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Ocupação da América: a nova face do homem americano

Estudos reforçam a idéia de que os primeiros homens a pisar aqui tinham traços negros

Reinaldo Lopes Publicado em 01/10/2006, às 00h00 - Atualizado em 23/10/2017, às 16h36

Mais do que quando os primeiros homens pisaram na América, o que intriga agora os pesquisadores é qual era a cara desse pioneiro. Ao contrário do que se imaginava, ele não era parecido com os índios de hoje, que têm traços siberianos, conhecidos como “fisionomia mongolóide”. Suas feições eram mais semelhantes às dos africanos.

É o que mostra o estudo que os paleoantropólogos Walter Neves e Mark Hubbe, da Universidade de São Paulo, fizeram de 80 crânios do sítio arqueológico de Lagoa Santa (interior de Minas Gerais), com idades entre 11500 e 8500 anos: os homens tinham feições que lembram as dos atuais povos da África e nativos da Austrália e da Melanésia. Os principais críticos da idéia costumam reclamar que, embora os crânios sejam uma amostra excepcional de uma população dos primeiros tempos do povoamento, eles não representam os outros grupos que ocupavam a América naquela época. Essa teoria, no entanto, começa a cair após a liberação do estudo do chamado Homem de Kennewick, um esqueleto de cerca de 9 mil anos achado em Washington, nos Estados Unidos. Embora descoberto em 1996, ele virou personagem de uma novela judicial (tribos indígenas queriam enterrá-lo, por considerar que ele era seu ancestral) e só foi estudado em 2005. O trabalho do antropólogo Doug Owsley, do Instituto Smithsonian, confirmou o estudo de Neves.

Para encaixar esses dados, Neves sugere que os primeiros americanos eram uma população com feições que ele chama de “australomelanésios” – sujeitos que mantiveram a morfologia original dos primeiros Homo sapiens, de origem africana, e realizaram uma rápida expansão marítima, subindo até a Sibéria e daí para o Alasca e toda a costa do Pacífico, sempre por barco. E os atuais índios? Para muitos pesquisadores, eles teriam vindo de 2 mil a 3 mil anos depois de sua região de origem na Sibéria, aproveitando a abertura do chamado “corredor livre de gelo”, que ligou o Alasca ao Canadá e ao interior dos Estados Unidos há 12 mil anos. Os recém-chegados podem ter exterminado os pioneiros, mas outro trabalho recente, de um aluno de Neves, sugere que pelo menos alguns resistiram até a chegada dos europeus. Trata-se dos botocudos, uma tribo do Brasil Central cujas medidas cranianas são muito parecidas com as do povo de Lagoa Santa.

 

As teorias da ocupação

As duas primeiras rotas são as únicas consideradas pela maioria dos cientistas

Rota siberiana

Caminho a partir do Estreito de Bering, via terra, percorrido pelos mongolóides

Rota costeira

A partir do estreito de Bering, descendo via costa, percorrido pelos africanos

Rota pacífica

Caminho partindo da Indonésia e da Austrália, via Pacífico, até o México

Rota atlântica

Caminho vindo a partir do oceano Atlântico, da Europa

 

Velho é apelido

Pesquisadoras acreditam que América foi ocupada há pelo menos 40 mil anos

Algumas evidências apontam uma colonização mais antiga para a América. Que tal 50 mil anos? Esse é o dado obtido pela brasileira Niède Guidon na Serra da Capivara, no Piauí. Como a data não veio de ossos humanos, mas de carvão vegetal associado ao que a arqueóloga considera ser fogueiras, pouca gente a aceita. A crítica é que o carvão pode ter vindo de um incêndio natural. A pesquisadora também identificou pedras que teriam sido usadas para cortar há 50 mil anos. Data posterior (40 mil anos) foi obtida num sítio do México pela arqueóloga Silvia González, a partir de cinza vulcânica associada a antigas pegadas humanas – outros pesquisadores, analisando os mesmos dados, dizem ter havido erro no procedimento. A polêmica continua.

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