A múmia de Tjuyu - Wikimedia Commons
Múmias

O mistério da múmia de Tjuyu, bisavó de Tutancâmon

Tradicionalmente, egípcios são representados com cabelos escuros; no entanto, a descoberta dos restos mortais da nobre colocou colocou a afirmação em dúvida

Isabela Barreiros Publicado em 05/06/2020, às 07h00

A família de Tutancâmon é uma das mais buscadas por egiptólogos de todo o globo. Como ele é considerado um dos faraós mais importantes do Egito Antigo, não é surpresa que pesquisadores queiram saber tudo sobre de onde ele veio e sua árvore genealógica completa. Ainda que muitos parentescos sejam apenas suposições devido à falta de evidências, esse trabalho continua muito importante.

Ainda não se tem nomes prováveis para a mãe do faraó menino. O que se sugere é que ela tenha sido a múmia que hoje conhecemos como Dama Jovem, encontrada no túmulo KV35 no Vale dos Reis. A avó teria sido a Rainha Tí, mãe do icônico Aquenáton, pai de Tutancâmon. No entanto, a genealogia montada pelos especialistas consegue ir ainda mais atrás no tempo, supondo uma possível bisavó do jovem governante.

Acredita-se que Tjuyu, cujo nome às vezes é escrito como Thuya ou Thuyu, tenha sido a mãe de Tí, consequentemente a avó de Aquenáton. Nobre egípcia e descendente da rainha Ahmose-Nefertari, casou-se com Yuya, um poderoso cortesão da 18º Dinastia do Egito Antigo. Eles passaram a fazer parte da família real quando a filha, Tí, uniu-se a Amenófis III.

As múmias de Yuya e Tjuyu, respectivamente / Crédito: Wikimedia Commons

 

A nobre provavelmente ocupou diversos cargos ao longo da vida, que durou até 1375 a.C., segundo sugerem egiptólogos, por volta dos 50 anos de idade. Ela deve ter sido parte tanto de organizações religiosas tanto do governo. Entre os títulos que teve em vida, muitos deles estavam relacionados a cultos, como Cantora de Hathor e Chefe dos artistas de Amon e Min.

Além da relação com a religião, ela ainda fez parte de instituições importantes e influentes na 18º Dinastia, como o de Superintendente do Harém do deus Min de Akhmin e de Amon de Tebas, cidade a 800 km do delta do Nilo a sul de Alexandria.

Além de Tí, Tjuyu e Yuya tiveram mais filhos. Anen, que foi carregava os títulos de Chanceler do Baixo Egito, Segundo Profeta de Amon, Sacerdote de Heliópolis e Pai Divino. É possível que eles tenham sido pais de Ay, que foi cortesão durante o reinado de Aquenáton e, posteriormente, se tornou faraó sob o nome de Kheperkheprure Ay. As evidências para tal parentesco, no entanto, são poucas, e não sugerem que Yuya e Ay tenham sido pai e filho.

A múmia

A múmia de Tjuyu foi encontrada pelo egiptólogo britânico James Edward Quibell, em 1905. A equipe, liderada pelo milionário americano Theodore M. Davis, a descobriu quase sem pilhagens no Vale dos Reis, no túmulo KV46, que também guardava seu marido, Yuya. Hoje, os restos mortais da nobre estão guardados no Museu do Cairo, no Egito.

O sarcófago da egípcia foi aberto poucas vezes. Recentemente, uma equipe de TV britânica transmitiu em um programa sua reabertura, revelando uma múmia muito bem preservada que apresentava um detalhe insólito: seus cabelos loiros, também bem resguardados mesmo com todo o tempo que permaneceram ali.

A múmia de Tjuyu com cabelos loiros / Crédito: Divulgação

 

A aparência loira de Tjuyu intrigou pesquisadores. Até onde se sabia, os egípcios tinham cabelos escuros, altamente representados em pinturas, estátuas e simples ilustrações daquela população. A egiptóloga da Universidade Americana do Cairo, Salima Ikram, afirmou: "não temos 100% de certeza se esse é o cabelo original [da múmia]”.

Mesmo que consideremos que as madeixas são de fato da nobre, é possível que elas tenham sido consequência de um processo de clareamento causado pelo natrão, um composto de sódio usado para mumificação. Assim, a substância, que também era usada para descolorir roupas, pode ter transformado o cabelo escuro em loiro acidentalmente por conta do procedimento, ou pode ter sido realizado de modo deliberado.

No entanto, a pesquisadora Janet Davey, do Instituto Vitoriano de Medicina Forense da Austrália, questionou essa afirmativa em um novo estudo. Para ela, alguns egípcios eram loiros e até mesmo ruivos, mas afirmou que isso era muito raro. Ela colocou "16 amostras de cabelo do povo egípcio" e as mergulhou em cinzas salgadas por 40 dias. O resultado obtido foi que a cor não foi alterada.

Para Davey, isso era “muito raro” e possivelmente aconteceu mais durante o período greco-romano no Egito, entre 332 a.C. e 395 d.C. Ainda assim, o mistério de Tjuyu permanece: será mesmo que a bisavó de Tutancâmon era loira? Ou isso foi apenas consequência de um processo de mumificação? Os egiptólogos até hoje não conseguiram obter uma resposta definitiva.


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