Após 350 anos em solo dinamarquês, manto sagrado tupinambá finalmente retornou ao Brasil; porém, chegada ainda não é celebrada pelos indígenas
Éric Moreira Publicado em 16/07/2024, às 10h08
Após mais de 300 anos na Dinamarca, um manto tupinambá sagrado levado do Brasil à Europa finalmente retornou ao seu país de origem, depois de anos de reivindicação pelo povo indígena Tupinambá de Olivença. No entanto, o retorno ainda não é razão completa para celebração.
Segundo o The Guardian, o Museu Nacional do Rio de Janeiro confirmou o recebimento do artefato, vindo diretamente do Nationalmuseet, o Museu Nacional da Dinamarca. Porém, as lideranças Tupinambá de Olivença reclamam que, até agora, seguem impedidas de fazer os rituais necessários para receber a relíquia, considerada sagrada por eles.
Estou feliz porque o manto voltou ao Brasil, mas estou triste porque houve falta de respeito ao povo Tupinambá e à nossa ancestralidade", afirma em entrevista a Tiago Rogero a líder do povo Tupinambá de Olivença, a cacique Jamopoty Tupinambá. "Eles tratam o manto como um objeto, mas para nós é um ancião, um ancestral".
O manto tupinambá, feito com aproximadamente 4 mil penas do pássaro íbis escarlate (parecido com um pequeno flamingo), foi angariado pela Dinamarca em 1689, embora alguns acreditem que pode ter sido levado até 50 anos antes. Segundo Jamopoty, sua mãe lhe dizia que seu avô e bisavô lhe disseram que, desde que a peça foi tomada, "a aldeia enfraqueceu": "Eles acreditavam que um dia ela voltaria para fortalecer a aldeia".
Desde 2000, o possível retorno do manto ao Brasil é uma questão levantada, mas só no ano passado o museu dinamarquês anunciou que doaria o artefato ao nosso Museu Nacional. E por mais que o órgão tivesse se comprometido a avisar os Tupinambá de Olivença sobre os passos referentes à repatriação, a comunidade só foi avisada da chegada depois de quatro dias.
Quando você conhece um ancião, você pede a benção dele", explica Jamopoty. "Foi isso que queríamos fazer com nosso ancestral assim que ele pisou em solo brasileiro. Queríamos realizar nossos rituais, com canções e incenso usando nossas ervas… Teria sido um momento especial para fortalecer nossa identidade".
+ Líder indígena diz ter falado com manto tupinambá levado para a Europa
No entanto, após a denúncia dos Tupinambá de Olivença, Alexander Kellner, diretor do Museu Nacional, justificou as medidas tomadas, alegando que a peça permaneceu em "um país com condições climáticas muito diferentes há pelo menos 350 anos". Por isso, ela ainda "precisa de um período de adaptação para sua segurança".
Ainda assim, graças às reclamações, Jamopoty disse que o Museu Nacional os convidou a visitar a peça nas próximas semanas. Vale mencionar que o Museu Nacional está em reconstrução desde 2018, quando sofreu um incêndio que destruiu grande parte de seu acervo. Além disso, um relatório de 2018 indicou que ainda existem, por toda a Europa, outros 10 mantos tupinambás espalhados, mas ainda sem indicação de que possam retornar ao Brasil.
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