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Estevão Ribeira: paixão camuflada

Fã de uniformes militares desde menino, ele passou de colecionador a comerciante e hoje se arrisca até a confeccionar fardas

Danila Moura Publicado em 01/05/2007, às 00h00 - Atualizado em 23/10/2017, às 16h36

Senhora, seu filho vai gostar muito de farda”, previu a vidente para a mãe de Estevão Barbosa Ribeira, quando ele era ainda uma criança. A mãe, claro, não se ateve à literalidade da frase, imaginando para o filho uma carreira militar. Nada disso. O fascínio de Estevão pelos fardamentos começou por volta dos 15 anos, ainda em sua cidade natal, Campo Grande (MS), sem que o próprio precisasse envergar uma farda. Hoje, aos 33 anos, ele é colecionador e comerciante. Vive do hobby.

“Naqueles tempos era difícil encontrar roupas camufladas e artigos do gênero. Quando via alguém usando, ficava fascinado. Comecei a pedir para pais de amigos meus que eram do Exército”, conta. Estevão tornou-se conhecido por andar sempre com alguma peça de roupa do Exército e, anos depois, seguindo o conselho de amigos, resolveu abrir uma loja especializada.

Ele roda o mundo para visitar bases militares e outros colecionadores na busca de uniformes alemães, americanos, israelenses, russos, de países do Leste Europeu e orientais. Sua coleção particular também acabou turbinada. “Acho que devo ter mais de cem uniformes, dos mais variados países e divisões. Perdi a conta”, diz. Trajes de mergulho, camuflados, atuais ou antigos abarrotam as prateleiras de sua loja em São Paulo, a US Army. Apesar da variedade, há os preferidos e, conseqüentemente, mais procurados por Estevão em suas andanças. São os trajes americanos da Guerra do Vietnã (sua coleção particular inclui um uniforme completo no estilo Tiger Stripe) e os da Segunda Guerra Mundial. O item mais raro dessa época em suas mãos é um sobretudo Mariner, de 1944. Para adquirir as peças, Estevão diz não se basear tanto na relevância histórica, e sim no visual. Alguns itens, porém, possuem as duas qualidades, como um uniforme original de deserto, camuflado, da SS alemã da década de 1930. Outros exemplos são uma veste completa de pára-quedista do Exército americano, igual aos usados na série de TV Band of Brothers, e um camuflado original da Legião Estrangeira francesa, usado na Indochina nos anos 40 e 50.

Estilista militar

Com a loja, Estevão acabou tendo mais contato com militares brasileiros. Fez amizade, por exemplo, com vários soldados que atuaram na Minustah (sigla em francês para Missão das Nações Unidas para Estabilização do Haiti), comandada militarmente pelo Brasil, e, agora, pretende vender camisetas usadas pelo exército no Haiti.

Recentemente, seu conhecimento sobre fardas rendeu-lhe nova função. O comerciante acaba de confeccionar um uniforme para a Companhia de Operações Especiais (COE) de São Paulo, com camuflagem para uso em operações nas favelas, estampada em tons de cinza (semelhante a concreto) e marrom.

As peças na loja de Estevão são originais ou cópias fiéis. Uma camiseta pode custar 50 reais e uma boina russa, 350 reais. Alguns uniformes completos saem por 200 reais. Os mais procurados são os americanos, seguidos dos alemães. Hoje, por conta das crises no Oriente Médio, camisetas de milícias como o Hamas palestino ou o Hezbollah libanês são muito procuradas. Mas Estevão tenta não causar polêmica. “Tomo cuidado de não colocá-las perto das do Exército israelense”, diz. É o lado triste dos uniformes, a lembrança de que, em muitos casos, simbolizam a desunião dos povos.

 

Serviço

Loja US Army , Avenida dos Imarés, 487, Moema, São Paulo (SP), tel.: (11) 5533-5019

Acervo

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