Em entrevista exclusiva, o professor Dr. Celso Ramos Figueiredo Filho, da Estácio, sanou dúvidas sobre o assunto; confira
Penélope Coelho Publicado em 12/02/2022, às 06h00
O ano 2022 promete ser importante na política no Brasil, já que em outubro a população brasileira irá às urnas para escolher qual será o presidente do país pelos próximos quatro anos.
No entanto, por muito tempo a votação no Brasil foi diferente de como conhecemos hoje, especialmente antes de o voto ser declarado secreto, com as legislações instituídas em 1932.
No início do século 20, quando falamos da Primeira República, o Brasil viveu períodos conturbados com o fenômeno chamado de coronelismo, uma prática que foi capaz de definir os rumos políticos do país.
Em entrevista exclusiva ao Aventuras na História, o Prof. Dr. Celso Ramos Figueiredo Filho, da Estácio de São Paulo, deu detalhes sobre o assunto — que ainda hoje pode gerar muitas dúvidas.
Segundo Celso, o coronelismo foi um fenômeno complexo, inserido na sociedade brasileira nas décadas iniciais do século 20. O coronelismo está relacionado ao mandonismo local praticado por coronéis, fazendeiros ou proprietários de terra em relação a seus funcionários, evidenciando um vínculo de poder.
“Desde os primórdios da República, e durante boa parte do século 20, os trabalhadores rurais no seu conjunto formavam a parcela da população economicamente ativa mais desprotegida em termos legais e trabalhistas”, revela Filho.
Sendo assim, essa relação fixou a ideia dos proprietários ricos, violentos e opressivos, mas, que ao mesmo tempo eram fiéis aos seus compromissos políticos da região.
Com essa justificativa, os coronéis passaram a controlar e fiscalizar o processo político por benefícios que enxergavam. Exigindo que os eleitores da região seguissem a decisão que foi imposta, criando o chamado ‘curral eleitoral’.
Mas, afinal de contas, como os coronéis conseguiam exercer esse poder? Segundo o historiador, a força desse setor era mais evidente nas “relações sociais e políticas que mantinha na sua localidade e com autoridades do seu estado” do que na “opressão que exercia sobre sua parentela”.
Ele [coronel] reunia em si uma mistura de astúcia, com uma inigualável capacidade de influência e ascensão sobre a população do seu município. E tudo isso somado à grande habilidade em tecer alianças políticas no seu estado”, afirma.
A relação em questão se baseia no modelo de arranjo político chamado pelos historiadores de ‘política dos governadores’. Ou seja: “o coronel estava em aliança com o governador, e este, por sua vez, com o governo federal”.
“Trata-se da troca mútua de apoios políticos entre a Presidência da República e os governadores estaduais, de forma a que cada um preservasse sua esfera de poder”, explica Celso.
Apesar da ideia de ter ocorrido somente na zona rural, de acordo com Figueiredo, o coronelismo se espalhou por todo o território nacional.
Mas, em cada região tinha suas características, dependendo das tradições político-sociais e também das condições geográficas. No Sul, por exemplo, eram chamados de ‘caudilhos’.
Em todos esses casos, é importante ressaltar, que o coronel, ou o caudilho, não estava necessariamente vinculado a um partido político ou uma ideologia específica. Ele podia assumir, ao sabor das circunstâncias [...] O que caracterizava o fenômeno do coronelismo era, sobretudo, a personificação na sua pessoa do poder de Estado. Ele protege sua população – ao seu modo, é claro – e em troca exige fidelidade. E é o que ele espera do governador”.
De acordo com o professor, no entanto, uma crise na Primeira República começou a estremecer a prática. Com a revolução de 1930 veio a definição de outro modelo de Estado e arranjos políticos, com isso, o coronelismo foi enfraquecendo ainda mais.
Foram várias as causas da crise [...] destacamos as disputas políticas em nível nacional envolvendo outros setores e o cada vez mais influente setor da burguesia industrial, que disputava poder com as oligarquias agrárias”, explica.
O historiador continua: “Outro fator que levou ao desgaste do coronelismo, foi o gradual crescimento dos centros urbanos e, ainda que incipiente, modernização da sociedade brasileira. Isto levou ao desenvolvimento de uma classe média, que exigia transparência nas ações do Estado”.
Apesar de todos esses anos, ainda existem dúvidas se a prática do coronelismo é capaz de exercer influência dias atuais, principalmente nas áreas mais remotas do país. Segundo Celso, algumas práticas se assemelham sim ao passado:
É inegável que a tentativa de compra de votos persiste em várias regiões empobrecidas do país [...] as instituições brasileiras precisam avançar muito no sentido de assegurar efetivamente o livre exercício da consciência por todos os cidadãos brasileiros”.
Entretanto, a situação atual é diferente. O professor reitera que nesses quase 100 anos, o país já avançou muito na transparência eleitoral:
“Concluindo, ainda é um país injusto, mas já não é mais o Brasil dos coronéis, apesar de tudo”, finaliza.
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