Em 10 de maio de 1968, o contido movimento de estudantes que protestavam contra a Guerra do Vietnã acabou se tornando uma das manifestações mais violentas daquele ano
Tarso Araújo Publicado em 15/05/2021, às 09h00
Fazia uma semana que grupos de estudantes secundaristas e universitários se reuniam no Quartier Latin, bairro tradicional de Paris onde fica a Universidade de Sorbonne. Eles protestavam contra a Guerra do Vietnã, o autoritarismo do governo conservador de Charles de Gaulle e a prisão de estudantes em manifestações pela paz.
Até que, no dia 10 de maio de 1968, quando um grupo se reunia com o reitor para negociar a libertação de colegas presos, a minoria revolucionária de estudantes tornou-se, sem aviso ou plano, uma maioria revoltada. Doze mil jovens cercaram a universidade, recusando-se a “circular”, como ordenava a polícia.
Eles levantaram carros, atiraram pedras e coquetéis molotov, cercando os policiais. Ao fim da resistência, não conseguiram vitórias concretas. Mas detonaram uma série de eventos que abalariam o governo De Gaulle. E inspiraram revoltas em todo o mundo, que fariam de 1968 um dos anos mais agitados do século 20.
Confira seis curiosidades sobre a expressiva manifestação.
Para se proteger das bombas de gás lacrimogênio e dos cacetetes da polícia, os estudantes usavam capacetes de moto, pano sobre o nariz e a boca e óculos de mergulho para evitar a irritação nos olhos.
A principal arma dos estudantes foi o calçamento das ruas. As mulheres ajudavam a arrancar paralelepípedos com picaretas e os homens lançavam uma chuva de pedras sobre a cabeça dos guardas. Foram 247 policiais feridos. Um mês depois, os paralelepípedos foram trocados por asfalto.
Outra arma dos jovens foi a palavra. Eles pichavam, nos muros e monumentos do bairro, lemas como “A imaginação no poder”, “Corra, camarada, o velho mundo está atrás
de você”, “Eleição, armadilha para trouxas”, “Somos realistas, queremos tudo” e o clássico “É proibido proibir”, entoado no mesmo ano no Brasil.
Uma tropa de 6,2 mil policiais foi proteger a universidade. Exatamente às 2h, chegou por rádio o comando para atacar: “Primeiro, uma ordem verbal para a dispersão; segundo, intimações; terceiro, pôr em marcha os batalhões. Dispersem todo mundo”. Nenhum estudante morreu no conflito.
Sessenta carros, árvores, grades, pedaços de pau e paralelepípedos formaram as montanhas de até 3 metros de altura. Bandeiras pretas e vermelhas foram fincadas sobre as barricadas, representando o anarquismo e o comunismo. Foram cerca de 21 barricadas grandes e outras 40 em 15 ruas do Quartier.
Embora os operários não costumassem se misturar aos universitários, alguns deles foram fundamentais no dia 10 de maio. Eles providenciaram motosserras para derrubar os plátanos centenários das calçadas do Quartier. No dia 13, cerca de 8 milhões de operários entraram em greve geral por maiores salários e redução da carga horária.
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