Aventuras na História - Arquivo Aventuras

Ascensão e queda da cavalaria

Inicialmente consagrada no campo de batalha, a nobreza a cavalo viu seu poder declinar com a adoção do arco longo e das armas de fogo

Fabiano Onça Publicado em 01/11/2005, às 00h00 - Atualizado em 23/10/2017, às 16h36

A guerra na Idade Média contou com dois tipos muito contrastantes de combatentes: cavaleiros e camponeses. Cavaleiros eram indivíduos saídos das elites feudais, treinados no combate montado e em várias especialidades de armas, como a espada, a lança, o mangual e a maça. Além da origem nobre, um cavaleiro tinha que dedicar boa parte de seu tempo a treinamentos, fora uma expressiva soma de dinheiro para manter um cavalo, armadura e os serviços de pelo menos dois pajens. “A grande massa de combatentes, entretanto, era formada por camponeses arregimentados nos feudos. Suas armas eram muitas vezes instrumentos agrícolas e sua participação numa campanha organizada não passava de 40 dias em um ano”, afirma o professor Wilson Barbosa, historiador da Universidade de São Paulo, especializado em assuntos militares. O resultado foi o predomínio da cavalaria durante a Alta Idade Média, iniciado com Carlos Magno.

Essa supremacia, entretanto, seria alterada durante a Guerra dos Cem Anos, quando os ingleses, com um exército pequeno, porém disciplinado, e utilizando armas mais eficazes (o arco longo), bateriam seus inimigos franceses em confrontos como Crecy (1346) e Agincourt (1415). Esse período também marca a ascenção do soldado comum no campo de batalha como parte de exércitos maiores organizados por estados centralizados. As armas de fogo e os canhões sepultaram de vez as cargas heróicas da cavalaria, bem como a inexpugnabilidade de seus castelos.

 

 

Bertrand du Guesclin, condestável da França

Esse nobre francês, que viveu entre 1315 e 1380, foi um dos mais ferrenhos adversários dos ingleses durante a Guerra dos Cem Anos. Ele está protegido por uma sólida placa peitoral e placas de metal nas pernas, além do colete de cota de malha e de um bacinete com viseira, conhecido como “cara de porco”.

Eduardo, o Príncipe Negro

À esquerda, Eduardo Plantageneta (1330-1376), conhecido como o Príncipe Negro, usa uma cota de malha para a proteção do torso, com partes do corpo cobertas por placas de metal. A cabeça está protegida por um bacinete, um capacete unido à cota de malha que resguarda o pescoço. O elmo, popular no século 12, caiu em desuso porque ficava dançando na cabeça, não permitia boa visão e dificultava a respiração.

Ficha Técnica

Arma principal: espada longa (cerca de 90 cm )

Arma secundária: machado, mangual, maça

Proteção: escudo, elmo, armadura, cota de malha

Armadura completa: de 35 a 80 kg

 

Arcabuzeiro inglês

Este arcabuzeiro serviu no exército de Eduardo, o Príncipe Negro, no século 14. A primeira menção a um arcabuzeiro no exército inglês data de 1338, quando um arcabuz foi mencionado entre os equipamentos do exército de Eduardo III. Inicialmente, essas armas de fogo feitas de bronze ou forjadas em ferro eram apoiadas em varas de sustentação. A despeito de seu aspecto primitivo, provaram ser eficazes, para o desgosto dos nobres da cavalaria, que viram, através delas, a ascenção do soldado comum como a principal peça do campo de batalha. Afinal, matava a longa distância como o arco longo, mas não requeria uma grande perícia para ser utilizada. Não é à toa que o comandante florentino Gian Paolo Vitelli, ao tomar o Castelo de Buti em 1498, fez questão de cortar as mãos e arrancar os olhos dos arcabuzeiros que defendiam a fortaleza.

Arcabuzes com pavios

Estes modelos, de cerca de 1450, já possuíam uma estrutura de madeira para apoiar a arma no ombro. A diferença entre eles é que, no primeiro, o pavio é externo, enquanto no segundo o mecanismo é interno. Em ambos, o pavio se prendia no gatilho, que, no momento da combustão, era atirado longe. Durante a batalha, para ganhar velocidade, via-se comumente um arcabuzeiro colocar o pavio em contato direto com a pólvora, dispensando o gatilho.

