Com caráter autobiográfico, a obra revela a relação do artista com Théo, e reflete sobre as padrões artísticos da época
Victória Gearini Publicado em 19/06/2020, às 19h53 - Atualizado em 30/03/2022, às 13h20
Entre julho de 1873 e 1890, Van Gogh e seu irmão, Théo trocaram inúmeras correspondências que revelam a relação próxima e carinhosa entre ambos. Nas cartas, eles contavam sobre o dia a dia e refletiam sobre as nuances da sociedade da época.
Lançada pela editora L&PM, em 1997, a edição de bolso Cartas a Théo, trata-se de um emocionante relato pessoal escrito por Van Gogh a seu irmão. Neste clássico, é possível perceber como o pintor se opunhava aos padrões da época, e apresenta Van Gogh de forma profunda e emotiva.
Nesta obra é possível, ainda, perceber como o artista confrontava os modelos e costumes da sociedade, a partir das suas pinturas que romperam com paradigmas sociais. Van Gogh foi capaz de perturbar diretamente o conformismo da burguesia do Segundo Império, o que não o tornou tão popular entre a elite.
Todas as cartas que Van Gogh enviou a Théo, o caçula guardou em respeito e consideração a memória do irmão. Quando Théo morreu, sua esposa, Johanna van Gogh-Bonger, providenciou que algumas dessas cartas fossem publicadas. Eloquentes e expressivas, os escritos de Van Gogh eram uma espécie de diário, demonstrando uma dimensão artística maior e mais profunda.
Disponível na Amazon, a obra é considerada uma das maiores autobiografias escritas pelo pintor, pois retrata de forma emocionante e reveladora a perspectiva do artista sobre a vida mundana e os seus anseios sobre a sociedade.
Confira abaixo um trecho da obra Cartas a Théo (1997):
“Londres, 20 de julho de 1873
A arte inglesa não me atraía muito no começo, é preciso, acostumar-se a ela. Contudo, existem aqui pintores hábeis, entre outros Millais, que fez o Huguenote, Ofélia, etc., e que você certamente deve conhecer por gravuras, é muito bonito. E Boughton, de quem você conhece os Puritanos indo à igreja da nossa galeria fotográfica. Vi coisas muito bonitas dele. Além disso, entre os velhos pintores, Constable, um paisagista que morreu há uns trinta anos atrás, é esplêndido, com alguma coisa de Diaz, de Daubigny; e Rerynolds, e Gainsborough, que pintaram sobretudo retratos de mulheres, e ainda, Turner, de quem você deve ter visto algumas gravuras.
Existem aqui alguns bons pintores franceses, entre outros Tissot… Otto Weber e Heilbuth. Este último está fazendo atualmente belas pinturas no gênero precioso de Van Linder. Quando puder, escreva-me se existem aí fotografias de Wauters, exceto Hugo van der Goes e Marie Bourgogne, e se você conhece também fotografias dos quadros de Lagey e de Braeckeleer.
Não é do velho Braeckeleer que estou falando, mas de um filho dele, acho, que tinha na última exposição de Bruxelas três quadros esplêndidos, intitulados Antuérpia, A escola e o Atlas.
Caso você veja também alguma coisa de Lagey, de Braeckeleer, Wauters, Tissot, George Saal, Jundt, Ziem, Mauve, escreva-me sem falta, são pintores de quem eu gosto muito”.
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