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Europa

Pesquisadora revela detalhes de como eram as casas dos vikings

Partindo de uma história domiciliar dos vikings, Marianne Hem Eriksen traçou as relações diretas entre a casa, a política e a história dos vikings

André Nogueira Publicado em 04/09/2019, às 09h00

A casa viking, diferentemente do que se espera com uma visão contemporânea, não era um espaço neutro, tendo importante papel no campo político. Ela era considerada estágio primário para legitimar hierarquias, que eram visíveis dentro da distribuição dos espaços.

A pesquisadora Marianne Hem Eriksen se dedicou ao estudo dessas plataformas domiciliares para, a partir delas, como fontes materiais, elucidar o conhecimento sobre a sociedade escandinava.

Numa análise do cotidiano dessas pessoas, foi constatado que não apenas a casa era um espaço político, mas mesmo a categoria da família era mais ampla, não se conformando ao núcleo, mas todo o arredor, com os subordinados, os trabalhadores do campo, os animais, os convidados e os filhos de todo mundo.

E, no campo arquitetônico, as distinções entre esses grupos eram acentuadas: os escravos, por exemplo, moravam em uma sala extra com uma lareira no estábulo da casa, pertencendo espacial e socialmente aos animais.

Reconstituição de casa do tipo longhouse / Crédito: Reprodução

 

Outra característica socialmente relevante é que a casa não compartilhada apenas entre os vivos. Muitos materiais da Idade do Ferro comprovam a regularidade do convívio entre a vida cotidiana dos vivos e sepultamentos domésticos, como bebês enterrados na lareira, ou dentro de vigas.

E, provavelmente, a disposição desses enterros teve muito significado entre os familiares que compartilhavam aquele espaço. "Às vezes as pessoas mantinham os mortos por perto, incorporando-os no espaço vital. Bebês e antepassados podem ter ajudado a proteger a casa, ancorá-la nas histórias locais ou capacitar seus moradores.", disso Eriksen.

Esqueleto de sepultamento no interior do domicílio / Crédito: Divulgação

 

Ao mesmo tempo, a morte é um tema de bastante ansiedade nesse conjunto humano e, na possibilidade da presença dos mortos criar uma situação negativa, parte desse hábito para com os mortos faz parte de um objetivo de controle do limiar do mundo dos vivos. Nesse sentido, era comum nas casas vikings o estabelecimento de pontos de contato com os mortos e, no limite, com o próprio tempo.

Na documentação escrita, há relatos que deixam a entender que o limiar físico da casa tem relação com esse limiar de universos e que passar os limites da casa (“por cima de dobradiças e vigas” ou “sobre a porta”) possibilita o contato com outros mundos.

Os arqueólogos também encontram coisas - como panelas, facas e anéis de ferro - enterradas nas portas ou perto delas. Talvez esses objetos protegessem a casa de poderes e seres externos. E o depósito de artefatos simultaneamente forjou e incorporou um elo entre a vida cotidiana das pessoas e suas casas.

Artefatos enterrados sob a porta de uma casa / Crédito: Divulgação

 

É possível estipular que a relação entre habitantes da casa e seus objetos cotidianos é estritamente intima. Acredita-se que, com a mudança dos ocupantes de um espaço, todos os artefatos são trazidos juntos.

Assim, é possível compreender a sociabilidade e a história dos vikings não a partir de suas guerras ou viagens, mas partindo de uma visão do agente histórico como gerado por uma perspectiva e uma experiência que parte, inevitavelmente, do ambiente domiciliar. Nesse sentido, os recentes esforços para uma História do Cotidiano são bastante caros à historiografia, além de serem interessantes.

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