Durante muito tempo, o local onde nomes como Olga Benário foram aprisionados acabou sendo esquecido
Victória Gearini Publicado em 21/08/2020, às 09h00
Localizado a 90 quilômetros ao norte de Berlim, o Ravensbrück foi um campo de concentração voltado somente para mulheres. Construído no outono de 1938 pelo arquiteto nazista Heinrich Himmler, por anos, o local ficou escondido atrás da cortina de ferro, e até os dias atuais é pouco falado.
O cruel local nazista recebeu diversos nomes conhecidos da História, entre eles Olga Benário, brasileira naturalizada, esposa do comunista Luís Carlos Prestes, sobrinha do general De Gaulle e irmã do prefeito de Nova York.
Durante a Segunda Guerra, diversas pessoas judias, ciganas e integrantes da oposição foram enviadas para campos de concentração, sendo muito deles mistos. No entanto, o que poucos sabem, é que existiam lugares destinados apenas para o sexo feminino, onde mulheres eram obrigadas a trabalhar exaustivamente, até ficarem debilitadas e/ou virem a óbito.
Por meio de uma propaganda nazista extremamente forte, Hitler foi capaz de convencer diversos alemães a simpatizarem com seus ideais, o que gerou uma perseguição intensa contra grupos menores. Durante o outono de 1938 a maio de 1939, foi construído o campo de concentração Ravensbrück, que abrigava cerca de 130 mil mulheres prisioneiras de mais de 20 países europeus.
Pouco se tem conhecimento sobre o local, mas o que se sabe é que, inicialmente, este campo oferecia condições básicas de sobrevivência, como comida e uniformes limpos. No entanto, qualquer descumprimento de ordem já gerava punição, além do trabalho escravo ser uma exigência. Com o decorrer da guerra, as condições de Ravensbrück pioraram e o campo atingiu sua capacidade máxima.
Inicialmente o local servia como um campo de trabalho, mas com o avanço da guerra, se tornou um campo de extermínio, onde estima-se que mais de 90 mil mulheres foram vítimas de fome, estupros e execuções. Exaustão, frio e gás letal estavam entre os principais causadores de mortes em Ravensbrück.
Segundo Sarah Helm, autora da obra Ravensbrück: A história do campo de concentração nazista para mulheres, não havia somente prisioneiras judias no local. Entre as internas, era possível encontrar ciganas, doentes mentais e prostitutas. Publicado em 2017 no Brasil pela Editora Record, o livro retrata de forma minuciosa o dia-a-dia neste campo de trabalho.
Em entrevista exclusiva para à BBC, realizada em 2015, a autora revelou fatos inéditos que contribuíram para a construção da sua narrativa. "Ravensbrück era uma história com a qual eu havia me deparado e me dei conta de que era quase desconhecida", disse à BBC.
A autora explica, ainda, que com o avanço dos russos, os nazistas passaram a matar as pessoas que haviam sobrevivido, com o intuito de encobrir seus rastros de torturas e assassinatos. Entre os dias 27 e 28 de abril, mulheres que haviam sobrevivido e estavam em condições de andar, foram obrigadas a participar da marcha da morte. Outras 3 mil mulheres foram deixadas para trás, pois estavam muito doentes e debilitadas. No dia 30 de abril de 1945, o Exército Vermelho as libertou e salvou do campo de Ravensbrück.
"Assim como Auschwitz foi a capital do crime contra os judeus, Ravensbrück foi a capital do crime contra as mulheres. Estamos falando de crimes específicos de gênero, como abortos forçados, esterilização, prostituição forçada. É uma parte crucial da história das atrocidades nazistas", disse Sarah Helm em entrevista à BBC.
Com mais de 900 páginas, a obra traz testemunhos completos da Segunda Guerra Mundial, mostrando como os horrores nazistas se alastraram em pouco tempo e em longa escala. Esta obra é inspiradora e arrepiante na mesma medida, uma vez que é capaz contar de forma emocionante a capacidade da crueldade do ser humano.
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Ravensbrück: A história do campo de concentração nazista para mulheres, de Sarah Helm (2017) - https://amzn.to/33uHoi8
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As Judias do Campo de Concentração de Ravensbrück, de Rochelle G. Saidel (2009) - https://amzn.to/2weCKbD
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