Memorial dedicado a Chico Xavier em Uberaba tem experiência imersiva e objetos pessoais

Aberto em 2016 em Uberaba-MG, o Memorial Chico Xavier passou por requalificação museológica e, reinaugurado, apresenta uma bela exposição, aberta para visitação desde o início de julho deste ano. Caracterizada por alto uso de tecnologia, o que a equipara às melhores mostras de longa duração de museus e outras instituições culturais, o local também conta com o que há de mais avançado em acessibilidade.

Chico Xavier (1910-2002) se mudou para Uberaba em 1959, vindo de Pedro Leopoldo, ambos municípios mineiros. Na nova cidade o médium realizou intenso trabalho na divulgação do espiritismo e na assistência aos necessitados. O Memorial Chico Xavier apresenta exposições e instalações que permitem um mergulho na vida e obra do médium.

Uma galeria dedicada à psicografia 

Seguindo uma linha lógica para o entendimento da trajetória de Chico Xavier, a primeira galeria do Memorial prioriza a psicografia e mensagens que convidam ao recolhimento e desligamento do mundo exterior. Em uma câmara, denominada “Teto de Estrelas”, palavras projetadas virtualmente sugerem a forma como chegam as mensagens ao médium psicógrafo.

Na sequência, primeira sala, encontram-se orelhões que acessados permitem ao visitante ouvir a voz de Chico, como se ele nos falasse do além. Em cada tecla do aparelho há mensagens distintas gravadas por ele. “O telefone só toca de lá para cá” é frase que o médium dizia para quem lhe pedia informações de seus entes queridos; assim, a proposta é para ouvir e meditar. Os orelhões instalados em alturas distintas permitem acesso de adultos, crianças e cadeirantes, por exemplo. Cada mensagem acionada pelo visitante vem acompanhada de vídeo com transmissão em libras.

Foram 450 livros psicografados pelo médium mineiro ao longo de sua vida. Ao lado dos orelhões está uma grande mesa com trechos da extensa produção de Chico Xavier. Ouve-se detalhes como o lápis correndo sobre o papel trazendo tanto mensagens de pessoas desencarnadas como ensinamentos de André Luiz e, entre muitos outros, Emmanuel, o guia espiritual de Chico Xavier. As mensagens estão apresentadas também em braile e, complementando itens de acessibilidade, há mapas táteis, audioguia, rampas e pessoal disponível para atendimento específico para quem necessita.

O coração do mundo

A Fundação Cultural de Uberaba administra o Memorial e estabeleceu parceria com a empresa Expomus na elaboração e criação da atual exposição. Um dos objetivos foi situar o visitante não só na vida de Chico Xavier, como no que ocorria pelo mundo durante cada etapa da vida do Médium. As duas rampas - entrada e saída - que dão acesso ao andar inferior da construção apresentam uma linha do tempo visando unir informação e história. O visitante soma ao fato da vida do médium os acontecimentos no país e no mundo.

No espaço central da principal galeria está a instalação denominada Coração do Mundo. Junto ao enorme coração pulsante estão imagens de grandes líderes do século XX, de diferentes religiões e credos. Irmã Dulce, Desmond Tutu, Mãe Menininha do Gantois, Madre Teresa de Calcutá, Dom Hélder Câmara, Dorothy Stang, além do próprio Chico Xavier, estão juntos e a proposta é promover a diversidade e o respeito às diferentes crenças humanas.

Ideias ficam mais claras em palavras. Ao lado do “Coração do Mundo” estão totens com vídeos compostos para expor os temas que norteiam toda a exposição, tais como “diálogo, paz, amor, solidariedade e transformação”. São edições de vídeos recolhidos a partir das participações de Chico Xavier em programas de TV, documentários e filmes.

Para além de Minas

Não raro aparecem textos na imprensa que sugerem rivalidade entre Uberaba e Pedro Leopoldo. A terceira galeria do Memorial põe por terra as especulações sensacionalistas. É da residência de Chico em Pedro Leopoldo que foram trazidos e expostos no Memorial objetos pertencentes ao médium quando este morava na cidade em que nasceu. São objetos prosaicos, como uma cama, e fundamentais para a divulgação das mensagens recebidas, como a máquina de escrever e um gravador.

Entre os objetos pessoais expostos estão cópias de fotografias publicadas originalmente em 1944 pela revista O Cruzeiro. O fato é destaque na biografia de Chico Xavier quando entrevistado pelo repórter David Nasser, acompanhado do fotógrafo Jean Manzon. Os dois profissionais teriam tentado ludibriar o então jovem médium, passando-se por outras pessoas. Chico presenteou os farsantes com um livro. Posteriormente, lendo a dedicatória, os “espertos” se depararam com seus nomes verdadeiros.

Entre lembranças e solidariedade

Quando entre nós, Chico Xavier atraiu milhares de pessoas para Uberaba. A cidade continua sendo visitada por admiradores e turistas interessados em mais conhecimento. Um extenso roteiro de visita por Uberaba compreende a Casa de Memórias, onde Chico viveu, a estátua do médium na Praça Rui Barbosa, a Casa da Prece, onde trabalhava e, entre outros, o Mausoléu no Cemitério São João Batista. Além desses locais há visitas a outros centros famosos pelo trabalho com que, juntos, fizeram da cidade referência para os espíritas de todo o Brasil. Registro da repercussão do trabalho de Chico Xavier estão, além de muitas fotos, materiais publicados pela imprensa e correspondência recebida por ele.

A última sessão expositiva é composta por uma mesa posta para uma refeição. Os expositores quiseram reforçar, no final, o aspecto fundamental do trabalho de Chico Xavier: a solidariedade. Prática comum nos Centros Espíritas de Uberaba é servir uma sopa no final do dia, colocando em prática os ideais pregados pela doutrina. Além da mesa, há fotos referenciais às sopas e dados estatísticos sobre o espiritismo no Brasil e no Mundo.

Como visitar

Há detalhes sonoros e olfativos na exposição, além de outros aspectos que darão uma experiência única ao público. Ao sair, o visitante passa por um painel expositivo com flores perfumadas que lembram a mãe de Chico Xavier e homenageiam todas as mães do mundo.

Para visitar o Memorial Chico Xavier, é bom saber: as visitas são de terça-feira a domingo, das 09:30 às 17:30, com entrada permitida até às 16:30. É necessário reservar ingressos, gratuitos, tanto individualmente quanto para grupos. Maiores detalhes, entre no site do Memorial Chico Xavier clicando aqui.

*Valdo Resende é escritor nascido em Uberaba-MG. Em sua mais recente publicação está “O Vai e Vem da Memória” onde narra seu encontro com Chico Xavier e outros aspectos de um migrante que saiu da terra natal para viver em São Paulo. Também é autor das fotos que compõem esta publicação.