Meteoro mostra a saga dos que trabalharam pelo progresso de Brasília, mas foram esquecidos pelo governo militar
Tatiana Azevedo Publicado em 01/04/2007, às 00h00 - Atualizado em 23/10/2017, às 16h36
Nova Holanda nem consta nos mapas. É apenas a cidade-satélite do município de Pilão Arcado, onde a Bahia faz fronteira com o Piauí. Pilão Arcado é considerado o povoado mais pobre do Brasil. A partir daí, é possível imaginar a vida em Nova Holanda, fundada no começo de 1960 e que serviu de inspiração para o filme Meteoro, uma co-produção entre Brasil, Porto Rico e Venezuela que chega aos cinemas no fim de abril.
Entre 1956 e 1961, com Juscelino Kubitschek na presidência, teve início o projeto de expansão rodoviária do país, devido principalmente à pressão da indústria automobilística. Além disso, a construção de Brasília exigia estradas para interligar a nova capital aos demais estados.
É aí que começa o filme. Os personagens formam o grupo responsável pela construção da rodovia Brasília-Fortaleza. Depois de desbravar a caatinga no sertão da Bahia, eles têm de interromper seu trabalho quando deparam com dunas que inviabilizam a existência de estradas. Com as atividades suspensas, os operários apenas esperam. Foi assim que nasceu Nova Holanda – e aqui acabam as semelhanças entre a realidade e a ficção de Meteoro.
No filme, após o golpe de Estado de 1964 e a interrupção do plano de expansão das rodovias, os trabalhadores são abandonados. Os militares cortaram suprimentos e salários. Não havia como voltar, então eles tiveram de aprender a se organizar para sobreviver. Sem perceber, fizeram daquele lugar uma espécie de comunidade anarquista, ainda que sem propósitos políticos. Nascia, assim, a pequena cidade de Meteoro. Sua vida seria curta – de 1964 a 1974. A narrativa do filme é leve e mostra os desafios de firmar a existência num ambiente inóspito e esquecido pelo Estado.
De maneira um tanto fantástica, Meteoro recria o drama de pessoas que formaram seu lar em meio ao abandono, sem imaginar os horrores do mundo lá fora – e também sem estarem sujeitas aos desmandos da ditadura militar.
Meteoro
Direção: diego de La Texera
Estréia: 28 de abril
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