Fotografia no templo Huaca Cao Viejo, no complexo arqueológico de El Brujo, no Peru - Divulgação/Jeffrey Quilter
Arqueologia

Sepultamento Moche de 1.500 anos abriga sacrifícios humanos familiares

Nova análise genética chama atenção ao revelar detalhes ainda não compreendidos sobre a antiga cultura Moche e seus rituais em túmulo de 1.500 anos

Éric Moreira Publicado em 24/12/2024, às 11h23

Um novo estudo genético realizado em um sepultamento no Peru descobriu que dois adolescentes da cultura Moche, um menino e uma menina, foram estrangulados há 1.500 anos como parte de um antigo ritual funerário até então desconhecido. O que chama atenção no estudo é que esses adolescentes eram parentes próximos dos adultos com quem foram enterrados, mas curiosamente foram sacrificados.

Conforme repercute o Live Science, a cultura Moche floresceu ao longo da costa norte do Peru entre 300 e 950 d.C.. Vale mencionar que já era conhecido que esse povo realizava sacrifícios humanos para honrar seus deuses, mas informações sobre possíveis sacrifícios em rituais funerários de pessoas de alto status até então eram praticamente desconhecidas.

A maior parte do que sabemos sobre sacrifícios humanos com os Moche se relaciona a formas muito públicas e horríveis de sacrifício humano", explica o arqueogeneticista da Universidade da Califórnia, Lars Fehren-Schmitz, em e-mail ao Live Science.

Porém, "nenhuma evidência apontou para o sacrifício de parentes próximos ou adolescentes como observamos", acrescenta o pesquisador. "Também não há nenhuma outra observação como essa relatada na literatura arqueológica".

Conforme descreve o estudo recente, publicado na última segunda-feira, 23, no periódico PNAS, as vítimas do sacrifício foram enterradas em uma tumba abaixo de uma estrutura pintada em forma de pirâmide, conhecida como Huaca Cao Viejo, descoberta em 2005 no Peru. Ali, havia restos mortais de seis pessoas, incluindo uma mulher de alto status bem preservada apelidada de Señora de Cao, três homens e os dois adolescentes sacrificados, estrangulados com cordas de fibras vegetais.

Há muito tempo, arqueólogos já presumiam que grupos funerários Moche como este eram compostos por familiares, mas o novo estudo foi o primeiro a comprovar essa hipótese cientificamente.

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Reconstruções representando a Señora de Cao / Crédito: Foto por Manuel González Olaechea pelo Wikimedia Commons / Foto por Ozesama via Wikimedia Commons

 

Estudo genético

Ao realizarem análise de radiocarbono nos restos mortais, os pesquisadores descobriram que cinco deles foram enterrados na mesma época, além de que eles compartilhavam uma série de genomas, que permitiram inferir o parentesco biológico e até a criação de uma árvore genealógica.

A Señora de Cao, por exemplo, era parente da adolescente sacrificada, que foi vitimada justamente para ela. Provavelmente, os pesquisadores apontam, elas eram tia e sobrinha.

Outros dois homens que estavam na tumba eram provavelmente irmãos da Señora de Cao, e um deles pode ter sido o pai da menina sacrificada. Já um terceiro homem, que morreu décadas antes dos demais mortos ali encontrado, pode ter sido o pai ou avô dos irmãos.

Por mais que enterrar pessoas relacionadas em um túmulo familiar não seja incomum em várias culturas, o relacionamento entre um dos irmãos da Señora de Cao e sua vítima sacrificial não possui precedentes. Segundo os pesquisadores, o menino adolescente foi sacrificado ao pai.

"Há outros contextos de sepultamento de alto status associados aos Moche onde o sacrifício por estrangulamento foi postulado", acrescenta Fehren-Schmitz. "A ideia é que esta é uma forma mais privada e digna de matança ritual, provavelmente reservada para indivíduos de status social ou religioso/espiritual mais alto".

Agora, o que os pesquisadores pretendem descobrir é o motivo de parentes serem sacrificados na cultura Moche, além de investigar outros sepultamentos de alto status a fim de aferir se o sacrifício familiar era uma prática comum ou não entre a elite Moche.

"Também tenha em mente que as pessoas que organizaram os sacrifícios e enterros não eram as mesmas pessoas que foram sacrificadas e enterradas", acrescenta Jeffrey Quilter, coautor do estudo e curador de antropologia no Museu Peabody de Arqueologia e Etnologia da Universidade de Harvard, ao Live Science. "Então, algum tipo de intriga judicial pode ter levado aos resultados que encontramos nos enterros".

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