Prisioneiros políticos viraram parte da força escrava que movimentou a economia da ex-União das Repúblicas Socialistas Soviéticas
Victória Gearini Publicado em 27/09/2019, às 11h14 - Atualizado às 11h15
Os campos de concentração stalinistas, conhecidos como Gulags, movimentaram a economia da antiga União Soviética, principalmente durante a década de 50. Os prisioneiros políticos eram forçados a trabalhar em péssimas condições, eram torturados e muitos foram mortos durante esse período.
O ápice desses campos aconteceu entre 1937-1938, compreendido como o período do Grande Terror. Acredita-se que mais de 750 mil pessoas foram executadas somente nessa época e milhões foram enviadas aos Gulags.
A ex-presa do Gulag e professora aposentada de História, Vera Golubeva, disse em entrevista à BBC que foi enviada para a Sibéria em 1951 e forçada ao trabalho escravo por seis anos. A vítima de Stalin foi presa por ter contato uma piada considerada imprópria.
No local, foi obrigada a construir trilhos de trem com temperaturas que chegam a -56°C. "Todo mundo ficava exausto, e acabava doente, mas eu era durona, pelo menos psicologicamente. Muitas pessoas perderam a cabeça. Não conseguiam lidar", disse sobrevivente à BBC.
Golubeva relembra ainda que o momento mais difícil foi quando sua alimentação foi reduzida. "A parte mais difícil para mim era cortar madeira. Eu era uma garota da cidade e não era muito boa na tarefa. Então minha ração foi diminuída para 300 gramas. É quase nada", diz ela.
Em Moscou também haviam Gulags, como afirma o historiador, Dmitry Kotilevich. "A maior parte das pessoas não sabe nada sobre o canal", disse o especialista se referindo ao canal de Moscou que foi construindo por meio de trabalhos forçados, principalmente de ex-presos políticos. Após a inauguração, as vítimas foram executadas, ele explica.
"É muito difícil para muitas pessoas pensar sobre a vitória na guerra e sobre os Gulags ao mesmo tempo. Eu frequentemente escuto que, de alguma forma, se viola a memória da vitória soviética ao falar sobre o que Stalin fez antes dela. Então, os Gulags estão sendo ignorados", afirmou o pesquisador.
Vera Golubeva disse que este fato lhe acarretou problemas que a acompanharam por toda sua vida. Quando a sobrevivente foi capturada estava grávida de seis meses e por decorrência de todas as torturas, perdeu o bebê. Seu marido e pais também foram enviados para os campos da morte. Para ela a vida perdeu o sentido a partir dessa época.
"Dizemos que há coisas que acontecem em espirais. Mas isso foi uma espiral sombria. Era um tempo amedrontador e infelizmente ainda existem apoiadores daquele sistema", lamenta Golubeva.
Entre 1929 a 1953, mais de 28,7 milhões pessoas passaram pelos campos da morte e cerca de 3 milhões foram executadas.
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