Em Pasárgada, o candidato a novo Grande Rei deveria vestir o manto usado por Ciro e mascar galhos de terebinto
Redação Publicado em 07/07/2020, às 08h00 - Atualizado em 14/01/2022, às 08h00
O mistério e a pompa que cercam os rituais, os trajes e as representações da monarquia têm um papel-chave em tornar protagonista a figura do monarca, de modo a distingui-lo de qualquer outro membro da comunidade.
Dessa maneira, as mais diversas práticas análogas presentes no universo monárquico servem não apenas para a criação da personagem do monarca mas também para a tradução da ideologia do império e, assim, comunicar e convencer sua corte, seu heterogêneo corpo de súditos e o próprio rei da sua existência e natureza.
Um exemplo claro dessa ideia está nos rituais monárquicos do antigo império persa (550-330 a.C.), no chamado Oriente Próximo, berço de monarquias despóticas na visão de gregos e romanos. A dinastia Aquemênida experimentou uma ascensão rápida sob a liderança de Ciro II.
Seu projeto imperialista foi levado a cabo por seus descendentes, de modo que em menos de um século o império já se constituíra, tornando-se uma grande potência, e tendo sob seus domínios as regiões da Babilônia e do Egito.
Ao pretendente ao trono da Pérsia como Grande Rei era requerido passar por uma cerimônia real constituída por vários detalhes minuciosos e anedóticos, mas necessários para a transformação da figura do indivíduo como legítimo sucessor de Ciro.
Esse ritual se passava em Pasárgada, antiga capital persa, fundada por seu patriarca, após o triunfo diante dos medos. Plutarco, em sua Vida de Artaxerxes, descreveu o ritual sagrado pelo qual Artaxerxes, sucessor de Dario I, passou para assumir a legitimidade como novo rei persa.
Segundo o relato, em Pasárgada, havia um grande templo dedicado a uma deusa associada à guerra, que de acordo com o biógrafo se assemelharia à deusa grega Atena, onde a cerimônia habitualmente acontecia.
Para o ato, o candidato a novo Grande Rei deveria primeiro adentrar o templo com suas próprias vestimentas e, em seguida, já no interior do recinto, trocá-las pelo mesmo manto usado por Ciro, quando este ascendeu como rei.
Na sequência, assim como teria feito Artaxerxes, o postulante à coroa deveria comer um pedaço de uma espécie de bolo de figos e mascar lascas de galhos de terebinto, uma árvore mediterrânea encontrada nas regiões das atuais Turquia e Síria. Seguindo com o processo ritualístico, o ainda não consagrado rei beberia um copo de leite azedado, sobre o qual não há maiores informações.
Sabe-se que o ritual ainda não estaria completo, e como nos deixou registrado Plutarco, a sequência seria desconhecida e proibida a qualquer um que não fizesse parte desse processo, muito menos a um estrangeiro, como um grego.
Há a possibilidade de que a cerimônia seguisse sob a mesma lógica até aqui, isto é, mediante uma série de atos simples, mas simbólicos. No entanto, o próprio mistério constitui parte do processo de criação do imaginário que cercava o monarca, e isso deve ser considerado.
Em qualquer caso, o que se torna evidente no ritual do rei persa (de acordo com a descrição de Plutarco) é a sua ligação direta com o fundador da dinastia, Ciro, cuja imagem refletida em seus sucessores desde a coroação se comportava como o elemento essencial para a legitimidade e, dessa forma, a garantia de prosperidade do império.
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