Em um casamento arranjado, mas feliz, a monarca teve uma vida longa, repleta de traumas, perdas, delírios e insanidades
Pamela Malva Publicado em 17/06/2020, às 19h00
Quanto mais velha ficava, mais vestidos pesados e pomposos Dona Maria I era obrigada a vestir. Na cabeça, grandes e volumosas perucas cobertas por coroas e véus delicados. Ela era, ao final das contas, a Rainha de Portugal e Algarves.
Sua supremacia na corte, no entanto, era bastante questionada por um motivo complexo: a saúde mental de Maria I. Nascida em dezembro de 1734, a monarca tinha pensamentos confusos e, ao final da vida, era considerada uma mulher louca.
Ainda assim, antes da coroa, do trono e das roupas extravagantes, Maria Francisca Isabel Josefa Antónia Gertrudes Rita Joana era uma jovem gentil, carinhosa e empática, a herdeira perfeita para continuar o legado da Casa Bragança.
A princesa do palácio
Dona de bochechas rosadas, Maria I era uma das quatro filhas de José I, o Príncipe do Brasil, e Mariana Vitória da Espanha. Quando pequena, caminhava por seus aposentos com tranquilidade e tinha uma infância padrão para a nobreza da época.
Aos 25 anos, como era de costume, foi prometida em casamento. A monarquia, entretanto, demorou um pouco para decidir com quem Maria I assinaria o matrimônio. Pensavam em uni-la com seu tio, Luís da Espanha, ou com o Imperador do Sacro Império Romano, José II.
Por fim, com o objetivo de dar continuidade à linhagem da Casa Bragança, Maria I teve de aceitar o noivado com seu tio, Pedro de Bragança, de 42 anos. A cerimônia Real enfim aconteceu na Real Barraca da Ajuda, em 6 de junho de 1760.
Entre quatro paredes
Uma vez casados, os dois nobres entraram em um casamento harmônico e bastante feliz. Juntos, tiveram seis filhos, dos quais apenas três chegaram à idade adulta. Assim, permaneceram casados e na linha de sucessão do trono por 17 anos.
Foi apenas em 1777, após a morte de D. José I, que o casal de monarcas ascendeu ao trono. Assim, Pedro de Bragança tornou-se Pedro III, o Rei de Portugal e Algarves, enquanto Maria I assumiu o posto de Rainha consorte.
Agora cercados de toda a pompa e circunstância da coroa, o casal parecia ter tudo sob controle. Em meados de 1792, no entanto, um grande obstáculo foi colocado na feliz e elegante vida dos monarcas: Maria I foi diagnosticada como mentalmente instável.
Uma mandante frustrada
Logo depois de receber a conclusão médica, Maria I deixou de ser reconhecida como a Rainha Piedosa e passou a ser chamada de louca. Seus dias eram repletos de insanidades e medos intangíveis. Frustrada, ela sequer tomava seus remédios.
Sem qualquer tipo de tratamento medicinal, o estado mental da monarca só fez piorar. Religiosa como era, Maria I passou a fantasiar que estava no Inferno e tinha surtos constantes. A tão esperada salvação espiritual parecia estar distante demais.
Incapaz de desempenhar qualquer posto político, então, a monarca assistiu de camarote quando seu filho, José, Duque de Bragança, assumiu suas responsabilidades como mandante. À essa altura, Maria I dormia poucas horas por dia e, durante a madrugada, costumava correr pelos corredores do palácio.
Sua situação piorou ainda mais quando seu marido e seu filho faleceram, em 1786 e 1788, respectivamente. Em meados de 1799, Maria I já estava sendo tratada com camisas de força e banhos de água extremamente gelada. Em permanente estado de luto, eventos ou qualquer tipo de entretenimento estavam proibidos no palácio.
Uma viagem não faz mal para ninguém
A cada ano, o trono de Maria I era mais ameaçado e, a fim de evitar ser deposta, a Família Real Portuguesa decidiu transferir-se para o Brasil. Assim, em meados de 1808, os nobres chegaram ao litoral do Rio de Janeiro.
Durante oito anos de sua vida, a monarca viveu infeliz em terras brasileiras. Os surtos psicóticos estavam cada vez piores e o medo de ir para o Inferno era constante. Em 1815, Maria I tornou-se a Rainha do Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves, mas faleceu no ano seguinte, aos 81 anos de idade.
Com sua morte, D. João, seu herdeiro direto, foi nomeado o novo regente. Mais tarde, graças às constantes companheiras da Rainha, o termo Maria-vai-com-as-outras foi cunhado. Segundo Brasil Gerson, a brincadeira fazia referência ao fato de que a monarca era sempre conduzida por suas damas, para onde quer que fosse.
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