Kurt Cobain em apresentação do Nirvana - Divulgação / YouTube / MTV
Música

Símbolo dos anos 1990: Relembre a trajetória da banda Nirvana

Liderada por Kurt Cobain, a banda foi um ícone do movimento grunge no final do século 20

Gabriel Ferreira | @santanagabriel Publicado em 13/08/2022, às 13h00 - Atualizado às 13h01

No final dos anos 1980, mais especificamente em 1987, surgia um conjunto musical, ainda sem nome, com a dupla de amigos Kurt Cobain e Krist Novoselic, que se conheceram no outono de 1985. Os dois eram colegas de escola na cidade de Aberdeen, em Washington, nos Estados Unidos. Kurt era vocalista e guitarrista, já Krist era o baixista da banda. 

Dizem que não foi logo de início que os músicos se entenderam musicalmente, mas o objetivo inicial era buscar um baterista. Aaron Burckhard chegou a tocar com o grupo, mas ficou pouco tempo, sem nem fazer parte da primeira tentativa de gravação deles. 

Entre as trocas de percussionistas, surge a busca do vocalista Kurt no equilíbrio dos elementos da banda, rendendo o nome “Nirvana”, termo budista relacionado a paz espiritual através da sabedoria, mas que mudaria através da ascensão do conjunto.

Os primeiros bateristas foram Dave Foster e Dan Peters.  A demissão de Dave inclusive é relatada em uma carta que ficou no diário de Kurt Cobain que está disponível no livro “Diários”. Kurt tinha o hábito de escrever cartas, mas nunca as entregava. Em um trecho do diário ele reclama da indisponibilidade do então baterista para ensaiar cinco vezes na semana, questão que Kurt dizia ser indispensável para o êxito de uma banda. 

Antes de se chamar Nirvana a banda passou por outros nomes, como Skid Row, Pen Cap Chew, Bliss e Ted Ed Fred. Mas o primeiro lançamento com o nome definitivo ocorreu em 1988, através do selo Sub Pop, com o cover de “Love Buzz”, gravada originalmente pelo grupo "Shocking Blue” em 1969. 

Primeiro LP

Em junho de 1989 lançaram o disco de estreia do Nirvana, "Bleach", também pela Sub Pop. O álbum, apesar de ter sido bem recebido pelas críticas, não alcançou as paradas musicais americanas. 

Em declarações de Kurt Cobain, o músico afirma que a Sub Pop queria fazer o álbum em uma pegada grunge, mas essa não era a vontade do vocalista, inclusive ele precisou descartar faixas com uma pegada pop que estaria no trabalho da banda. 

Uma das faixas cortadas foi “Big Long Now”, que acabou entrando posteriormente no álbum "Incesticide", uma coletânea de 1992. “Bleach” contém 13 faixas de letras raivosas e negativas. O nome do álbum foi inspirado em um cartaz de prevenção à AIDS. O poster aconselhava os usuários de heroína a alvejar as agulhas antes de utilizá-las, por isso o trabalhou ganhou o título de “Bleach”, termo para “alvejante”, em inglês. Anteriormente, o projeto se chamaria “Too Many Humans”. 

Uma curiosidade interessante envolvendo o disco é que custou 600 dólares a produção dele, que foi patrocinada por um fã chamado Jason Everman. O Nirvana, como forma de agradecimento, colocou Jason como guitarrista secundário e até sendo creditado no álbum, mas a verdade é que ele não fez parte das gravações. 

Apesar do projeto não ser o mais popular do Nirvana, acabou se tornando o mais famoso da gravadora Subpop, com mais de 2 milhões de cópias vendidas. Nessa época Dave Grohl ainda não estava na banda, então quem tocou a bateria foi Dale Crover e Chad Channing. Dessa forma ambos são creditados no disco.  

A capa do álbum é uma fotografia com Novoselic, Cobain, Channing e Everman, que foi tirada por uma namorada da época de Kurt chamada Tracy Marander durante uma apresentação. Tracy teria sido a inspiração para a composição da música “About a Girl”. 

Sucesso mundial

No ano de 1991 foi lançado o segundo álbum de estúdio do Nirvana, “Nevermind”, que é considerado o maior álbum da banda e um dos maiores da história do rock. O disco vendeu mais de  26 milhões de cópias. A capa icônica do disco foi eleita pela Rolling Stone como a melhor capa de álbum de todos os tempos. Foi feita pelo fotógrafo Kirk Weddle com um bebê pelado em uma piscina, perseguindo um dólar. 

