Slogans refletem a tônica dos governos republicanos
Tarso Araujo Publicado em 01/02/2006, às 00h00 - Atualizado em 23/10/2017, às 16h36
Como é praxe na política, os governos brasileiros tentaram resumir seus planos para o país em boas frases de efeito. No início, eram apenas declarações que acabaram pegando. Com a profissionalização da propaganda oficial, os bordões viraram verdadeiros slogans. No conjunto, eles resumem a história da República.
1898 - “Nossa vocação é agrícola”
A frase foi proferida por Joaquim Murtinho, ministro da Fazenda do governo de Campos Salles. Ela defendia a agricultura como um todo e a cafeicultura de forma mais específica – e deixava clara qual era a prioridade da política nacional. Era o início da república do “café-com-leite”, com o país na mão das oligarquias mineira e paulista.
1926 - “Governar é abrir estradas”
Tempos antes, na virada do século, o Brasil fez fortuna com o ciclo da borracha, de carona na explosão da produção mundial de carros. O fim da hegemonia agrícola era inevitável. Isso foi percebido por Washington Luís. Ele já usara o slogan entre 1920 e 1924, quando governou São Paulo e abriu 1 326 quilômetros de estradas.
1953 - “O petróleoé nosso”
Getúlio Vargas, que já tinha virado o “pai dos pobres” com a Consolidação das Leis do Trabalho, na época de sua ditadura nos anos 1930, reforçou o nacionalismo econômico – desta vez, em seu governo democrático. Nos anos 1950, uma campanha que tinha como base a intervenção estatal levou à criação da Petrobras, que foi o pilar de seu projeto de desenvolvimento.
1956 - “50 anos em 5”
O lema da campanha presidencial de Juscelino Kubitschek referia-se aos cinco pontos do Plano de Metas, seu projeto desenvolvimentista: energia, transportes, indústria de base, alimentação e educação. Outra idéia presente nele era a de recuperar o tempo perdido. Construir Brasília representava dois ideais importantes: modernidade e integração nacional. O slogan mirava também em outra leitura: “50 anos de progresso em 5 de governo”.
1960 - “Varre, varre, vassourinha”
Durante a construção de Brasília, a UDN, partido de oposição a JK, fez várias acusações de desvios de verba e corrupção do governo. Nas eleições de 1960, Jânio Quadros se apresentou para limpar o país com o jingle da vassoura e acabou eleito. Sete meses e várias medidas impopulares depois (como a proibição de as mulheres usarem biquínis na praia), ele renunciou.
1970 - “Ame-o ou deixe-o”
O país vivia um momento ambíguo. Era o auge da repressão, sob a ditadura de Emilio Garrastazu Médici. Ao mesmo tempo, um momento de orgulho para a população, com o “Pra Frente, Brasil” do tricampeonato na Copa do Mundo de futebol e do milagre econômico. Em tom de ameaça, o slogan chamava quem estava contente para o seu lado e desencorajava a oposição.
1985 - “Tudo Pelo Social”
A saída do presidente João Figueiredo põe fim a 21 anos de ditadura militar e a tão aguardada democracia traz ao povo brasileiro de volta a esperança de igualdade social. O slogan do presidente José Sarney procurava corresponder a esse sentimento, que acabou naufragando junto com o plano do governo para controlar a inflação, o Cruzado.
1993 - “Brasil, união de todos”
Ao se manifestar contra Fernando Collor, a opinião pública não deixou opção para o Congresso no processo de impeachment do presidente. Depois desse turbilhão, o slogan de governo de Itamar Franco, vice-presidente empossado, pretendia homenagear o povo que, pela primeira vez na história do país, acabara de tirar do poder um presidente acusado de corrupção.
2001 - “Avança, Brasil”
Com a inflação sob controle, o segundo governo de Fernando Henrique Cardoso lança o plano “Avança, Brasil”. Um dos principais objetivos era a geração de empregos – mas a manutenção da estabilidade econômica, forçada em contrato com o FMI, acabou sendo a grande prioridade. O nome do plano acaba virando um dos lemas do governo (o outro era “Brasil em ação”).
2004 - “O melhor do Brasil é o brasileiro”
O slogan oficial do governo Lula é “Brasil, país de todos”. Mas ele apóia formalmente a campanha “Eu sou brasileiro e não desisto nunca”, da Associação Brasileira de Anunciantes. A frase acabou sendo usada ironicamente em referência ao próprio presidente, que concorreu quatro vezes ao planalto e agora enfrenta denúncias de corrupção.
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