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Segunda Guerra: o legado da engenharia alemã

Inventos simples ou precursores, eles foram adotados pelos exércitos modernos

João Barone Publicado em 01/07/2007, às 00h00 - Atualizado em 23/10/2017, às 16h36

Não se pode falar da engenhosidade das máquinas de guerra nazistas sem mencionar os capacitados soldados que as operavam. Certamente, os engenheiros que conceberam as peças mortíferas sabiam que elas seriam manejadas por soldados extremamente qualificados. Atrás de cada máquina alemã havia um soldado bem treinado e doutrinado para o confronto, em qualquer lugar, a qualquer hora, sob qualquer clima. Não foi por acaso que a Segunda Guerra Mundial se arrastou durante quase seis anos na Europa. Diversas nações tiveram de somar forças para conseguir debelar um exército numericamente inferior, mas altamente treinado e equipado. Mesmo hoje, por mais que custe a destruição de um equipamento militar, não existe perda material superior à perda humana. Um soldado exige tempo para ser preparado, um investimento demorado e muito mais caro do que qualquer máquina que seja fabricada. Assim, o soldado alemão fez valer a máxima de que os aliados lutaram contra o melhor exército do mundo, o que pôde ser comprovado nos campos de batalha.

Algumas idéias hoje empregadas por exércitos de forma corriqueira foram criadas pelos alemães durante a Segunda Guerra. Um exemplo é o uso da camuflagem, seja nas cores e nos padrões dos uniformes, seja na pintura de aviões e de veículos militares. Os alemães foram pioneiros na arte do mimetismo em campo de batalha. Outro exemplo de engenhosidade é o capacete alemão, cujo perfil facilmente identificava o soldado nazista. Era um primor de design, tanto que acabou influenciando o capacete usado na maioria dos exércitos atuais. As abas laterais do stahlhelm (capacete de aço) eram anguladas, de forma que a água da chuva não escorresse para dentro da gola do uniforme. Já utilizado no final da Primeira Guerra, o capacete alemão foi aprimorado e fabricado em larga escala. Pelo seu forte significado simbólico, acabou como um dos souvenirs mais populares do pós-guerra, trazido para casa pelos combatentes aliados como verdadeiro “troféu de caça”.

O jipe alemão conhecido como kübelwagen (ou “carro-banheira”) foi uma genial adaptação do carro popular desenhado por Ferdinand Porsche, numa versão para uso militar, projetado em fins de 1939 e fabricado até o final da guerra. Usando um revolucionário motor refrigerado a ar, foi muito empregado durante a campanha no norte da África, assim como em todas as frentes de batalha alemãs. Pouco mais de 50 mil unidades foram produzidas, ante 700 mil do seu “rival” direto, o jipe americano.

Armas de vingança

Capazes de criar projetos tão simples e eficientes como o capacete de aço ou os caças a jato, os engenheiros militares alemães atingiram o mais alto estágio da tecnologia com as terríveis “armas da vingança”. Pela primeira vez na história, foguetes foram usados para bombardear à distância alvos inimigos. As temíveis bombas V-1 e V-2 foram precursoras dos mísseis de cruzeiro e balísticos. Mesmo com eficácia restrita, se comparadas aos bombardeios aliados sobre a Alemanha, as bombas V-1 e V-2 fizeram mais de 25 mil vítimas civis em cidades da Inglaterra e Holanda. Capturar os cientistas alemães que projetaram esses foguetes virou questão de honra entre os aliados ocidentais e russos. Ao final, Wernher von Braun, pai do projeto V-2, foi capturado pelos americanos e, mais tarde, foi um dos responsáveis pela chegada do homem à Lua, em 1969.

Nos momentos derradeiros da Segunda Guerra, a Alemanha insistia em lutar a qualquer preço, mesmo encurralada em dois fronts, com seu parque industrial reduzido a escombros. Hitler acreditava numa milagrosa reviravolta, baseado em promessas de seus engenheiros e suas máquinas revolucionárias. Em vão.

Muito se falou sobre o programa nuclear dos nazistas. O físico Albert Einstein, já exilado nos Estados Unidos no começo da guerra, escreveu uma carta ao presidente Roosevelt, alertando para a possibilidade de os alemães fabricarem uma bomba atômica. Depois de perder brilhantes cientistas, perseguidos por serem judeus, o programa nuclear alemão ficou defasado e carente de recursos. Outro problema era a obtenção de matéria-prima radioativa, pois o programa era baseado no uso de água pesada, uma substância de complexa fabricação, que utilizava deutério em vez de urânio. O fato é que até a destruição da usina produtora de água pesada num bombardeio aliado, em 1943, o programa nuclear nazista representava uma ameaça real, caso conseguissem material radioativo suficiente para a fissão do átomo. Esse era o maior obstáculo para criar uma bomba nuclear alemã, pois conhecimento eles já tinham. Assim, a humanidade foi poupada de um desfecho diferente para a guerra. Caso os nazistas tivessem conseguido colocar uma ogiva atômica na ponta de um foguete V-2, hoje esta revista, possivelmente, seria escrita em alemão...

João Barone, baterista dos Paralamas do Sucesso, coleciona peças e carros militares da Segunda Guerra Mundial e estuda diversos temas referentes a esse e outros conflitos históricos.

 

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