O jovem congolês Moïse Kabamgabe - Divulgação/ Arquivo Pessoal
Brasil

Caso Moïse: Prefeitura sugere que família assuma quiosque em área ligada à escravidão

Local é reconhecido pela UNESCO como único vestígio material por onde chegaram os africanos escravizados nas Américas

Fabio Previdelli Publicado em 14/02/2022, às 10h30

Após o assassinato do jovem congolês Moïse Kagabamge — que foi espancado até a morte depois de ir cobrar o pagamento de seu salário atrasado em um quiosque na Barra da Tijuca —, a prefeitura do Rio de Janeiro tinha a ideia de transformar estabelecimento onde o crime aconteceu em num memorial à cultura africana

Entretanto, o locatário de um dos quiosques informou que não cederia o estabelecimento para a família de Moïse. Com isso, as autoridades locais passaram a procurar outras regiões para a realização do projeto. 

Ao UOL, a Secretaria Municipal de Fazenda e Planejamento informou que uma dessas áreas fica na região de Cais do Valongo, localizada na zona portuária da capital carioca. O local é reconhecido pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) como um Patrimônio Histórico da Humanidade por ser o único vestígio material por onde chegaram os africanos escravizados nas Américas no século 19. 

"A Prefeitura do Rio está em contato com a família de Moïse e discute a melhor solução para eles. Não vemos impedimento para que assumam um outro quiosque, se assim desejarem, podendo ser no Recreio, Parque Madureira ou até mesmo no Cais do Valongo. Os detalhes estão sendo discutidos em conjunto com a Orla Rio, concessionária que administra os quiosques", informou a prefeitura em nota. 

Desistência dos quiosques

Conforme informou o UOL, a família de Kabagambe acabou desistindo de ficar com os dois quiosques (Biruta e Tropicália — onde o crime aconteceu) na Barra da Tijuca por medo de represálias. 

Afinal, o quiosque Biruta, atualmente, é comandado por um policial militar junto a sua irmã. Além do mais, a concessionária Orla Rio, que administra mais de 300 quiosques no Rio, entrou com um pedido de reintegração de posse contra o Biruta, visto que o PM Alauir Mattos de Faria, que toma conta do local, é um ocupante irregular. 

"A família desistiu por medo, principalmente, porque um dos donos disse que não sairia do local. Eles sabem de outros quiosques vazios, agradeceram à Orla Rio e [dizem] que aceitariam outro quiosque na orla", explicou Rodrigo Mondego, representante legal da família de Moïse.


O caso Moïse

No último dia 24 de janeiro, o jovem congolês Moïse Kagabamge, de 24 anos, foi espancado até a morte depois de cobrar o pagamento de seu salário atrasado. Ele trabalhava no Quiosque Tropicália, que fica próximo ao Posto 8, na Barra da Tijuca, Rio de Janeiro.

Conforme relatado pela equipe site do Aventuras na História, três suspeitos de terem assassinado o congolês foram presos preventivamente sob acusação de homicídio duplamente qualificado — por morte por meio cruel e impossibilidade de defesa da vítima. 

Gravações de câmeras de segurança apontam que o fatal episódio durou cerca de 15 minutos. De acordo com relatos de sua mãe, Ivana Lay, o filho iria cobrar o valor de dois dias de trabalho que não lhe haviam sido pagos.

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