Ditadura: Visão de um linha-dura
Flávia Ribeiro Publicado em 01/06/2006, às 00h00 - Atualizado em 23/10/2017, às 16h36
"A revolução de 1964 exalou seu último suspiro quando o presidente Médici desceu a rampa do Palácio do Planalto. A partir daí começou a cavilosa contra-revolução branca do general Ernesto Geisel.” A frase sintetiza a essência do livro Ideais Traídos, escrito entre o fim dos anos 70 e o início dos 80 pelo general linha-dura Sylvio Frota, ex-ministro do Exército do governo Geisel entre 1974 e 1977. Os tais ideais traídos foram os do golpe de 1964, que Frota chama de “revolução”. Os traidores, o ex-presidente Geisel e membros do governo.
Frota morreu em 1996, mas seu filho, o contra-almirante da reserva Luiz Pragana da Frota, passou os últimos anos às voltas com os originais do livro do pai. “Ele queria que fosse publicado depois que ele morresse e eu não estivesse mais na ativa”, diz. No livro, Sylvio Frota avalia que Geisel tinha tendências à esquerda. Diz que nunca tramou contra o presidente, mas, sim, foi vítima de uma armação. E chega a afirmar que não houve tortura durante os anos 70 – para ele, as notícias de violências contra presos políticos seriam “vis e covardes imputações feitas a homens que (...) lutavam pela preservação do regime democrático e pela conseqüente tranqüilidade da família brasileira”.
Concordando-se ou não com a ideologia do autor, o livro é um documento histórico. Traz não só a versão da linha-dura – matéria rara –, como fotografias, cartas e documentos, alguns sigilosos. Como dizem na apresentação do livro os historiadores Celso Castro e Maria Celina D’Araújo, pesquisadores da Fundação Getúlio Vargas, “a leitura desse livro, passadas três décadas dos eventos que narra, dá uma dimensão da grave crise político-militar vivida durante o governo Geisel”. Foi durante esse governo que o jornalista Vladimir Herzog foi morto. Mas, por outro lado, começou a política de distensão lenta e gradual da ditadura – política que ia contra os objetivos da linha-dura, que teve em Frota seu principal representante.
História – Algo o surpreendeu no livro?
Luiz Pragana da Frota – Papai deixou nas entrelinhas o fato de que, apesar de na época ter estado convencido de que as mortes do jornalista Vladimir Herzog e do operário Manoel Fiel Filho foram suicídios, anos depois ele já não estava mais tão certo. Ele suspeitava de um excesso de coincidências. E sugere uma suspeita de que alguns grupos dentro do governo pareciam interessados na crise.
Como era ser filho de um linha-dura?
Papai era muito afável comigo, mamãe e minha irmã. Tinha muitos amigos, era extrovertido, sociável. E nunca interferiu na minha escolha pela carreira militar, não se importaria se eu quisesse outra coisa. Só era muito rígido nos estudos.
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