Mulheres na Segunda Guerra Mundial - Divulgação / Youtube / Hoje na Segunda Guerra Mundial
Literatura

Obra revela a esquecida história das soviéticas que lutaram na Segunda Guerra Mundial

A guerra não tem rosto de mulher, de Svetlana Aleksiévitch conta a triste saga de figuras femininas que guerrearam no Exército Vermelho

Victória Gearini Publicado em 16/10/2020, às 15h25

Pouco se fala na participação feminina durante guerras e conflitos nacionais e internacionais. Em geral, a História tende a ser contada a partir do ponto de vista dos homens, que tendem a exaltar soldados e generais do mesmo gênero. Durante a Segunda Guerra Mundial, tal fato não foi diferente. As nações que saíram vitoriosas deste conflito denominam apenas os homens que lutaram pela pátria como algozes e libertadores.

Entretanto, sabe-se que tal afirmação é um grande equívoco. Ao longo da História, a participação feminina em conflitos sempre foi algo que existiu, embora com menor frequência e quantidade. Seja na retaguarda ou na linha de frente, o protagonismo feminino existiu durante a Segunda Guerra Mundial. 

A guerra não tem rosto de mulher, de Svetlana Aleksiévitch (2016) / Crédito: Divulgação / Editora Companhia das Letras

Neste período, o Exército Vermelho recrutou mulheres para lutar de frente no conflito. Cerca de um milhão de soviéticas demonstraram bravura e confrontaram os nazistas. No entanto, suas histórias são pouco faladas, e muitas vezes esquecidas, fato que a escritora Svetlana Aleksiévitch apresenta em sua pesquisa. 

Lançada em 2016 no Brasil pela Editora Companhia das Letras, a obra A guerra não tem rosto de mulher, de Svetlana Aleksiévitch, reconstrói a saga emocionante de mulheres que deram suas vidas em nome de um ideal da época. Por meio de uma narrativa eletrizante, a escritora dá voz para figuras femininas que tiveram suas histórias esquecidas ou deturpadas pelo ponto de vista masculino.

Svetlana Aleksiévitch revela, ainda, em detalhes, os desafios enfrentados pelas soviéticas durante o conflito. Ao longo da narrativa, as memórias presentes evocam frio, fome, abuso sexual e o medo constante da morte. 

Disponível na Amazon em formato Kindle e capa comum, esta obra encontra-se em primeiro lugar entre a lista de mais vendidos na categoria Segunda Guerra Mundial e História Militar. Com tradução de Cecília Rosas, o livro promete emocionar o leitor. 

Confira abaixo um trecho de A guerra não tem rosto de mulher (2016):

“Estou escrevendo um livro sobre a guerra… Eu, que nunca gostei de ler livros de guerra, ainda que, durante minha infância e juventude, essa fosse a leitura preferida de todo mundo. De todo mundo da minha idade. E isso não surpreende — éramos filhos da Vitória. Filhos dos vencedores. Qual é minha primeira lembrança da guerra? Minha tristeza infantil entre palavras assustadoras e incompreensíveis. Estavam sempre relembrando a guerra: na escola e em casa, nos casamentos e batizados, nos feriados e velórios. Até nas conversas das crianças. Um menino da vizinhança uma vez me perguntou: “O que as pessoas fazem embaixo da terra? Como eles vivem lá?”. Nós também queríamos decifrar o mistério da guerra.

Foi então que comecei a refletir sobre a morte… E nunca mais parei de pensar nela, tornou-se para mim o principal mistério da vida. Para nós, tudo começava naquele mundo distante e misterioso. Em nossa família, meu avô ucraniano, pai da minha mãe, morreu no front, foi enterrado em algum lugar em terras húngaras; minha avó bielorrussa, mãe do meu pai, morreu de tifo entre os partisans; de seus três filhos, dois serviram no Exército e desapareceram nos primeiros meses da guerra, só um voltou. Meu pai. Onze parentes distantes, junto com os filhos, foram queimados vivos pelos alemães — uns em sua casa, outros na igreja da vila. Em todas as famílias acontecia o mesmo. Em todas.”


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