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Desventuras / Personagem

A treta entre Napoleão Bonaparte e Beethoven

O que fazer quando homenageamos alguém, porém essa pessoa frustra nossas expectativas?

Victor Alexandre Publicado em 22/11/2021, às 20h00 - Atualizado em 23/11/2023, às 10h26

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Montagem mostrando pintura de Napoleão (à esq.) e pintura de Beethoven (à dir.) - Wikimedia Commons
Montagem mostrando pintura de Napoleão (à esq.) e pintura de Beethoven (à dir.) - Wikimedia Commons

Poucos personagens na história são tão icônicos quanto Napoleão Bonaparte. Em muitas imagens o líder francês é retratado em trajes de batalha posando em seu belo cavalo branco ou em uma postura mais séria.

Ao longo de seus anos à frente da França ele pôde consolidar e construir essa imagem de líder e conquistador exemplar. Porém, Napoleão Bonaparte decepcionou um de seus maiores fãs, Ludwig van Beethoven.

A admiração de Beethoven

Ludwig van Beethoven provavelmente é um dos maiores gênios de todos os tempos quando o assunto é música. O compositor nasceu no ano de 1770 em Bonn, cidade que pertencia ao Reino da Prússia. Desde muito jovem, Beethoven aprendeu a tocar piano e após passar horas e mais horas treinando e praticando foi reconhecido por muitos mestres como um fenômeno. Ao atingir a fase adulta, o músico se tornou um especialista em produzir sinfonias.

Entre 1802 e 1804, Beethoven escreveu a sua Sinfonia nº3, uma obra fantástica que para muitos estudiosos foi um marco na História da Música. A partir dessa obra, é possível dizer que o Romantismo foi inaugurado não só na música como em outras artes.

O período do Romantismo foi um tempo muito rico para as artes, porque muito influenciados pelas mudanças políticas que a Europa e consequentemente algumas partes do mundo  estavam vivendo, os artistas passaram a produzir obras sem tanto apego pela linearidade, razão e até às estruturas musicais.

Como demonstração de que essa sinfonia representaria também o momento que a Europa estava vivendo, Beethoven decidiu dedicar uma de suas obras primas a Napoleão Bonaparte, escrevendo então uma longa e honrosa dedicatória ao Cônsul francês.

Pintura de Napoleão / Crédito: Domínio Público

De acordo com o historiador Adam Zamoyski, “Intelectuais em toda a Europa viam em Bonaparte um elemento sobre-humano que empolgou a imaginação deles, ainda que apenas durante um tempo”. Para Adam, o compositor era um desses admiradores da figura e do que Napoleão representava.

Ao terminar de produzir a sinfonia, Beethoven escreveu a dita dedicatória a Napoleão para imortalizar essa homenagem a uma de suas referências políticas. Porém, aconteceu uma coisa que levou o músico alemão explodir de raiva!

Coroação e ira

Na França, após anos de ascensão política durante a Revolução Francesa, Napoleão passou a atuar como um dos três cônsules do país, dentro de um regime político chamado Consulado. Sem dúvidas ele era aquele que tinha mais influência política e maior apoio popular e da burguesia francesa. A partir dessa base consolidada, Bonaparte trabalhou para aumentar ainda mais seus poderes políticos, como a publicação de um decreto em 1802 que o transformava em Cônsul-Vitalício.

Pintura de Napoleão Bonaparte / Crédito: Getty Images

Como forma de se manter no poder por ainda mais tempo e colocar sua família na linha de sucessão da França, em 1804, Napoleão Bonaparte organizou um plebiscito para decidir quem deveria ser o Imperador dos franceses. Como vocês podem imaginar, Napoleão ganhou a eleição com uma imensa vantagem, porém existe a possibilidade dessa eleição ter sido fraudada. De qualquer forma, de acordo com o plebiscito, Napoleão foi escolhido pelo povo francês como o seu imperador. Para não perder tempo, Bonaparte marcou a cerimônia de coroação para concretizar a ação.

A cerimônia de coroação aconteceu no dia 2 de dezembro de 1804 dentro da Catedral de Notre Dame. Para dar maior legitimidade simbólica à sua coroação, Napoleão iria usar duas coroas, uma em referência ao Império Romano e outra relacionada ao Império Carolíngio.

Um outro personagem muito importante que estava presente era o papa Pio VII. A função do líder religioso nesse tipo de evento era realizar um sermão e após isso realizar a coroação, simbolizando a concessão da benção ao novo imperador. Além disso, Pio VII estar ali era uma demonstração de que Napoleão estava se reconciliando com a Igreja Católica.

Porém, as coisas não aconteceram conforme o planejado. O papa Pio VII cumpriu o seu papel e realizou um sermão, mas no momento da coroação, Napoleão Bonaparte pegou a coroa da mão do papa e coroou a si mesmo e em seguida coroou sua esposa. Napoleão decidiu imortalizar esse momento no quadro produzido por Jacques-Louis David onde retrata Napoleão Bonaparte de costas para o papa.

Ao saber que Bonaparte havia feito isso, Beethoven ficou furioso! Para o músico, uma ação como essa, somado ao fato de ter se declarado imperador, traía todos ideais da Revolução Francesa e do Iluminismo. De acordo com seu assistente, Ferdinand Ries, Beethoven teria dito:

Então ele não é mais do que um mortal comum! Agora, também, ele vai pisar no pé de todos os direitos do homem, saciando somente a sua vontade; agora ele vai pensar que é superior a todos os homens, se tornando um tirano!"

Após dizer essas palavras, Beethoven correu até a mesa em que a Sinfonia nº3 estava e riscou o nome de Napoleão da capa com tanta força que o papel se rasgou. Além de tirar o nome do líder militar francês da composição, Beethoven também descartou a dedicatória que havia feito em homenagem ao líder revolucionário. Depois dessas mudanças, a Sinfonia nº3 de Beethoven passou a ficar conhecida como "Sinfonia Eroica".

Mesmo decepcionando um de seus maiores admiradores, Napoleão Bonaparte se tornou um dos personagens mais importantes da história da França e suas ações como imperador tiveram impacto em praticamente todos os países da Europa e até no Brasil.

Mas como dizem, é impossível agradar todo mundo.


No podcast ‘Desventuras na História’, o professor de História Vítor Soares apresenta de forma descontraída a respeito dessa e outras curiosidades da trajetória de Napoleão.  

No 'Desventuras na História', você também pode conferir edições a respeito de Maria Antonieta, Dante Alighieri, Alexandre, O Grande, Gengis Khan e Dom Pedro I.

Abaixo, você confere o episódio 'Os amores de Napoleão Bonaparte':