Documentos revelam que Cazaquistão sofreu contaminação massiva por testes nucleares e ninguém foi avisado
Redação AH Publicado em 30/03/2017, às 18h29 - Atualizado em 23/10/2017, às 16h35
Em 1956, um teste nuclear na base de Semipalatinsk - a maior do mundo então -, mandou 600 pessoas da cidade de Ust-Kamenogorsk, Cazaquistão, para o hospital. Isso é basicamente o que se sabia até hoje. Mas um relatório recém-descoberto no Instituto de Medicina Radioativa e Ecologia, do Cazaquistão, revelado pela NewScientist, acaba de jogar um bocado de luz nessa história. O governo soviético sabia muito bem das consequências dos testes nucleares atmosféricos à população local, continuou a fazer esses testes mesmo assim e não revelou nada nem a esses moradores nem ao mundo.
Três expedições foram enviadas para a região e detectaram contaminação massiva no solo e alimentos. Um mês após o incidente, a radiação em Ust-Kamenogorsk estava em 1,6 milirems por hora, 100 vezes o limite máximo considerado seguro. Nas zona rural da região, a chuva radioativa continuou por anos. Também descobriram, em suas investigações de 1956, que um teste de três anos antes ainda causava contaminação na cidade Karaul, a mais de 100 quilômetros dali.
As investigações levaram à criação de uma clínica especial para tratar e estudar os contaminados. Que recebeu o nome de Dispensário Anti-Brucelose Número 4. Brucelose é uma doença vinda do gado, que nada tem a ver com radiação. O nome era, não é mistério hoje, um acobertamento do real problema da região.
O dispensário fez suas próprias descobertas. Exames de fezes de fazendeiros nas imediações de Ust-Kamenogorsk revelaram contaminação radioativa, que desaparecia quatro dias após eles pararem de consumir alimentos produzidos localmente. Recomendou a Moscou que se evitassem os testes antes da época de colheita.
Recomendação ignorada - os testes continuaram até 1963 e boa parte da região está entre os locais mais perigosos do mundo em matéria de radiação. "Algumas áreas nunca retornarão ao seu estado natural", afirmou à NewScientist Kazbek Apsalikov, diretor do Instituto de Biofísica de Moscou, que encontrou o relatório. "A situação em outras é incerta e potencialmente perigosa."
O relatório também dá os números exatos do incidente em 1956: 638 internados com envenenamento radioativo agudo, quase cinco vezes os 134 pacientes internados após Chernobyl. O número total de afetados ao longo dos anos, como em Chernobyl, ninguém nunca vai saber. O documento é um de muitos, que sobreviveu à censura e queima de arquivo.
O próprio relatório parece ter tentado jogar panos quentes na situação. Mesmo detectando tanta poluição radioativa, ele menciona tuberculose - e brucelose -, além da péssima alimentação, como possíveis causas para os problemas dos habitantes locais.
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