Manto Tupinambá - Divulgação/Museu Nacional da Dinamarca
Brasil

Manto Tupinambá retorna ao Brasil após séculos na Dinamarca

Artefato sagrado veio de Copenhague, Dinamarca, e agora integra o novo acervo do Museu Nacional, reforçando a luta indígena

Gabriel Marin de Oliveira, sob supervisão de Éric Moreira Publicado em 10/07/2024, às 19h59 - Atualizado em 11/07/2024, às 08h41

Após três séculos em Copenhague, um manto sagrado do povo Tupinambá finalmente retornou ao Brasil nas últimas semanas. A peça, que deve integrar o novo acervo do Museu Nacional, foi cedida pela Dinamarca sob sigilo, marcando um momento histórico para a cultura e a luta indígena no país.

O manto, que mede 1,2 metro de comprimento e é feito de penas vermelhas de guarás fixadas em fibras naturais, foi considerado um artefato sagrado pelos Tupinambás. Usado em rituais por caciques e líderes indígenas, ele carrega uma profunda importância espiritual e cultural. Glicéria Jesus da Silva, artista plástica e uma das líderes do povo Tupinambá em Olivença, Bahia, destacou o significado do retorno do manto, à Folha de S.Paulo: "Essa é uma peça sagrada para o nosso povo, carrega nossa ancestralidade."

A relíquia estava na Dinamarca desde 1689, conforme registros oficiais do Museu Nacional da Dinamarca, e a doação ao Brasil resulta de uma negociação iniciada há menos de dois anos, envolvendo o Museu Nacional Brasileiro, a Embaixada do Brasil na Dinamarca, o Itamaraty e líderes indígenas brasileiros. A demanda pelo retorno da peça começou em 2000, mas foi só em julho de 2023 que a Dinamarca anunciou a doação, iniciando um complexo processo de transferência.

A decisão dinamarquesa ocorre no contexto de um movimento global de devolução de artefatos históricos a seus países de origem por museus na Europa e nos Estados Unidos. No entanto, no caso do manto tupinambá, a doação não é considerada uma devolução, já que não se sabe exatamente como o artefato chegou à Europa.

A chegada do manto ao solo brasileiro tem um significado muito importante e vai fortalecer a luta dos povos indígenas", reiterou Glicéria Tuminambá, líder indígena.

Atualmente

Segundo a Folha de S. Paulo, o manto passa por um processo de desinfestação com anóxia atmosférica. Embora o Museu Nacional não tenha confirmado oficialmente a chegada da peça, a expectativa é que o manto seja apresentado ao público em um evento no final de agosto, com a participação de autoridades e líderes indígenas.

O curador das coleções etnográficas do Museu Nacional, João Pacheco de Oliveira, garantiu que os tupinambás terão acesso ao manto para realizar os rituais devidos antes de sua apresentação à sociedade.

O retorno do manto é visto como um símbolo de fortalecimento da luta do povo Tupinambá pela demarcação de sua terra indígena em Olivença, Bahia. "O processo de restituição do manto tupinambá representa uma oportunidade histórica na luta pelo território do povo Tupinambá", afirmou Daniela Alarcon, doutora em antropologia pelo Museu Nacional, à Folha.

A volta da peça ao Brasil não só enriquece o acervo cultural do país, mas também simboliza uma vitória significativa na luta pela preservação e reconhecimento das tradições e direitos indígenas.

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