Registros recentemente divulgados pelos Arquivos Nacionais dos Estados Unidos mencionam o Brasil e o ex-governador Leonel Brizola
Registros recentemente divulgados pelos Arquivos Nacionais dos Estados Unidos revelam detalhes até então sigilosos sobre o assassinato do presidente John F. Kennedy, ocorrido em 1963, e mencionam o Brasil e o ex-governador Leonel Brizola em diversos documentos. As informações lançam luz sobre o contexto político da época e a preocupação americana com os rumos do Brasil durante a Guerra Fria.
Nos registros, Brizola aparece em meio à crise política que se seguiu à renúncia de Jânio Quadros, em agosto de 1961. Naquele momento, como governador do Rio Grande do Sul, ele liderou a chamada Campanha da Legalidade, que garantiu a posse de seu cunhado, João Goulart, na presidência da República. Anos depois, em 1964, Goulart seria deposto pelo golpe militar apoiado por setores conservadores e monitorado de perto pelo governo dos EUA.
De acordo com o portal UOL, em um dos documentos, há a transcrição de uma reunião realizada na Casa Branca, em que John F. Kennedy pergunta ao então embaixador dos Estados Unidos no Brasil, Lincoln Gordon, se seria possível uma intervenção militar americana para derrubar Goulart. A gravação dessa conversa veio a público em 2014, no site Arquivos da Ditadura.
A preocupação dos EUA com a possível disseminação do comunismo na América Latina levou à vigilância de políticos brasileiros, incluindo Brizola. Um relatório da CIA cita “subversão cubana” em países como Argentina, Bolívia, Costa Rica e Brasil, e descreve Brizola como a principal liderança capaz de promover uma revolução nos moldes de Fidel Castro. Segundo informações colhidas pela agência, o ex-embaixador cubano teria classificado Brizola como o político com maior potencial para liderar uma revolta de inspiração castrista no Brasil.
Um dos arquivos, datado de junho de 1964, afirma que, antes da queda de Goulart, Cuba atuava de forma ativa no Brasil, financiando grupos comunistas e apoiando organizações como as Ligas Camponesas, de Francisco Julião, além de manter contato com Brizola. O documento descreve o ex-governador como “cunhado violentamente antiamericano de Goulart” e afirma que Havana enviou dinheiro ao Brasil dias antes do golpe militar, na tentativa de fortalecer as forças de Brizola.
Outro registro, de 1961, menciona que tanto Cuba quanto a China ofereceram apoio material ao Brasil. Os líderes Fidel Castro e Mao Tsé Tung teriam se disposto a enviar voluntários e recursos a Brizola, que liderava a resistência pela posse de Goulart.
Apesar do suporte moral recebido, Brizola teria recusado a ajuda externa para evitar que o episódio se transformasse em uma crise internacional. Um comentário nos documentos aponta que ele temia uma possível intervenção dos Estados Unidos caso aceitasse o auxílio estrangeiro.
Ainda segundo os arquivos, a oferta de ajuda de Fidel Castro chegou a vazar para a imprensa, enquanto a proposta de Mao permaneceu em sigilo.