Entre 1836 a 1838, após a revolucionária descoberta dos primeiros microscópios acromáticos, as primeiras células neuronais foram observadas e descritas
Coluna - Fabiano de Abreu, neurocientista Publicado em 18/05/2021, às 10h26
Nomes como Christian Gottfried Ehrenberg (1795–1876) e Gabriel Gustav Valentin (1810-1863) estavam entre os pioneiros da descoberta. Este último ficará para a história por ter descrito pela primeira vez a estrutura interna do neurônio como o núcleo e nucléolo.
Jan Evangelista Purkinje (1787-1869), começou a estudar os neurônios no cerebelo e relatou as suas observações já no ano de 1837. Segundo as suas palavras essas estruturas eram como aglomerados de belas células em forma de gota e notou que havia processos elongados fibrosos em sua proximidade.
Nada disso seria possível sem o uso do micrótomo, do bicromato de potássio e do bálsamo de Canadã, na preparação das lâminas histológicas para a microscopia.
Por sua vez, Purkinje propôs que poderia haver alguma conexão entre os filamentos de Remak, que falarei a seguir, e os corpos dos "glóbulos" nucleados.
Robert Remak (1815-1865) descreveu no longínquo ano de 1836 como o sistema nervoso parecia estar inteiramente tomado por uma rede fina e extremamente complexa de processos filamentares.
Foi ainda pioneiro a descrever a existência de dois tipos de processos: os mielinizados e os não mielinizados. Remak sugeriu que as fibras encontradas nos nervos poderiam ser processos que se iniciavam nestas células nervosas, os neurônios, que podem ser encontradas na medula e no cérebro.
Por volta de 1850, a descoberta do vermelho de carmin, um corante brilhante obtido de alguns insetos foi mais uma revolução. Este produto foi usado pelo italiano Alfonso Corti (1822-1876) e pelo alemão Joseph von Gerlach (1820-1886), este último conseguiu obter as imagens mais claras de neurônios pela primeira vez.
Em 1840, Adolph Hannover (1814-1894), descobriu um fixador mais eficiente do que o álcool para o sistema nervoso, o ácido crômico e no mesmo século, o desenvolvimento dos primeiros corantes sintéticos à base de anilina, contribuíram grandemente para o melhoramento das técnicas neurohistológicas.
Mas foi em 1863, que Otto Friedrich Karl Deiters (1834-1863), usando tanto o ácido crômico quanto o vermelho de carmin, conseguiu estudar a constituição celular detalhada do sistema nervoso.
Foi o primeiro a desenvolver a técnica de microdissecção para isolar neurônios sob o microscópio. Desta forma Deiters conseguiu obter as imagens mais claras e completas dos neurônios até aquela época.
Comprovou ainda que existiam dois tipos de ramificações das células, ligados ao soma: um que era mais arborizado, com muitos ramos finos e curtos, que ele chamou de "extensões protoplasmáticas", e outro, na forma de uma fibra mais longa e calibrosa, com menor número de ramificações, que ele denominou de "cilindro axial".
Estas estruturas foram confirmadas por muitos outros microscopistas, e somente receberam o seu nome atual cerca de 20 anos depois, respectivamente "dendritos" em 1889, pelo anatomista suíço Wilhelm His (1831-1904), e "axônios" em 1896, pelo anatomista alemão Rudolph Albert von Kölliker. A célula em si foi batizada em 1891, com o nome de "neurônio", por Heinrich Wilhelm von Waldeyer (1836-1921).
Deiters sugeriu pela primeira vez, que as terminações dos axônios pareciam se fundir com os dendritos de outras células formando uma espécie de ponte, ou anastomose. Joseph von Gerlach propôs que os impulsos nervosos recém-descobertos por seus colegas alemão Emil du Bois-Reymond e Julius Bernstein, propagaram-se de célula para célula através desses filamentos.
Desta forma o cérebro se apresentava como uma gigantesca rede, ou retículo, com um número assombroso de tais filamentos interconectados em um sincício.
Foi então que 70 anos depois de Galvani ter proposto a primeira teoria cientificamente factível sobre como funciona o tecido neural, uma imagem fascinante começava a tomar forma.
Todas as funções neurais, e possivelmente a própria mente, pareciam ser o resultado da transmissão febril de mensagens elétricas por todo esse gigantesco sincício, em analogia com a rede de telegrafia que já havia se estabelecido firmemente ao redor do mundo por esta época.
Os impulsos nervosos, que já se sabia serem "tudo ou nada", como sugeriam as pesquisas de um fisiologista norte-americano, Henry Pickering Bowditch (1840-1911), poderiam ser os pontos e traços das mensagens sendo transmitidas. Seria a tarefa principal da neurociência nos séculos seguintes entender esta linguagem, de forma tão completa quanto possível, da mesma forma que Champollion havia decifrado os hieroglifos egípcios.
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