Símbolo da língua portuguesa, termo surgiu com as navegações
Lívia lombardo Publicado em 01/08/2006, às 00h00 - Atualizado em 19/10/2018, às 09h59
A história da palavra “saudade” se confunde com a própria história de Portugal. Os primeiros registros do vocábulo datam das cantigas do século 13, período em que a língua falada na região ainda era o galego-português. Nessa época, para expressar os sentimentos decorrentes da ausência do ser amado e do desejo de tê-lo de volta, trovadores como dom Dinis e Joam Zorro utilizaram-se dos vocábulos soidade e suidade, derivações do latim solitate, que significava, inicialmente, isolamento, solidão.
De acordo com Yara Frateschi Vieira, professora de Literatura Portuguesa da Universidade Estadual de Campinas, foi apenas no século 15, com dom Duarte, que a palavra “saudade” definitivamente surgiu e se incorporou à língua e à alma portuguesa. Não poderia haver época mais propícia – o período das grandes navegações e o destino errante do povo português faziam da saudade o principal sentimento tanto de quem partia para as novas descobertas marítimas como para quem ficava esperando em terra firme.
No começo do século 20, durante a Renascença Portuguesa, o sentimento alcançou uma dimensão pretensamente filosófica. O poeta Teixeira de Pascoaes foi quem desvinculou a saudade do passado e a transformou em um sentimento presente – e até futuro. Foi quando ela passou a ser encarada como um motivo de orgulho para povo português. Não seria exagero dizer que hoje a saudade está para Portugal assim como o futebol está para o Brasil.
O rei dom Duarte inventou a palavra “saudade” em Leal Conselheiro, considerado por alguns pesquisadores o primeiro livro de auto-ajuda da literatura portuguesa. Depressivo, inseguro quanto a sua capacidade de governar e obrigado a abrir mão de atividades típicas de um jovem de 22 anos para cuidar dos assuntos de Estado, dom Duarte, no início do século 15, não suportou a pressão e foi assaltado por uma grande tristeza.
Nenhum remédio conseguiu livra-lo do desalento e foi apenas após a doença da sua mãe, Filipa de Lencastre (que morreu em 1415 devido à peste negra), que finalmente conseguiu esquecer a melancolia e resolveu escrever um livro para explicar como se livrou do seu mal, além de dar conselhos aos súditos.
No capítulo “Do nojo, pesar, desprazer, aborrecimento e saudade”, o rei descreve o sentimento como uma aflição da alma entre a tristeza, o nojo e o prazer, inspirando, por vezes, mais tristeza do que prazer e, outras, o contrário. “Sentimos saudades”, escreveu, “pela ausência de um ser ou de um lugar amado”.DOR PARA OS ROMENOS
Há quem diga que apenas o português tem saudades. Mas a palavra romena dor tem significado bem próximo ao da nossa saudade.
DIFERENÇAS SUTIS
Melancolia, nostalgia e saudade são sentimentos diferentes. A melancolia é uma tristeza causada por um passado perdido. A nostalgia é um desejo de voltar ao passado. A saudade é um misto disso tudo – e um pouco mais.
SOLIDÃO ESPANHOLA
O latim solitate originou tanto a nossa “saudade” como a soledad do espanhol. Só que no português o significado mudou. No espanhol, manteve-se o mesmo do latim.Oswaldo Aranha: O brasileiro que presidiu a assembleia que determinou a partilha da Palestina
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