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Óculos

Tinha gente que comprava escravo com olhos bons e que soubesse ler

Bárbara Soalheiro Publicado em 01/06/2006, às 00h00 - Atualizado em 23/10/2017, às 16h36

Três graus de miopia. Hoje, um diagnóstico como esse é bobagem. Afinal, você pode viver normalmente usando um par de óculos. Mas há alguns séculos um problema de visão assim era sinônimo de aposentadoria. O senador romano Marco Túlio Cícero, por exemplo, quase teve que abandonar o emprego quando a idade o impediu de ler sozinho. Como tinha dinheiro, Cícero resolveu o problema do jeito que se fazia na época: comprou escravos que pudessem ler para ele.

As primeiras lentes apareceram no ano 500 a.C. na China – mas, como se acreditava que os problemas de visão eram culpa de espíritos malignos, elas serviam apenas como amuleto. Quase mil anos depois, no século 4, o grego Sêneca, autor de tragédias conhecido por ter lido todos os livros que existiam na época, usava um pote com água para deixar as letras maiores. Foi só lá pelo ano 1000 que as lentes apareceram na Europa. As primeiras, as pedras de leitura, foram criadas pelos monges católicos, dos poucos alfabetizados na época. Cristais de quartzo, topázio ou berilo eram lapidados em forma de semicírculo e polidos. O resultado era uma lupa primitiva, usada em cima do material que se pretendia ler. Outras centenas de anos se passaram até que os homens tivessem a idéia de aproximar a pedra dos olhos. Ou melhor, do olho – os primeiros modelos de óculos, no século 14, eram feitos só para uma vista.

Quando surgiu a versão para dois olhos, tinha o formato de um V invertido. Era preciso segurar as armações com as mãos ou ficar completamente imóvel para que elas permanecessem apoiadas sobre o nariz. Nessa época, óculos eram caríssimos, a ponto de aparecerem listados em testamentos e inventários.

Foi só em 1752 que o inglês James Ayscough criou os óculos com duas hastes laterais. Mas, apesar de terem aberto os olhos de muita gente, os óculos não pegaram de cara. Principalmente na Europa, as pessoas tinham vergonha de aparecer em público usando o acessório. Menos na Espanha – lá, as pessoas achavam que ter um objeto de vidro as deixava com um ar mais importante.

 

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Livro

O texto acima foi retirado do livro Como Fazíamos Sem, de Barbara Soalheiro, Panda Books, 2006

 

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