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Grupamento de Mergulhadores de Combate: mortais como torpedos

Os integrantes do Grumec devem estar prontos para, a qualquer momento, realizar missões de altíssimo risco

Roberto Navarro Publicado em 01/05/2007, às 00h00 - Atualizado em 23/10/2017, às 16h36

A noite é de tempestade. No mar revolto, o vento e a chuva forte castigam a enorme estrutura metálica imóvel na escuridão. Localizada em alto-mar, a plataforma de extração de petróleo havia sido tomada poucos dias antes por um comando terrorista desconhecido, e todos os seus tripulantes eram agora reféns. O objetivo dos invasores ainda não está claro, mas teme-se que pretendam usar os reféns para impor exigências políticas e econômicas ao governo brasileiro. Ou pior: podem estar planejando explodir a plataforma e prejudicar a produção brasileira de petróleo.

Os terroristas estão em alerta, mas relativamente tranqüilos. Ninguém se atreveria a tentar invadir o local numa tempestade dessas. Mas, nesse momento, a uns 10 quilômetros dali, 11 duplas de mergulhadores de combate nadam submersos a pouca profundidade. Ocultos pela escuridão e vestindo roupas de neoprene preto, aproximam-se furtivamente da plataforma. Para evitar que os integrantes das duplas se percam um do outro, eles são amarrados pela cintura por uma corda resistente de quase 2 metros. Ao chegar à plataforma, sobem à superfície e usam um equipamento que lança cordas com uma espécie de gancho na ponta, conhecido como fuzil lança fateixa. Cada um deles porta uma submetralhadora de origem israelense mini-Uzi, ideal para tiroteios em espaços exíguos.

Em instantes, um após o outro, os homens alcançam a escada de acesso à plataforma. Quando o primeiro mergulhador chega ao topo, desembainha sua faca de combate e ataca um terrorista de sentinela. Apanhado de surpresa, ele é morto sem reagir. Num piscar de olhos, os pequenos grupos de homens vestidos de preto movem-se pela plataforma e abrem fogo com suas mini-Uzi, atentos para não atingir nenhum dos reféns. Sem demora, tomam os pontos vitais da instalação. Os terroristas são neutralizados e os reféns, libertados. É o fim da ameaça.

Toda a cena narrada até aqui é pura ficção, mas os personagens são bem reais. Eles fazem parte do Grumec, o Grupamento de Mergulhadores de Combate, força de elite da Marinha brasileira treinada para realizar operações especiais. A unidade é subordinada ao Comando da Força de Submarinos, com sede na Ilha de Mocanguê, na Baía de Guanabara. Suas origens remontam à década de 1970, quando a Marinha enviou oficiais à França para treinamento como mergulhadores de combate. A configuração atual do grupo surgiu em 1998, tendo como modelos o comando de elite Seal, da Marinha dos Estados Unidos e, em menor escala, o SBS britânico.

São unidades que quase nunca têm as façanhas noticiadas pela imprensa, porque, em geral, suas ações são altamente secretas, por trás das linhas inimigas. Isso impede a divulgação de mais detalhes sobre os integrantes – suas identidades são cuidadosamente preservadas, e até nas fotos eles só podem aparecer com os rostos borrados. São todos voluntários e, no caso do Grumec, o curso de preparação dura em torno de nove meses, com rigor tal que apenas cerca de 30% dos homens que o iniciam chegam a graduar-se.

E permanecem em constante treinamento, 24 horas por dia, o ano inteiro, para manter os níveis de prontidão, alerta e capacitação exigidos por suas atribuições: reconhecimento de praias sob controle de forças hostis, sabotagem em águas e instalações aquáticas inimigas, preparação de desembarques de tropas anfíbias, supressão de fogo costeiro, espionagem, colocação de minas em instalações portuárias e navios fundeados, abordagem e retomada de embarcações, entre outras ações de altíssimo risco.

RECURSOS ESCASSOS

Apesar de conhecidos como “mergulhadores de combate”, eles são treinados em pára-quedismo, emprego de vários tipos de armamentos e explosivos, luta corpo-a-corpo desarmada e com armas brancas, mergulho de combate, tiro de precisão, técnicas letais para eliminação do inimigo, sobrevivência em territórios hostis, rapel e montanhismo militar. Atualmente, sua principal missão talvez seja a defesa das mais de 100 unidades de extração de petróleo existentes em nossa plataforma continental, algumas em operação centenas de quilômetros mar adentro. Diante da absoluta falta de recursos da Marinha – que não tem verba sequer para comprar o combustível de seus navios –, a única maneira de garantir a segurança dessas instalações em caso de ameaça terrorista é lançar mão desse grupo de abnegados dispostos a cumprir o dever com os recursos disponíveis, seja qual for o preço.

 

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