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Febre amarela: Mal tropical

A febre amarela aterroriza o homem há quase 400 anos

Felipe Van Deursen Publicado em 01/03/2008, às 00h00 - Atualizado em 23/10/2017, às 16h36

O ano começou com centenas de milhares de pessoas amontoando-se em postos de saúde para receber a vacina contra uma doença que há séculos desafia o homem: a febre amarela. A moléstia matou, apenas nas três primeiras semanas de 2008, mais gente que durante todo o ano passado – o que deixou em pânico a população.

As mortes registradas recentemente, no entanto, são irrisórias perto daquelas dos primeiros anos de contato com a doença. Em 2000, ano mais crítico da última década, morreram 42 pessoas em todo o país. Em abril de 1686, em Salvador, meses após a chegada da febre amarela ao Brasil, havia dias em que morriam mais de 200 pessoas. Após o surto, a doença sumiu do país.

A febre amarela é provocada por um vírus e transmitida pelos mosquitos Haemagogus, em áreas rurais, e Aedes aegypti, em áreas urbanas. Segundo o infectologista Stefan Cunha Ujvari, no livro A História e Suas Epidemias, ela surgiu provavelmente nas Antilhas, onde os insetos entraram em contato com o homem. Em 1647, um navio negreiro trouxe a doença ao continente americano. O tráfico de escravos e o próprio trânsito de pessoas espalharam a moléstia. “Em 1800, Napoleão ocupou o Haiti e 23 mil de seus 30 mil soldados morreram. Mais resistentes à doença, os negros de lá conquistaram a independência graças à febre amarela”, diz o médico Joffre Marcondes de Rezende, da Universidade Federal de Goiás.

No verão de 1850, a doença voltou ao Brasil em um navio recheado de pessoas infectadas, matando mais de 10 mil no Rio. Entre 1895 e 1897, a doença foi a que mais matou no país. Três anos mais tarde, em Cuba, o americano William Gorgas descobriu o transmissor da febre amarela e criou a vacina. No Brasil, Emilio Ribas e, depois, Osvaldo Cruz, com sua campanha de vacinação, controlaram o mal.

 

O mundo amarelou

Três grandes momentos da doença no planeta

• Há historiadores que defendem que a febre amarela acelerou o processo do fim do tráfico negreiro, em 1850 – ano em que ela voltou a assolar o Brasil.

• No fim do século 19, países europeus se opunham à partida de cidadãos para o Brasil. Terror dos imigrantes, a doença impediu a vinda de mais europeus para as lavouras de café.

• Junto com a malária, a febre amarela atrapalhou o plano francês de construir o canal do Panamá. Os Estados Unidos, que já sabiam lidar com a doença, apoiaram a independência do país, controlaram a endemia e fizeram a obra, em 1914.

 

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