Ficha Técnica

Comprimento: 1 m aproximadamente

Alcance: 50 m

Tempo de recarga: 1 minuto

 

Besteiro genovês

A melhor resposta aos arqueiros ingleses eram os besteiros. A besta, desenvolvida na China por volta de 200 a.C.., se tornou popular na Europa durante as cruzadas e foi a primeira arma que permitiu a um soldado comum matar, a longa distância, um cavaleiro. A revolta foi tamanha que, em 1097, o papa Urbano II proíbiu seu uso entre os oponentes cristãos. Na época da Guerra dos Cem Anos, bestas mais sofisticadas, chamadas de polé, como a da ilustração, permitiam recarregar a arma utilizando a tração mecânica. O único problema é que, na recarga, o besteiro era um alvo fácil. Para minimizar o efeito, utilizavam enormes proteções de madeira, de até 2 m de altura, chamadas paveses, além de placas de proteção peitoral e elmos.

Ficha Técnica

Material: madeira e aço

Alcance: 150 m

Cadência de disparo: 3 ou 4 dardos por minuto

 

Arqueiro inglês

O arco inglês pode ser considerado a mais letal de todas as armas do período medieval e foi o principal fator de desequilíbrio na Guerra dos Cem Anos. O arco longo (chamado assim porque seu comprimento excedia o tamanho de um homem da época) era uma arma empunhada apenas por habitantes da região de Gales, na ilha britânica. O treinamento vinha desde a infância e requeria, além de habilidade, uma grande força física.

A dependência inglesa dessa arma era tanta que, em 1466, Eduardo IV ordenou que cada homem na ilha entre 16 e 60 anos tivesse seu próprio arco. Em 1359, a Torre de Londres estocava 20 mil arcos e 850 mil flechas. Pode parecer muito, mas num dia de batalha essa quantidade de flechas desaparecia rapidamente. Isso porque a média de disparos era de dez flechas por minuto. Para alcançar essa rapidez de disparo em batalhas, os arqueiros comumente espetavam suas flechas no solo. Justamente por serem tão vitais, eles eram pagos a preço de ouro. Um arqueiro a pé recebia 3 pence por dia, 150% a mais do que um trabalhador qualificado. Se ainda soubesse andar a cavalo, a diária subia para 6 pen

Ficha Técnica

Comprimento: 1,80 m aproximadamente

Material: teixo ou olmo

Alcance: 275 m

Cadência de disparo: dez flechas por minuto

 

Infantaria inglesa

Este é um típico billman, que serviu a Eduardo IV durante a Guerra das Rosas. No fim da Idade Média, a infantaria já não era mais uma força desqualificada, formada por camponeses em regime parcial. Este soldado, por exemplo, com sua arma de cabo longo, ainda mais quando agrupado em linha, era capaz de manter a cavalaria inimiga a distância, enquanto os arqueiros atrás dele completavam o serviço.

Armas camponesas

O único resquício da infantaria como força camponesa está na infinidade de armas derivadas de instrumentos agrícolas. As quatro armas superiores são alabardas inspiradas em foices e machados. Embaixo, à esquerda, uma lança utilizada na Europa oriental. No meio, uma arma denominada partizan. E na esqueda peça utilizada nas guerras hussitas.

Ficha Técnica

Arma principal: alabarda

Proteção: elmo sallet, camisa de cota de malha, placa peitoral, jaqueta feita com uma sucessão de tecidos, própria para aparar golpes de armas cortantes. Pernas protegidas por placas de metal

 

Acervo

Leia também

Oswaldo Aranha: O brasileiro que presidiu a assembleia que determinou a partilha da Palestina


Quando enganar o outro virou “conto do vigário”?


Otan x Pacto de Varsóvia: Mundo já esteve refém de suas trocas de ameaças


10 particularidades sobre a Guerra do Paraguai


Georgi Zhukov: o homem que liderou as batalhas mais importantes da URSS na Segunda Guerra


Liberdade, Igualdade, Fraternidade: Há 230 anos, era aprovada a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão