Arqueólogos encontraram túmulos de 2 mil anos no que pode ser a necrópole de animais mais antiga do mundo
Redação Publicado em 07/08/2021, às 08h00 - Atualizado em 01/11/2022, às 16h31
Em 2011, escavações realizadas em uma região próxima ao antigo porto romano de Berenice, na costa do Mar Vermelho, revelaram esqueletos de pequenos animais. A descoberta foi feita ao acaso, já que o local geralmente era escavado por ter sido um lixão no passado, guardando restos da sociedade egípcia.
Com o tempo, os pesquisadores começaram a se deparar com um grande número de restos mortais, o que os surpreendeu. Ainda assim, sua importância não tinha sido compreendida por completo. Foi quando os cientistas entraram em contato com a arqueóloga Marta Osypinska, especialista em zooarqueologia.
Na época da descoberta e nos anos seguintes, a equipe de Osypinska, que se tornou líder do projeto, não considerou que tinham acabado de encontrar um cemitério de animais de estimação, que eram, de fato, cuidados por seus donos.
A primeira hipótese dos pesquisadores foi a de que os bichos tinham sido jogados como lixo no local, sem muita consideração. A ideia persistiu, porém, por pouco tempo, pois eles logo perceberam que os esqueletos representavam muito mais que isso.
Em janeiro deste ano, os especialistas publicaram suas considerações sobre o caso no periódico World Archaeology. No estudo, eles apontam que podem estar errados: na verdade, é possível que esta seja uma necrópole de animais. Mais que isso: a mais antiga necrópole de animais do mundo.
Conforme noticiado pelo portal Livescience, os pesquisadores identificaram nas escavações mais 585 esqueletos de animais. Entre eles estavam 536 gatos, 32 cachorros, 15 macacos, uma raposa e um falcão.
O mais interessante é que muitos dos restos mortais foram enterrados em túmulos individuais, colocados nas covas aparentemente bem preparadas. De acordo com Osypinska, alguns esqueletos foram encontrados cobertos com pedaços de cerâmica ou tecido, “que formavam uma espécie de sarcófago”.
Eles não eram mumificados, como muitos dos animais do Egito Antigo encontrados nos últimos séculos, mas tiveram seu local final preparado por humanos. Outro exemplo é o de um cachorro grande que "foi enrolado em uma esteira de folhas de palmeira e alguém colocou cuidadosamente duas metades de um grande recipiente (ânfora) em seu corpo".
Além dos caixões improvisados, a arqueóloga também ressalta a presença de colares em alguns dos animais. Muitos dos felinos contavam com colares de ferro ou conchas, adornos especiais feitos para eles. Segundo, Osypinska, "às vezes muito preciosos e exclusivos".
De acordo com os exames realizados nos animais, a maioria morreu de ferimentos ou doenças. Já os cães pareciam ter falecido devido à idade, apresentando falta de dentes e doenças de degeneração articular.
"Temos animais velhos, doentes e deformados que precisavam ser alimentados e cuidados por alguém", explica a pesquisadora. Isso indica que os bichos eram, de fato, cuidados por seus donos, visto que conseguiram chegar a tal idade e ainda foram enterrados caprichosamente.
Os animais podem ter oferecido serviços aos seus donos, mas essas provavelmente não foram suas maiores contribuições; gatos e cachorros deformados não conseguiriam fazer muito trabalho, mas ainda assim tiveram seus locais reservados no cemitério.
Essas particularidades podem indicar que os antigos egípcios tinham animais de estimação, um conceito que pode não ser tão moderno quanto imaginávamos, conforme o estudo.
Para Osypinska, “eles não estavam fazendo isso pelos deuses ou por qualquer benefício utilitário”. "Pensamos que em Berenice os animais não eram sacrifícios aos deuses, mas apenas animais de estimação", destaca.
A pesquisadora acredita que, ao contrário, a relação dos egípcios com seus animais era “surpreendentemente próxima” da que podemos observar nos dias de hoje. Ela diz: "nossa descoberta mostra que nós, humanos, temos uma necessidade profunda da companhia de animais".
“Nunca encontrei um cemitério como este. A ideia de animais de estimação como parte da família é difícil de alcançar na antiguidade, mas acho que eles eram [família] aqui", afirmou Michael MacKinnon, zooarqueólogo da Universidade de Winnipeg.
Com cenas inéditas, 'Calígula' volta aos cinemas brasileiros após censura
Jornalista busca evidências de alienígenas em documentário da Netflix
Estudo arqueológico revela câmara funerária na Alemanha
Gladiador 2: Balde de pipoca do filme simula o Coliseu
Túnica atribuída a Alexandre, o Grande divide estudiosos
Quebra-cabeça: Museu Nacional inicia campanha para reconstruir dinossauro