Em 30 de janeiro de 1969, os Beatles fizeram um show especial no telhado do prédio da Apple Corps, mas apresentação foi interrompida após 42 minutos
Publicado em 17/03/2024, às 12h00 - Atualizado em 19/03/2024, às 19h51
No dia 30 de janeiro de 1969, o jovem policial Ryan Dagg, na época com apenas 19 anos, foi convocado para atender reclamações sobre barulho vindo do telhado da sede da Apple Record, em Londres. Mal sabia ele, mas aquele episódio mudaria para sempre sua vida.
Acontece que esse foi o dia em que os Beatles realizaram sua última apresentação pública — e Dagg foi um dos responsáveis por acabar com o show.
Na ocasião, John Lennon, Paul McCartney, Ringo Starr e George Harrison se juntaram ao tecladista Billy Preston para um concerto intimista que durou cerca de 42 minutos. A setlist do show incluiu canções de sucesso, como 'Get Back', 'Don’t Let Me Down' e 'I Got a Feeling'.
No entanto, tudo foi interrompido quando a Polícia Metropolitana de Londres (MET) chegou e pediu para que os Beatles reduzissem o volume. Mas o que disse Ryan Daggs depois de todos esses anos?
Em 2021, estreou no catálogo da Disney+ o documentário 'The Beatles: Get Back'. Produzida e dirigida por Peter Jackson, a série acompanha a produção do álbum 'Let it Be' (1970) — que inicialmente recebeu o nome de Get Back — e utiliza, em grande parte, imagens deixadas de fora do documentário feito por Michael Lindsay-Hogg naquele mesmo ano.
Um dos assuntos tratados em 'The Beatles: Get Back' é justamente o último show dos Beatles — no qual é mostrado o papel de Dagg na interrupção da apresentação no terraço da Apple Record.
"Foi apenas meu trabalho e se transformou em tudo isso", disse em entrevista ao jornal Sunday Times, no mesmo ano de lançamento do documentário de Jackson. "É ridículo, simplesmente não entendo".
Após receber dezenas de reclamações, Ryan Dagg e outros policiais foram forçados a encerrar o que seria a última apresentação ao vivo da banda mais famosa do mundo. "Recebemos 30 reclamações no West End Central em minutos", explicou.
Na entrevista, Ryan, então com 72 anos, recorda que convenceu o empresário de turnês e assistente dos Beatles, Mal Evans, a interromper o show. Entretanto, admitiu que suas ameaças de prender a banda eram um "blefe". Ele não se arrepende de ter acabado com o show.
Bem, naquela época, eu não sabia que eles nunca mais tocariam juntos", recordou.
"Pelo menos há algo em um filme em algum lugar que mostrará para sempre que o policia Ray Dagg 'acabou' os Beatles", continuou. "Se essa é a minha imagem duradoura da vida, se é por isso que as pessoas se lembram de mim, isso não é ruim. Milhares, milhões de pessoas nem sequer são lembradas".
Dagg seguiu os passos de seu pai na polícia, mas acabou deixando o MET seis anos depois do show. Por fim, Ryan disse que nunca teve um álbum dos Beatles, preferindo a dupla americana Simon & Garfunkel.
Após quase três anos fora dos palcos, os Beatles começaram o ano de 1969 enfrentando boatos sobre o fim da banda. Na época, rumores diziam que os membros vivam em discordância e as resoluções da banda estavam cada vez mais longes.
Ainda assim, no dia 30 de janeiro, John Lennon, Paul McCartney, Ringo Starr e George Harrison decidiram fazer um show especial no telhado do prédio da Apple Corps — edifício que abrigava a empresa da banda e sua gravadora.
Aquele seria o último show ao vivo de uma das bandas mais influentes e populares de todos os tempos, embora ninguém soubesse disso — nem mesmo os próprios Beatles.
A ideia de fazer um show ao ar livre já era um desejo antigo dos músicos — que há tempos queriam mostrar para o público uma apresentação que focasse em seus processos criativos, sem todos os recursos usados em estúdio.
"Fomos ao telhado para resolver a ideia do show ao vivo, porque era muito mais simples do que ir a qualquer outro lugar; também ninguém nunca fez isso", lembrou, mais tarde, George Harrison, conforme repercutido pelo O Globo.
Então seria interessante ver o que acontecia quando começamos a tocar lá. Foi um bom estudo social", disse.
O último concerto da banda teve exatos 42 minutos de duração. Um show improvisado que só havia sido anunciado na noite anterior; o que pegou muitos fãs e desavisados de surpresa.
"Algumas das pessoas no escritório da Apple nem tentaram subir, porque era mesmo apenas mais um dia de trabalho", contou Ken Mansfield que, na época, era o gerente norte-americano da gravadora, à Rolling Stone USA.
"Aconteceu de eu estar trabalhando no escritório naquela semana", disse. "E Mal [o roadie da banda, Mal Evans] apenas disse: 'Ei, vamos lá, Ken, vamos subir em 15 minutos'. Eu disse: 'O que você quer dizer? ' Ele disse: 'Nós estamos indo para o telhado, venha junto'".
Por volta do meio-dia, apesar do típico frio londrino, John, Paul, George e Ringo subiram no palco improvisado e começaram a apresentação no topo do edifício. O curto show contou com uma setlist de apenas cinco músicas.
O público também foi reduzido: apenas Yoko Ono e alguns membros das famílias dos músicos, amigos, a equipe técnica e os operadores das câmeras de filmagem estiveram no local. Na rua só era possível ouvir o som, sem saber exatamente sua origem.
Apesar de toda improvisação, a apresentação chamou a atenção da polícia de Londres, que foi chamada para interrompê-los. Na ocasião, as autoridades alegaram que a performance estava causando um tumulto. Os Beatles só anunciaram seu fim em 10 de abril de 1970.