Para este trabalho, o grupo assinou com a gravadora Geffen Records. O “Nevermind” também faz parte da lista dos duzentos álbuns do Rock and Roll Hall of  Fame. O projeto é marcado pela entrada do baterista Dave Grohl.

O disco contém 13 faixas.  Entre canções mais fortes como “Stay Away” e “Territorial Pissings”, mas também não ficaram de fora baladas como "Something in the Way” e “Come As You Are”. Um grande sucesso presente no álbum também é “Polly”, que conta a história de uma vítima de esturpro. 

A faixa de maior sucesso é “Smells Like Teen Spirit”, considerado o primeiro grande hit da banda e consagrado Cobain como voz de uma geração. O single ainda liderou a parada Billboard Hot 100, a mais importante dos Estados Unidos. 

Uma grande inspiração para o disco foi a ex-namorada de Kurt, a baterista da Bikini Kill, Tobi Vail. Duas das faixas que acreditam ter sido inspiradas em Tobi foi “Drain You” e “Lounge Act”. Outra curiosidade é que Dave Grohl namorou a amiga da baterista Tobi Vail, Kathleen Hannah

Apesar de ser um disco de grande sucesso e responsável pela ascensão meteórica da banda, ele também acabou sendo responsável pelo declínio, visto que essa tremenda fama dos músicos acabou afetando a saúde mental do vocalista. 

No ano seguinte ao sucesso de “Nevermind” foi lançado o “Incesticide” em 1992. O material é de faixas inéditas, relançamentos e covers. O álbum não teve muita divulgação, visto que a gravadora tinha medo de causar uma exaustão de Nirvana após o grande sucesso do disco anterior.  Um dos destaques do disco de 1992 é a nova versão que a música “Polly” recebeu, além da inédita “Sliver”, contando com a filha Frances Bean, de Cobain, recém-nascida no clipe.

Obra final

O último trabalho de estúdio foi lançado foi “In Utero”, em 1993; o conceito do álbum é pautado no ponto de vista de Kurt em relação a fama da banda conquistada em “Nevermind” e também sobre a sua vida pessoal. 

Tudo isso afetou muito Kurt, que além de estar casado com Courtney Love, mergulhou nas drogas. O músico tinha muita dificuldade com todo esse holofote sobre ele em meio ao sucesso.  Dessa forma o cantor usou disso para transpor as emoções em composições que compõem esse disco.

“In Utero” demorou cerca de 10 dias para ser gravado, mas engana-se quem pensa que apesar do período curto tenha sido fácil para os músicos. Kurt teve ataques de choro e episódios de crise criativa.

Uma curiosidade interessante envolvendo o disco é que ele parte dele começou a ser desenvolvido no Brasil, mais especificamente no estúdio da BMG do Rio de Janeiro. Os trabalhos no estúdio duraram cerca de três dias durante o período em que a banda estava em terras tupiniquins para a realização do festival Hollywood Rock. As sessões começavam por volta das 16h e seguiam madrugada adentro. 

A gravadora não estava gostando muito do resultado, inclusive exigiu a troca de nome. Antes de “In Utero”, o álbum se chamaria “I hate myself and I wanna die” (“Eu me odeio e quero morrer”, em tradução live) .

Com a insistência da gravadora e pressão dos outros colegas de banda pelo título forte, Cobain acabou cedendo e trocou para o título. Os problemas não pararam por aí; escolha de single também foi uma questão muito pensada, até que as escolhidas foram “Heart-Shaperd Box” e “All Apologies”. 

Em entrevista para a Rolling Stone, o produtor Steve Albini explicou que neste trabalho a banda tinha o objetivo de soar mais poderosa: “O primeiro disco deles foi uma versão bruta e punk do que eles fizeram no estúdio; o segundo foi mais polido e mais profissional, com uma produção mais pop. Neste, o conceito principal era uma gravação de alta qualidade, mas de forma bastante natural. Menos estilizada do que a anterior e menos primitiva que a do primeiro disco. Essa foi a ideia”, explicou o produtor. 

