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Guerra do Vietnã: erros e deslizes na reta final

Hesitação e vã esperança de um último suspiro

Mauro Tracco Publicado em 01/01/2007, às 00h00 - Atualizado em 23/10/2017, às 16h36

Antes de as operações oficiais de evacuação do Vietnã terem início, a CIA já havia começado a queimar seus arquivos e a organizar vôos secretos para tirar do país colaboradores vietnamitas. O analista da agência Frank Snepp, autor do livro Decent Interval, conta que, no início de abril de 1975, um informante vietnamita, que nunca se enganava, encontrara-o em um bar perto da capital para tomar uma Budweiser e dar a má notícia: os comunistas iriam conquistar a capital Saigon antes do final do mês. Iriam utilizar artilharia pesada, ataques aéreos e não fariam qualquer pausa para um acordo político. Não haveria brecha nem espaço para negociações.

Apesar da proximidade e obviedade da invasão vermelha, alguns americanos e vietnamitas recusavam-se a acreditar nos fatos. O principal personagem desse grupo de crédulos era o embaixador Graham Martin, que fez o que pôde para adiar a retirada. Martin temia que uma evacuação desencadearia cenas de pânico como as vistas em Danang alguns dias antes. Nisso ele estava certo. Porém, o diplomata acreditava em um acordo com os comunistas. Um telegrama enviado por ele em 28 de abril ao secretário de Estado, Henry Kissinger, afirmava que os americanos ainda permaneceriam em Saigon por pelo menos um ano. Errou feio. Ficaram lá apenas mais dois dias.

Apesar da fé de Martin em uma paz negociada, no dia 20 de abril, ele percebeu que a chegada das tropas inimigas a Saigon era inevitável. Após saber da queda de Xuan Loc, o embaixador foi ao Palácio Presidencial conversar com o presidente do Vietnã do Sul, Nguyen Van Thieu. Os comunistas jamais dialogariam com Thieu e, para manter acesa a chama de esperança de uma trégua, Martin convenceu-o a renunciar.

Thieu abriu mão do poder na noite do dia 21, mas não sem espernear e esbravejar contra os americanos. Em seu último discurso público, acusou os Estados Unidos de serem injustos, desumanos e irresponsáveis. “Vocês fugiram e nos deixaram para fazer o trabalho que não conseguiram realizar”, disse.

Para piorar a situação, ele entregou o poder ao vice-presidente Tran Van Huong e não a Duong Van Minh, como se esperava. O “Grande” Minh, como era conhecido, liderava uma espécie de terceira força, neutra, e por isso era aceitável aos comunistas. Com Huong no poder, a situação permanecia exatamente igual – os líderes do norte já haviam avisado que também não dialogariam com ele.

Preparativos finais

Enquanto os defensores do capitalismo batiam cabeça, as preparações para o ataque final estavam bem adiantadas. Paulo Fagundes Vizentini diz, em seu livro Guerra do Vietnã, que mapas militares de Saigon e da região sul do país capturados em Ban Me Thot foram reproduzidos em grande número e a toque de caixa em Hanói. Depois, foram enviados por helicóptero para as linhas de combate que se aproximavam da capital.

O líder dos comunistas em Saigon, Nguyen Van Lihn, apoiado em suas bases na periferia da cidade, preparava a frente interna para a tomada de Saigon com o mínimo de destruição possível. Os invasores queriam evitar combates de rua e poupar a vida da população da cidade. Saigon possuía uma periferia militarmente fortificada, mas seu centro encontrava-se praticamente desguarnecido.

No dia 21 de abril, após a renúncia de Thieu, o ministro da Defesa do Vietnã do Norte, Vo Nguyen Giap, ordenou o ataque imediato à cidade. Ele soube que aquele era o momento perfeito para acabar com qualquer iniciativa do sul. Na mesma noite, o general Van Tien Dung, que se encontrava num quartel a 120 quilômetros de Saigon, deu o sinal verde para suas tropas começarem a ofensiva derradeira.

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