Pablo Picasso com um de seus últimos trabalhos - Getty Images
Europa

Eletricista de Pablo Picasso é condenado por ter mantido 271 obras do artista em segredo

Por mais de 40 anos, Pierre Le Guennec e sua esposa Danielle afirmaram que receberam o acervo como uma recompensa. Filho do artista nega

Fabio Previdelli Publicado em 22/11/2019, às 08h00

Uma disputa judicial que durou uma década finalmente chegou ao fim. De um lado estava Pierre Le Guennec e sua esposa Danielle. Durante a década de 1970, Pierre foi eletricista do pintor Pablo Picasso, de quem alegou ter ganhado 271 obras do artista espanhol como uma forma de recompensá-lo por seu leal serviço.

Do outro estava Claude Ruiz Picasso, filho de Pablo, alegando que as produções do pai foram roubadas da família por Pierre, que sempre negou a acusação.

Como a disputa começou?

Em 2010, após quase 40 anos da morte do artista, Pierre revelou que tinha um acervo que Pablo havia lhe dado e pediu para Claude autenticar as obras. Legalmente, qualquer produto relacionado a Pablo Picasso só pode ser comercializado com um certificado de autenticidade.

Claude confirmou a veracidade das peças, mas estranhou o fato de que elas não tinham nem a assinatura nem a data de produção, algo que, para a família, é considerado inconcebível. Assim, ele suspeitou que as obras fossem fruto de um roubo à família Picasso.

Avaliado entre 74 e 98 milhões de dólares (aproximadamente R$ 412 milhões) o acervo possui uma peça do famoso Período Azul de Pablo Picasso, seis pinturas de óleo sobre tela, nove colagens cubistas, 28 litografias e alguns cadernos com esboços que são datados entre 1900 e 1932.

O Velho Guitarriste Cego, obra de Pablo Picasso de 1903 do famoso Período Azul / Crédito: Wikimedia Commons

 

Três dias após o encontro, a polícia chegou à residência dos Le Guennec e prenderam as peças. Assim, uma grande disputa judicial se arrastou por anos. “Se você vir a propriedade dos Picasso e disser que essas obras caíram do céu ou foram adquiridas no bricabraque, há poucas chances de alguém acreditar em você”, disse Jean-Jacques Neuer, advogado da família.

Em seu primeiro depoimento, Pierre Le Guennec afirmou que Pablo havia lhe dado as obras no final de sua vida. No entanto, em outro depoimento — já no tribunal de apelação — ele alegou que as peças faziam parte de uma grande coleção da viúva do artista, Jacqueline Rosa.

Ela teria pedido que o eletricista escondesse as peças após a morte do artista, em 1973. Le Guennec disse ainda que ele guardou mais de uma dúzia de sacos cheios de obras não assinadas do espanhol e que, mais tarde, Jacqueline havia as pego de volta, deixando somente um dos sacos para ele e dito: “Fique com isso, é para você”.

Pablo Picasso e seu filho Claude Ruiz Picasso quando criança / Crédito: Getty Images

 

Pierre disse que tudo isso foi motivado pelo desejo de Jacqueline que queria manter a última sacola de obras de arte de seu enteado, Claude.

Condenação

Em 2015, os dois foram condenados em primeira instância e um ano depois, após um recurso, voltaram a ser condenados. Mas em dezembro de 2016, o Supremo Tribunal francês anulou a pena sob a alegação de que o Tribunal d’aix em Provence não tinha demonstrando provas suficientes de que as obras eram “provenientes de um roubo”.

O tribunal de Recurso de Lyon confirmou esta semana a sentença do Tribunal de Grasse, de 2005, que prevê a pena de dois anos de prisão. “É o triunfo da verdade e o fim de uma mistificação”, reagiu Jean-Jacques Neuer, advogado do filho do pintor, Claude Ruiz-Picasso.

Pierre Le Guennec mudou seu  discurso inicial e disse que as obras lhe foram dadas por Jacqqueline Roque, segunda esposa de Pablo Picasso / Crédito: Getty Images

 

Neuer também disse que o casal de idosos fazia “o papel que as mulas desempenham no narcotráfico”, alegando que traficantes ricos de obras de arte tentavam explorar o casal.

O eletricista (de 80 anos) e sua esposa (de 70), não estiveram presentes no julgamento. Apesar de sempre terem alegado inocência em todo o episódio, a versão do casal não pode ser confirmada, já que Jacqueline Roque faleceu em 1986.

arte Pablo Picasso Claude Ruiz Picasso Pierre Le Guennec cultural briga judicial

Leia também

Com cenas inéditas, 'Calígula' volta aos cinemas brasileiros após censura


Jornalista busca evidências de alienígenas em documentário da Netflix


Estudo arqueológico revela câmara funerária na Alemanha


Gladiador 2: Balde de pipoca do filme simula o Coliseu


Túnica atribuída a Alexandre, o Grande divide estudiosos


Quebra-cabeça: Museu Nacional inicia campanha para reconstruir dinossauro