Retratado no filme 'Ainda Estou Aqui', Rubens Paiva virou um dos símbolos da resistência à ditadura militar no Brasil; conheça
Vítor Soares, professor de História Publicado em 28/02/2025, às 11h10 - Atualizado em 03/03/2025, às 09h22
Rubens Beyrodt Paiva foi um engenheiro, político e empresário brasileiro que se tornou um dos símbolos da resistência à ditadura militar em solo brasileiro. Sua trajetória é marcada pela defesa da democracia e pela brutal repressão que sofreu por parte do regime autoritário.
Nascido no dia 26 de dezembro de 1929, em Santos, São Paulo, Paiva envolveu-se desde jovem em movimentos políticos. Durante sua graduação em Engenharia Civil na Universidade Presbiteriana Mackenzie, destacou-se no movimento estudantil, presidindo o Centro Acadêmico e tornando-se vice-presidente da União Estadual dos Estudantes de São Paulo. Com ideais nacionalistas, participou ativamente da campanha "O Petróleo é Nosso", que resultou na criação da Petrobras.
Em 1962, Paiva foi eleito deputado federal por São Paulo pelo Partido Trabalhista Brasileiro (PTB), partido do então presidente João Goulart. Na Câmara dos Deputados, destacou-se como vice-líder da legenda e participou da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) que investigou organizações suspeitas de conspirar contra o governo, como o Instituto de Pesquisas e Estudos Sociais (IPES) e o Instituto Brasileiro de Ação Democrática (IBAD).
Com o golpe militar de 1964, Paiva teve seu mandato cassado pelo Ato Institucional Número Um (AI-1) e precisou se exilar na França e na Inglaterra. Retornou ao Brasil no ano seguinte e passou a atuar como engenheiro civil e empresário no Rio de Janeiro. Apesar de afastado da política institucional, manteve contato com exilados e perseguidos políticos, auxiliando-os na fuga do país.
No dia 20 de janeiro de 1971, agentes da Aeronáutica invadiram sua casa no Leblon, no Rio de Janeiro, e o levaram preso sem mandado. Acusado de manter contato com militantes da resistência, foi levado ao DOI-CODI, onde foi brutalmente torturado até a morte. Seu corpo nunca foi encontrado, tornando-se um dos desaparecidos políticos da ditadura.
A luta por justiça ficou a cargo de sua esposa, Eunice Paiva, que enfrentou o regime em busca de respostas sobre o paradeiro do marido. Anos depois, tornou-se uma importante defensora dos direitos indígenas no Brasil. Em 1995, o Estado brasileiro reconheceu oficialmente sua responsabilidade pela morte de Rubens Paiva, mas seus algozes nunca foram punidos.
A memória de Rubens Paiva segue viva como um lembrete das atrocidades cometidas durante a ditadura militar e da importância da defesa da democracia. Sua história foi retratada no livro "Ainda Estou Aqui", de seu filho Marcelo Rubens Paiva, e no filme homônimo dirigido por Walter Salles — vencedor do Oscar de Melhor Filme Internacional. Além disso, em 2025, a Advocacia-Geral da União instituiu o Prêmio Eunice Paiva de Defesa da Democracia, em homenagem à luta de sua esposa.
Rubens Paiva é um símbolo de resistência, um nome que jamais deve ser esquecido.