Batalha de Uruçumirim ser findada, o governador-geral do Brasil transferiu a sede da cidade para o Morro do Castelo, local que ainda contou com a construção de um forte, onde iniciou-se a povoação, em definitivo, do Rio de Janeiro.
O Morro permaneceu de pé até o início da República, quando foi demolido para fomentar a imagem de ordem e progresso do primeiro mundo e sepultar, de uma vez por todas, a memória do Brasil Colonial.
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