Salman Rushdie e capa do livro 'Os Versos Satânicos' - Wikimedia Commons
Literatura

Os Versos Satânicos: o livro proibido que voltou a circular depois de 36 anos

Comercialização da obra de Salman Rushdie foi suspensa em 1988, por supostamente ofender e blasfemar a religião islâmica

Felipe Sales Gomes, sob supervisão de Éric Moreira Publicado em 26/12/2024, às 14h17

O romance 'Os Versos Satânicos', de Salman Rushdie, publicado em 1988 e que gerou grande controvérsia por ser considerado blasfemo por alguns muçulmanos, está novamente disponível nas livrarias da Índia, país natal do autor. O livro foi banido há mais de três décadas pelo governo de Rajiv Gandhi, após protestos e tumultos relacionados ao seu conteúdo.

Inspirado na vida do profeta Maomé, o romance provocou uma crise global sobre a liberdade de expressão quando o então líder supremo do Irã, o aiatolá Khomeini, emitiu uma fatwa contra Rushdie, concedendo uma recompensa por sua morte. Essa sentença obrigou o autor a viver escondido por uma década.

Retorno

Há dois anos, Rushdie sofreu um ataque violento durante um evento no estado de Nova York, nos Estados Unidos, que resultou em ferimentos graves e na perda de um olho. O agressor, Hadi Matar, de 26 anos, foi acusado de tentativa de homicídio e enfrenta uma acusação federal de terrorismo.

A volta de 'Os Versos Satânicos' às prateleiras indianas não está diretamente ligada a questões de liberdade de expressão, mas sim a um detalhe burocrático. A ordem original que proibiu a importação do livro não foi encontrada nos arquivos governamentais, o que levou à anulação da reclamação. No mês passado, o tribunal superior de Déli decidiu: "Não temos outra opção a não ser presumir que tal notificação não existe."

Livrarias como a Bahrisons Booksellers, no Khan Market de Nova Déli, já chegaram a vender o livro. Um post na rede social X anunciou: "'Os Versos Satânicos' já está em estoque". Segundo o gerente da loja, as vendas foram surpreendentes, mesmo com o preço elevado de 1.999 rúpias (cerca de R$ 145).

Manasi Subramaniam, editor-chefe da Penguin Random House India, também comemorou o retorno do livro, citando uma frase de Rushdie: "Linguagem é coragem: a habilidade de conceber um pensamento, de falar-lo e, ao fazê-lo, tentar-eis a verdade".

Atratividade

A curiosidade em torno do livro também atraiu novos leitores. Dilip Sharma, de 22 anos, estudante de literatura inglesa, disse ao The Guardian: "Ouvi falar de 'Os Versos Satânicos' durante toda a minha vida. Queria lê-lo por curiosidade. É quase surreal vê-lo na livraria, como encontrar um unicórnio".

Por outro lado, o retorno do romance gerou indignação em algumas organizações muçulmanas. Grupos como o All India Muslim Jamaat pedem o restabelecimento da destituição, argumentando que o livro desrespeita o Islã e ameaça a harmonia social em um país onde 14% da população é muçulmana.

“O livro é profundamente ofensivo às islâmicas, e nenhum muçulmano pode tolerar vê-lo em livrarias”, afirmou Maulana Mufti Shahabuddin Razvi Barelvi, presidente da organização, em entrevista ao The Guardian.

Rushdie defende consistentemente que 'Os Versos Satânicos' é uma obra de ficção e não contém material ofensivo.

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