Localizado na fronteira entre Síria e Iraque, região é uma das mais importantes do Crescente Fértil no Oriente Médio
Fabio Previdelli Publicado em 13/05/2020, às 17h33
Um estudo publicado na revista Bioarcheology of the Near East revela as características da população que foi enterrada na necrópole de Tell es-Sin — um local bizantino datado entre os séculos 5 e 7 — localizado na Síria, na margem esquerda no Rio Eufrates.
O sítio abrange uma área de 25 hectares e fica localizado no meio de uma área que serviu como passagem para os antigos exércitos bizantinos e persas sassânidas — na atual cidade de Deir ez-Zor, fronteira entre Síria e Iraque.
O espaço é considerado um kastron, ou seja, um posto avançado com funções administrativas e militares. O tamanho do sítio, sua estrutura urbana e sua natureza fortificada sugerem que lá seria uma velha polis cujo nome ainda é desconhecido.
Tell es-Sin é uma das necrópoles mais importantes do Crescente Fértil no Oriente Médio, “mas muito pouco se sabre sobre isso”, observam os autores — Laura Martínez (da Faculdade de Biologia da Universidade de Barcelona) e Ferran Estebaranz Sánchez (da Faculdade de Biociências da Universidade Autônoma de Barcelona).
Como Ferran Estebaranz Sánchez explicam, “as amostras de Tell es-Sin constituem um conjunto heterogêneo e tendencioso de restos esqueléticos que correspondem a tumbas saqueadas ao longo do tempo”. Usando métodos biométricos tradicionais, este estudo antropológico queria fornecer informações sobre sexo, idade da morte, altura e outras variáveis morfológicas dos indivíduos encontrados no local.
A amostra analisada, apenas uma pequena parte do número total de enterros de Tell es-Sin, inclui restos humanos de dez hipógeas escavados pela missão sírio-espanhola. No total, foram analisados 71 indivíduos (pelo menos dezoito corresponderiam a homens e doze a mulheres).
Segundo os especialistas, não foi observado nenhum viés em relação ao sexo ou à idade nos restos estudados e destaca a falta de crianças em comparação com outros locais — elas poderiam ter sido enterradas em outros espaços na entrada da tumba.
Além disso, há pelo menos um a cinco indivíduos enterrados em cada nicho (a média é de três corpos, incluindo subadultos e adultos), de acordo com o modelo típico de enterro coletivo da Síria antiga.
Apesar do estado fragmentado dos restos, a equipe conseguiu estimar a altura da maioria dos indivíduos. “A altura média estimada dos ossos longos do membro superior foi de 1,74 para homens e 1,59 para mulheres”, comenta Estebaranz Sánchez.
Ademais, cerca de 33% dos indivíduos apresentaram alterações dos ossos cranianos tradicionalmente associadas à anemia ou deficiência de ferro, raquitismo, infecção ou outras condições inflamatórias.
A prevalência de doenças articulares degenerativas também foi baixa, aponta o estudo. Em relação à amostra odontológica, apenas 2,8% dos dentes apresentavam cáries — valor claramente inferior ao de outros locais bizantinos contemporâneos da região.
O fim do assento Tell es-Sin, no primeiro quarto do século 7, coincidiu com as guerras contra os persas sassânidas e as tribos árabes do Islã. Apesar das condições do depósito Tell es-Sin e da situação atual na região — após a ocupação pelo ISIS —, a descoberta e escavação de túmulos são cruciais para aprofundar o conhecimento dessa população.
“Por esse motivo, atualmente estamos analisando o padrão oral para poder inferir a dieta da população e, assim, concluir o modelo biocultural das populações fronteiriças com os grandes impérios da antiguidade”, concluem Laura Martínez e Ferran Estebaranz Sánchez.
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