Imagens de crânios fraturados encontrados em sítio arqueológico na Espanha - Divulgação/Science Reports/Férnandez-Crespo et al.
Arqueologia

Restos mortais em caverna na Espanha sugerem guerra de 5 mil anos atrás

Sítio de San Juan ante Portam Latinam revelou o que pode ser palco da mais antiga guerra da Europa

Redação Publicado em 06/11/2023, às 11h50 - Atualizado às 11h59

Uma nova análise do sítio arqueológico de San Juan ante Portam Latinam, na Espanha, revelou os restos mortais de pelo menos 338 indivíduos, todos datados do período Neolítico, com marcas de ferimentos por flechas, porretes e outras armas. Logo, esse pode ser o indício de uma das mais antigas guerras do continente europeu, travada há cerca de 5 mil anos.

Segundo Reinaldo José Lopes, da Folha de S. Paulo, o sítio arqueológico se encontra na região de Rioja Alavesa, no país Basco, uma comunidade autônoma na Espanha. O local foi descoberto por acidente em 1985, quando uma retroescavadeira alargava uma estrada e, surpreendentemente, revelou uma sepultura de 20 m² em um abrigo rochoso contendo os restos mortais de centenas de indivíduos.

O grande número de corpos, por sua vez, poderia indicar tanto a ocorrência de uma catástrofe natural, quanto ondas de fome ou doenças. No entanto, uma análise dos indivíduos ali encontrados ajuda a levantar a hipótese de conflito entre grupos rivais: de todos os esqueletos, a grande maioria pertencia a homens e adolescentes do sexo masculino.

Isso sem mencionar que dezenas dos crânios ali encontrados continham ferimentos que dificilmente seriam condizentes com acidentes, e muito provavelmente foram provocados em meio a confrontos entre humanos. Existe também grande ocorrência das chamadas "fraturas de aparar", quando os braços de alguém ficam afetados ao tentar parar um golpe de seu adversário.

O estudo, publicado na Scientific Reports, também descreve marcas de flechadas em diferentes partes dos corpos ali encontrados, bem como mais de 50 pontas de flecha preservadas — estas, por sua vez, ainda feitas de pedra. Considera-se que o conflito ocorreu entre 3.400 a.C. e 3.000 a.C., no período Neolítico (também conhecido como "Idade da Pedra Polida").

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"Não é possível determinar quanto tempo levou para chegarmos ao acúmulo de corpos em SJAPL porque temos uma irregularidade na datação por radiocarbono justamente nessa época, que impede determinar a data com mais precisão", explica a coordenadora do estudo, Teresa Fernández-Crespo, da Universidade de Valladolid, à Folha.

Apesar disso, o fato de que alguns indivíduos mostrem ao mesmo tempo feridas cicatrizadas e sem cicatrizar nos indica que a violência pode ter durado meses", acrescenta.
Imagens de crânios encontrados na Espanha / Crédito: Divulgação/Science Reports/Férnandez-Crespo et al.

 

Guerra mais antiga da Europa?

A junção de todos os elementos descritos no estudo, como os restos mortais ali encontrados, pontas de flecha e os ferimentos nos ossos, de indivíduos que morreram com ferimentos tanto cicatrizados quanto abertos, leva a equipe envolvida a acreditar que o local onde os achados ocorreram pode ter servido como palco para um conflito muito maior e mais duradouro que o usual do Neolítico.

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No caso, por mais que já houvesse outros registros de ataques violentos datados do Neolítico, o registro em San Juan ante Portam Latinam se compara muito mais a guerras. Vale mencionar que os esqueletos apresentavam diversos problemas ósseos e no esmalte dos dentes, o que são indícios de problemas de nutrição daquele grupo.

"Temos dados climáticos sobre a região na época, mas eles não indicam uma piora do clima", afirma Fernández-Crespo. "Parece que, nesse caso, a violência pode estar relacionada a uma competição por recursos, devido à alta pressão demográfica [populações muito numerosas] e a elevada complexidade social observadas ali."

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