Em entrevista, Peter Freestone deu detalhes sobre os momentos finais de um dos maiores nomes da música, morto há 28 anos
Fabio Previdelli Publicado em 25/11/2019, às 08h00
Peter Freestone foi assistente de Freddie Mercury por doze anos. Ele viu o líder do Queen chegar ao auge de seu sucesso como artista, mas também acompanhou o artista em sua luta para escolher os sinais da devastadora doença que o vitimou.
"Quando comecei a trabalhar como seu assistente, ele costumava sair todas as noites, porque a vida é para viver, você sabe. Você nunca sabe quando isso vai acabar", disse Freestone para a jornalista da BBC Lucy Williamson. "Lembro quando ele me contou, em 1987. Ele disse que tinha aids e que isso era tudo: 'Não vamos falar sobre isso novamente'."
O assistente revelou que Freddie queria que as pessoas ouvissem suas músicas sem imaginar que ele estava passando por um momento difícil ao conviver com uma doença incurável. "Esta é uma das razões do porque ele guardou para si mesmo. Nem mesmo sua família sabia dos detalhes até o último ano de sua vida. A banda sabia, eu acho, desde 1990".
"Se olharmos para trás, lembraremos que a doença nem tinha nome antes de 1984. Quando ele soube que estava doente, apenas um de seus amigos mais próximos havia morrido de aids."
Bissexual assumido, Mercury viveu em um período em que o HIV começou a se espalhar em Londres. Naquela época, sabia-se muito pouco sobre o vírus e, como consequência, o tratamento era oferecido muito tarde, fazendo com que, muitas vezes, fosse ineficaz.
Freestone diz que os familiares e amigos de Freddie só souberam da verdade quando o sistema imunológico do artista já apresentava sinais de colapso.
Mercury se trata em casa
Nos meses finais de sua vida, o cantor colocou um cateter venenoso central, no qual era medicado três vezes ao dia. "Em vez de ir ao hospital, Joe Fanelli [cozinheiro da casa] e eu aprendemos a dar-lhe os medicamentos. Nós também nos tornamos seus enfermeiros."
O assistente revela que o músico nunca ficou deprimido por causa da sua condição. "Era um fato para ele. Não fazia sentido perder tempo tentando descobrir como ele se contagiou, onde ou quando."
Em outubro de 1989, Freestone recebeu o conselho da equipe médica para se preparar diante de uma eventual morte do cantor até o natal daquele ano. No entanto, Freddie lutou contra a doença por mais dois anos.
No seu último anos de vida "ele não mostrava mais a energia que costumava ter". Seu estado o deixou debilitado, mas isso não o impediu de continuar fazendo o que amava. "Ele conseguiu gravar quatro faixas completas para a banda. Ele queria deixar o máximo de músicas possível, com as quais poderia trabalhar depois que se aposentasse", explica Peter.
Seu último pronunciamento
Peter conta que algumas horas antes de morrer, Freddie decidiu que faria uma declaração pública para confirmar sua doença. “Tudo bem, todo o planeta já suspeitava, mas pouquíssimas pessoas sabiam com certeza que ele tinha aids".
O vocalista sabia que quando morresse, sua doença se tornaria pública. "A última coisa que ele queria é que pensassem: 'Freddie Mercury morreu com um segredo obscuro e sujo'. Então, ele pensou que desta forma poderia ajudar outras pessoas, reconhecendo publicamente que ele tinha aids, que era algo que poderia afetar qualquer pessoa no mundo”.
Freestone releva que Mercury escreveu a declaração apenas 48 horas antes de sua morte. "Ele não sabia, ninguém poderia saber, que ele morreria no domingo".
"Na sexta-feira, ele teve compostura suficiente para conversar com Jim Beach, o empresário do Queen, por quatro ou cinco horas para concordar com o vocabulário que usaria nesses dois ou três pequenos parágrafos. Ele queria que eles fossem exatamente perfeitos."
Confira o pronunciamento de Freddy Mercury feito em novembro de 1991:
"A partir das enormes conjecturas que têm aparecido na imprensa ao longo das últimas duas semanas, gostaria de confirmar que eu sou HIV positivo e tenho aids. Creio que tenha sido correto não publicar esta informação até agora para proteger a privacidade das pessoas ao meu redor. No entanto, chegou a hora de meus amigos e fãs de todo o mundo saberem a verdade. Espero que todos se unam a meus médicos e todos os outros no mundo que lutam contra esta doença terrível. Minha privacidade foi sempre algo especial para mim e eu sou famoso por dar poucas entrevistas. Por favor, entendam que continuará sendo assim".
Os últimos momentos de Mercury
Peter explica que durante a última semana de vida do artista, sempre houve alguém com ele 24 horas por dia, e que três pessoas revezaram para passar a noite cuidando do cantor. A sexta-feira foi a vez de Peter. "Ele estava deitado e eu sentei ao lado dele e segurei sua mão."
"Ele dormia e acordava, de novo e de novo. Eu apenas segurava sua mão para que ele soubesse que havia alguém o acompanhando, que ele não estava sozinho", disse."Uma das últimas coisas que ele me disse, e é uma daquelas coisas que eu lembrarei para o resto da minha vida, foi 'obrigado'. Eu não sei se ele disse obrigado por estar com ele naquela noite ou pelos 12 anos anteriores".
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