O autor e jornalista Luiz Octavio de Lima reconstitui o cenário político no país durante o Golpe de 64
Victória Gearini Publicado em 20/03/2020, às 21h05 - Atualizado em 29/03/2022, às 14h35
O golpe militar, ocorrido no dia 31 de março de 1964, foi responsável por mudanças significativas na sociedade brasileira. O período é marcado pela censura e pela intensa perseguição contra a oposição. No entanto, o que muitas pessoas questionam, é se há semelhanças com o atual cenário político no país. Para responder essa pergunta, a obra Os anos de chumbo, de Luiz Octavio de Lima, busca analisar e contextualizar ambos os períodos.
Luiz Octavio de Lima é jornalista formado pela PUC-RJ, e possui MBA em Economia pela Unicamp. O repórter trabalhou nas maiores redações do país, entre elas O Globo, Veja, Época, Exame, Folha de S.Paulo e O Estado de São Paulo. Luiz Octavio foi finalista, ainda, do Prêmio Jabuti — o maior prêmio literário do Brasil — com o livro Pimenta Neves: uma reportagem.
Logo após concluir o livro, o jornalista veio a falecer. Em sua homenagem, a Editora Planeta lançou sua obra em março deste ano. Por meio de uma análise minuciosa, o autor reconstitui o contexto político, social e histórico do país desde o governo de Jânio Quadros até a instauração da ditadura militar. Com materiais inéditos, Luiz Octavio revela os principais acontecimentos que resultaram no Golpe de 64 e dedica a obra, ainda, às gerações futuras, como forma de denunciar os horrores cometidos nos chamados anos de chumbo.
O livro questiona os caminhos da repressão e da censura, e como isso afetou o cotidiano da população brasileira. Para construir sua narrativa, o jornalista entrevistou personalidades da época e revisou bibliografias. O historiador Laurentino Gomes — autor da obra 1808 — foi o responsável por escrever o prefácio, enquanto o filósofo Noam Chomsky foi o encarregado de elaborar a quarta capa do livro. Por fim, o escritor Tiago Ferro assinou a preparação.
Segundo Noam Chomsky, o Golpe de 64 representa um período sombrio na história do Brasil, motivo pelo o qual é importante conhecer para não repetir na atualidade. “Uma análise abrangente desse período doloroso e crítico da história moderna do Brasil, tendo como objetivo ‘imergir o leitor no tempo retratado’ em toda sua rica variedade e complexidade. É uma contribuição muito valiosa para a compreensão histórica, com especial significado devido a suas duras e urgentes lições para o hoje”, afirma o pensador.
Luiz Octavio acompanhou diversas pessoas, durante a construção do livro, entre elas auxiliares de figuras da repressão, integrantes da Comissão Nacional da Verdade, líderes estudantis tornados guerrilheiros e participantes da conspiração pré-1964. O jornalista entrevistou, ainda, Cabo Anselmo, que passou da militância marxista à colaboração com o regime militar.
Tiago Ferro defende que o foco central desta produção é a democracia, que instiga o leitor a pensar no presente e no futuro, a partir dos erros do passado. “Toda boa síntese histórica cria novos significados e propõe olhares inusitados com o intuito de colaborar com o debate público atual. Este livro de história tem a urgência de quem sabe que é preciso resgatar a tão maltratada democracia. Esta publicação é uma boia de salvamento lançada ao futuro”, declara o escritor.
Por meio de uma linguagem jornalística e literária, o autor faz uma análise política e apresenta novas perspectivas sobre o passado, repleto de luta, massacres, incertezas e resistências, assim como aponta Laurentino Gomes no prefácio.
“A capa deste livro talvez merecesse uma advertência à semelhança das embalagens de medicamentos. Sob o encantamento e a leveza do estilo literário de Luiz Octavio de Lima, estão algumas perguntas incômodas, cujas respostas dependem o sucesso ou o fracasso da construção do Brasil neste início de século XXI. Por que a tentação totalitária é tão forte entre nós? Conseguiremos persistir na democracia e consolidar essa forma de regime político, sem correr o risco de novas e traumáticas rupturas que tanto nos assombraram no passado?”, afirma o historiador.
Por fim, Luiz Octavio resgata os episódios mais emblemáticos deste período, como o Terror no Guararapes, a Primavera Operária, a efervescência política dos festivais, o movimento jovem da década de 60, o conflito armado na Maria Antônia, e a instituição do Ato Inconstitucional número 5, provocando o pensar crítico do leitor.
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