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Nova York sem graça sem Astroland

Astroland, o mais famoso parque de diversões da cidade americana e berço da montanha-russa, deve fechar as portas

Sara Duarte Publicado em 01/12/2007, às 00h00 - Atualizado em 23/10/2017, às 16h36

Nova York corre o risco de perder um de seus mais famosos cartões-postais. E grande parte de sua graça. O parque de diversões Astroland, coração de Coney Island, não resistiu à especulação imobiliária da cidade. Vendido para a Thor Equities, incorporadora especializada em comprar shoppings falidos e recuperá-los, o lendário berço da roda-gigante, do cachorro-quente, da montanha-russa e daqueles circos de bizarrices deve fechar as portas.

Durante décadas, o distrito de Coney Island foi o grande playground da América. Situado à beira do mar, desde o século 19 era usado como laboratório de novas invenções para entretenimento. A montanha-russa foi inventada ali em 1884 e o Sea Lion Park, primeiro parque de diversões dos Estados Unidos, foi criado em 1895 – o Astroland é de 1962. Dividido em vários parques, como Luna Park, Dreamland e o Steeplechase, no início do século 20 Coney Island já atraía milhares de pessoas. Ali ocorriam espetáculos de massa, como exibições de circo, shows de horrores e projeções cinematográficas. A partir dos anos 60, porém, sua popularidade foi caindo. Além de um incêndio anos antes ter destruído boa parte do local, a Disneylândia começou a roubar sua clientela. A ponto de hoje só abrir diariamente em época de temporada – de abril a setembro.

Segundo a lei de zoneamento de Nova York, o distrito de Coney Island é de uso exclusivo para atividades de lazer. Mas a Thor Equities quer construir ali, entre outros empreendimentos, um edifício de 40 andares e um condomínio de luxo. Para isso, a empresa vem comprando restaurantes, lojas e pequenos comércios localizados na área. O Astroland foi vendido nesse bolo, há um ano, e ocupa um terço da área que a Thor quer construir. “Mesmo que o Astroland feche, Coney Island manterá uma série de atrações históricas, como a roda-gigante Wonder Wheel, a montanha-russa Cyclone, o Aquário Municipal e o circo de horrores Seaside Show”, diz Charles Denson, autor de dois livros sobre o distrito. Isso, no entanto, não contentou os fãs do local. De lá para cá, eles fizeram passeatas, uma petição via internet com cerca de 4 mil assinaturas e apelos públicos para que a prefeitura de Nova York salve Coney Island.

Segundo Denson, ainda há esperança de que a prefeitura negue o alvará para a Thor Equities – assim, a empresa terá de se desfazer do terreno de 40 mil metros quadrados. “Em 1966, Fred Trump, pai de Donald Trump, comprou o parque Steeplechase e teve de revendê-lo porque não obteve permissão para construir”, lembra. O proprietário da Thor Equities, Joe Sitt, acredita que desta vez será diferente. “Vou honrar o espírito de Coney Island transformando a região em um destino de turismo o ano inteiro, e não apenas em época de temporada. Investirei 250 milhões de dólares para construir hotéis, casas, restaurantes, lojas e o mais espetacular parque de diversões do século 21”, diz. O contrato de leasing do Astroland expira em janeiro. O futuro de Coney Island, portanto, é incerto.

 

Invenções de Coney Island

Coney Island é parte da cultura nova-iorquina. Já foi retratado em livros (como Coney Island of the Mind, ou “Coney Island da mente”, do poeta beatnik Lawrence Ferlinguetti, de 1968) e em filmes. Em 1977, Noivo Neurótico, Noiva Nervosa, de Woody Allen, prestou homenagem ao local. E canções como “Coney Island Baby”, de Tom Waits, ajudaram a eternizar o parque. Veja aqui as inovações do local.

Montanha-Russa

O brinquedo nasceu em Coney Island. A primeira, que não tinha nome (era chamada apenas de roller coaster, o nome genérico de montanhas-russas), data de 1884 e era um protótipo experimental. A mais famosa delas, chamada Thunderbolt, criada pelo engenheiro John Miller, foi inaugurada em 1925 e fez sucesso por décadas – foi demolida apenas em 2004.

Circo de horrores

O empresário Samuel W. Gumpertz começou a exibir bizarrices no Dreamland Circus Sideshow, um dos parques de Coney Island. Criou a Liliputia, show com 212 anões. Exibiu índios filipinos, deficientes físicos e membros de tribos africanas. Em 1911, algumas das estrelas eram Ursa (mulher peluda), Bonita (anã gorda), Rob Roy (albino) e Captain Copp (tatuado).

Cachorro-quente

O sanduíche de pão com salsicha teria sido inventado em Coney Island para que as pessoas comessem rapidamente para voltar para a fila dos brinquedos. O imigrante alemão Charles Feltman inventou a receita. Mas foi um empregado seu, Nathan Handwerker, que a aperfeiçoou. Hoje ele dá nome ao Nathan’s Hot Dog Contest, disputa mundial de comedores de cachorro-quente que ocorre no local.

Parada

Entre 1903 e 1954, era tradição sair fantasiado pelo parque em uma espécie de parada conhecida como Mardi Gras, termo em francês que significa “terça-feira gorda” – a terça de Carnaval. Em 1983, a tradição foi retomada com um grupo de drag queens e virou o maior evento de rua de Coney Island, a Mermaid Parade, “parada da sereia”.

 

Acervo

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