O pai da menina pretendia jogar suas cinzas no mar, mas o bombardeio fez com que a urna funerária tivesse outro destino
Ingredi Brunato, sob supervisão de Thiago Lincolins Publicado em 25/10/2022, às 18h03 - Atualizado em 17/11/2022, às 09h54
Quando uma de suas gêmeas veio a óbito apenas dois dias após o nascimento, o capitão Yeoman Albert Thomas Dewitt Wagner, que pertencia às Forças Navais norte-americanas, decidiu que o bebê merecia um enterro no mar.
Ele planejava jogar as cinzas da filha no oceano quando o USS Utah saísse de viagem, e, por esse motivo, mantinha a urna funerária dentro do encouraçado, em sua cabine, à espera de uma oportunidade para a realização do ato simbólico.
Quando o Japão decidiu fazer um ataque surpresa ao Pearl Harbor em 1941, que era a base militar onde a nau estava aportada, a despedida pretendida pelo marinheiro foi para sempre impossibilitada.
Isso porque o USS UTAH foi nada menos que o primeiro dos 18 navios afundados durante o bombardeio. Ele foi atingido por três mísseis aéreos logo no início da investida bélica, lentamente capotando para o lado no decorrer dos próximos 14 minutos.
461 tripulantes foram capazes de escapar durante o naufrágio, principalmente devido ao sacrifício de homens como Peter Tomich, que teria feito o que podia para manter as cadeiras estáveis durante o desastre, e afundado junto do navio, conforme lembrado pela CNN.
Entre os sobreviventes, estava Yeoman Wagner, que teria acabado de tomar café da manhã quando os caças japoneses chegaram. Segundo relatado pelo homem em seu diário, ele pulou na água e nadou até a terra firme, onde se abrigou dentro de uma vala de esgoto.
Projéteis e bombas explodindo por toda parte com baforadas de fumaça e chamas enchendo a atmosfera, os aviões japoneses voando bem acima do nosso fogo, alcançando seus objetivos e se aproximando da morte certa — vários aviões se lançaram contra os navios, sabendo que era impossível fazer o seu retorno", escreveu o marinheiro no documento a respeito do que lembrava da batalha.
Foi apenas mais tarde que Wagner percebeu que, em sua fuga frenética, acabou deixando um pertence valioso para trás — os destroços da embarcação, que levou consigo as vidas de 58 integrantes da Marinha estadunidense, acabaram se tornando também o local de descanso das cinzas da filha recém-nascida do marinheiro.
As ruínas amassadas nunca puderam ser içadas do mar, e já foram visíveis na costa do Havaí, que teria sido visitada com frequência pelo capitão durante sua vida, conforme relatado por sua outra filha, Mary Dianne Wagner Kreigh, ao antigo jornal Star Bulletin em uma matéria dos anos 2000.
A mulher, que foi a gêmea que sobreviveu, expressou tranquilidade em relação ao enterro que sua irmã acabou recebendo:
Não acho que haja melhor homenagem à minha irmã gêmea do que ter todos aqueles homens maravilhosos e corajosos protegendo-a. Teria sido maravilhoso se ela tivesse vivido, mas como ela não viveu, não sinto nada além de orgulho e prazer por ela estar em uma companhia tão magnífica. Eu não poderia ter pedido nada melhor do que ela ser cuidada com ternura e cuidado pelos melhores da América", concluiu Mary Dianne através de uma ligação.
Atualmente, o memorial USS Utah se encontra no local para manter vivas as memórias das vítimas do ataque, porém, ainda de acordo com a norte-americana, infelizmente seu pai nunca teve a oportunidade de ver a inauguração do local, uma vez que sua última visita foi em 1971, e a construção do monumento ocorreu em 1972.
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