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Cúpula do Noal: fora do eixo

Países não-alinhados voltam a se encontrar para recuperar a força do movimento e já contam com 116 membros

Fabiano Onça Publicado em 01/11/2006, às 00h00 - Atualizado em 23/10/2017, às 16h36

No auge da Guerra Fria, um grupo de países decidiu que não seguiria a orientação de nenhum dos blocos polarizados entre Estados Unidos e União Soviética. Juntos, eles definiram as bases de um movimento cuja maior preocupação era manter-se em um lugar distante da briga entre as duas superpotências. Temiam a corrida armamentista e uma eventual guerra mundial, mas também queriam mais. Pela primeira vez, o Terceiro Mundo tentava se organizar. A idéia de formar o grupo surgiu em 1955, durante a Conferência de Bandung (Indonésia), mas foi apenas em 1961 que o Movimento dos Países Não-Alinhados (Noal, na sigla em inglês) foi oficialmente criado, em encontro realizado em Belgrado, na Iugoslávia. Em suas fileiras, posicionavam-se 25 países, entre eles, Índia, Iugoslávia, Egito, Indonésia e Paquistão, os principais mentores e idealizadores da nova organização.

Depois da Guerra Fria

O Noal ganhou popularidade nos anos 60 e 70 e foi agregando cada vez mais nações. Na virada da década de 1980, no entanto, começou a perder sentido com a implosão do império soviético. Sua principal causa foi definitivamente derrubada com o Muro de Berlim e o grupo começou a perder prestígio – até porque as diferenças políticas de seus membros ficavam cada vez mais evidentes. O declínio começou a reverter-se em 1998, quando a África do Sul resolveu levantar o movimento e iniciou uma grande campanha para revitalizá-lo. A iniciativa teve relativo sucesso e deu uma nova bandeira para o Noal. Sua proposta havia mudado: agora, o negócio era lutar para estabelecer uma nova relação de forças no cenário internacional. Em 2003, o grupo voltou a se encontrar, dessa vez em Kuala Lumpur (Malásia), e Fidel Castro consolidou a nova etapa do movimento. Uma outra conferência foi marcada para setembro de 2006, em Havana, em que Cuba assumiria a presidência rotativa da organização. E assim foi feito.

A reunião deste ano aconteceu sob os holofotes da mídia internacional e teve ares de assembléia da ONU. Estavam lá representantes dos 116 membros do Noal (quase dois terços dos membros das Nações Unidas), chefes de Estado de 50 países e um grande número de desafetos dos Estados Unidos, o alvo preferido do Noal moderno: os presidentes Hugo Chávez (Venezuela), Evo Morales (Bolívia), Mahmud Ahmadinejad (Irã), Pervez Musharraf (Paquistão), Alexander Lukashenko (Belarus) e Raúl Castro (Cuba), irmão de Fidel e mandatário interino da ilha. A 14ª Cúpula do Movimento dos Países Não-Alinhados contou também com a participação de representantes de diversos órgãos internacionais e nomes como Kofi Annan, secretário-geral da ONU. O Brasil participou como observador, já que não faz parte do grupo.

 

O que eles dizem

Durante a cúpula de Havana, vários assuntos foram abordados pelos não-alinhados. Veja o que disseram alguns líderes dos países participantes:

“Assumimos que aqui estão os representantes mais obscuros de vários cantos do mundo, possíveis alvos de futuras agressões”

Raúl Castro, irmão de Fidel e presidente interino de Cuba

“O que aconteceu é uma provocação do Senhor Diabo”

Hugo Chávez, sobre a detenção do ministro das Relações Exteriores venezuelano no aeroporto John F. Kennedy, em Nova York, quando voltava da Assembléia da ONU

"O Movimento [dos Não-Alinhados] expressa seu desejo de desnuclearização da Coréia e continua apoiando o reatamento das conversas o mais rápido possível"

Comunicado divulgado pelo Noal

"O Iraque está ocupado, sem soberania. Queremos que seu povo possa dirigir o país sem ingerências. Mas, infelizmente, não vai ser logo"

Tareq al-Hashemi, vice-presidente do Iraque, sobre a crise política do país

 

Acervo

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