A gravadora não deu um tempo limitado para que eles gravassem. A gravadora, aliás, ficaria feliz se a banda passasse vários meses trabalhando no disco. A ideia era  uma gravação bem básica e natural. E isso simplesmente não demanda tanto tempo para ser feito”, acrescentou Steve.

O produtor ainda revelou a relação de Kurt com os outros membros da banda durante a gravação do álbum e também o estado que o vocalista se encontrava nas gravações. Steve disse: "Obviamente se sabe que ele tinha problemas com drogas, mas durante o período em que gravamos o disco ele estava muito produtivo, muito limpo.. (...) “ No período em que estávamos fazendo o disco, tudo parecia ir bem. Todos se davam bem, havia muita camaradagem entre nós”.  

Declínio do líder 

A relação do vocalista com as drogas já vinha a um longo  tempo, porque em 1992, um dia antes da banda performar no programa “Saturday Night Live”, o músico passou por uma overdose de heroína. No dia anterior a apresentação televisiva, Kurt participou de uma sessão de fotos com o fotógrafo Michael Lavine, conforme informações do livro “Heavier Than Heaven: Mais Pesado que o Céu", só que durante a sessão, o cantor cochilou bastante, porque ele já tinha ingerido uma grande quantidade de substâncias ilícitas.

Passando por momentos turbulentos com sua saúde mental, no dia 5 de abril de 1994, Kurt Cobain se suicidou. O músico só teve o corpo encontrado dias depois, em sua residência na região de Seattle, nos Estados Unidos, com uma arma ao lado do corpo e com a cabeça ferida. Além disso, foi encontrada uma carta de suicídio no local.

O cantor Mark Lanegan revelou em sua biografia “Sing Backwards And Weep: Memórias”, ele contou que recebeu uma ligação de Cobain no dia em que a perícia constatou que sua morte ocorreu, mas não optou em não atender, porque ele não queria sair de casa, e ele supunha que o amigo queria usar droga, mas Mark estava com pouco dinheiro. 

"Kurt me ligou mais duas vezes nas horas seguintes. Apesar de me consumir com a sensação de que eu era o amigo mais merda do mundo, não atendi, apenas continuei largado pelo lugar com a cueca suja e o robe manchado," explicou Mark Lanegan, vocalista da banda Screaming Trees. O líder do Nirvana deixou uma mensagem na caixa postal do amigo com o seguinte recado: “Ei, cara. É o Kurt. Estou de volta à cidade. O que você está fazendo? Chega mais, vem escutar discos comigo". 

O corpo do vocalista foi cremado no dia 14 de abril de 1994, deixando a esposa Courtney Love a a filha do casal, Frances Bean. Mas se engana quem acredita que a morte foi o fim da polêmica, visto que existem teorias que a morte do músico não foi um suicídio, mas que ele teria sido vítima de um homicídio. 

O detetive Tom Grant, contratado pela viúva, acredita que a morte de Kurt foi vítima de um homicídio, inclusive, com o detetive desconfiando que a própria Courtney esteja envolvida na morte. O argumento usado pelo detetive é que ele estudou a carta deixada por Kurt e que para ele, o músico não teria escrito a carta inteira, mas só parte dela. 

E que justamente a parte de sucidio teria sido escrita por outra pessoa. Só que outros especialistas e autoridades investigaram o caso e não concordaram com a teoria do detetive.  Inclusive policiais de Seattle e o empresário de Nirvana desmentiram a conspiração na época e mantiveram a versão do suicídio.

Pós-Kurt

No mesmo ano da morte de Kurt Cobain, foi lançado o primeiro disco póstumo da banda. Em novembro de 1994, saía o disco ao vivo “MTV Unplugged in New York”. O projeto foi gravado no anterior e a setlist do álbum é composta por músicas da banda e covers.  Entre as releituras que estão no projeto são de David Bowie, Meat Puppets, Vaselines e Leadbelly. 

A banda acabou com a morte do vocalista. Os músicos Dave Grohl e Krist Novoselic, no entanto, continuaram na música. Grohl inclusive criou a banda Foo Fighters, que continua na ativa até hoje e com muito sucesso comercial e de crítica. 

Em 2021, o FBI divulgou documentos sobre a morte de Kurt Cobain. O documento tem 10 páginas e revela cartas enviadas entre 2006 e 2007 com pedidos de reabertura da investigação do caso do Kurt, alegando existir inconsistências em torno da morte do músico. Mesmo assim, o caso permanece fechado.


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