Wadih Helu, Sócrates e Rodrigo Santana, time alvinegro sempre se politizou; nem sempre no mesmo viés
Fabio Previdelli Publicado em 06/12/2022, às 17h22
Ontem, 5, o auxiliar Rodrigo Santana foi anunciado pelo Corinthians para fazer parte da equipe técnica de Fernando Lázaro. Entretanto, o time de Parque São Jorge voltou atrás na decisão na tarde de hoje, 6.
Após o anúncio, uma grande parte de torcedores foram às redes sociais reclamar da contratação de Santana. O motivo? O auxiliar possui um histórico de propagação de notícias falsas e presença em ao menos um ato antidemocrático após as eleições presidenciais — que resultaram na vitória de Luiz Inácio Lula da Silva.
Desenhando pra quem não entendeu: o problema não é votar no Bolsonaro. Assim fosse, restariam 3 jogadores do Corinthians no elenco pra 2023.
— Lucas Faraldo Knopf (@Lucas_Faraldo) December 6, 2022
Problema é propagar uma pauta criminosa de golpe militar e ser contratado por um clube que desde 1910 luta pela democracia.
Inaceitável.
Com isso, torcedores passaram a apontar que a contratação de Rodrigo Santana ia na contramão da história do clube, marcada pela Democracia Corinthiana no auge da Ditadura Militar. Mas, apesar desse estigma, o Corinthians sempre foi um clube que apoiou a liberdade?
Em entrevista exclusiva à equipe do site do Aventuras na História, em parceria com o portal SportBuzz, o jornalista Mauro Beting recordou que o time alvinegro foi um dos que mais apoiaram publicamente o Golpe de 64. Principalmente por conta de seu presidente à época: Wadih Helu.
Após a eleição de Humberto de Alencar Castello Branco, o primeiro presidente durante o período militar, em 15 de abril de 1964, o Corinthians celebrou o ocorrido. “No dia seguinte, o Wadih Helu publicou como presidente, no caso do Corinthians; ou seja, o Corinthians assina um texto dando vivas à Revolução de 64 e à posse do primeiro presidente”, recorda Mauro.
Mas, afinal, quem foi Wadih Helu? Presidente do Corinthians entre 1961 até 1971, Helu foi eleito, pela primeira vez, Deputado Estadual em 1966, pela Aliança Renovadora Nacional (ARENA) — sigla apoiadora do regime.
Foi um discurso do Wadih Helu, aparteado pelo José Maria Marin, em 1975, que levaria a prisão do Vlado, o Vladimir Herzog, à execução dele no DOI-CODI”, relembra Beting.
“Então, assim, o clube, de São Paulo, que oficialmente mais apoiou publicamente foi o Corinthians, em 64, por conta de Wadih Helu”, aponta.
Mas a história do Corinthians com a Ditadura não se resume somente à Wadih Helu. Já durante o mandato de Vicente Matheus, em 1974, quando o Corinthians conquistou o primeiro turno do campeonato paulista, outro acontecimento ligou o alvinegro ao regime.
Paralelamente a conquista aconteceu a eleição para senador de São Paulo. Na ocasião, Oreste Quércia (MDB) derrotou Carvalho Pinto (ARENA). “Há um programa da ARENA na televisão, no dia seguinte ou na mesma noite, para comemorar a vitória do Corinthians e aproveitar e fazer campanha pelo Carvalho Pinto”, diz Mauro Beting.
“Então, assim, Corinthians e ARENA ali juntinhos como, quatro anos depois, por intermédio do governador Paulo Egydio Martins, grande corintiano; do prefeito Olavo Setúbal, grande corintiano, e ambos biônicos; e o presidente da República, Ernesto Geisel, foi dada a área de Itaquera”, conta.
Mauro ainda relembra que, durante o discurso de agradecimento, quando Ernesto Geisel vai ao Corinthians, em novembro de 1978, o presidente Vicente Matheus lê a ele um texto falando dos ideais da Revolução de 64. Ou seja, mais de uma década após o golpe.
Apesar disso, o jornalista defende que os clubes de futebol não são ditatoriais ou democráticos, só apenas que eles seguem os ideais de seus dirigentes — muitas vezes movidos por interesses que vão além das quatro linhas.
Se por uma lado os diretores corintianos se alinharam com o governo entre os anos 1960 e 1970, por outro os próprios torcedores do clube se mostravam discordantes da política alvinegra. “Inclusive, a Gaviões da Fiel surge em 1969 como oposição da torcida à Wadih Helu e à continuação dele, a ditadura dele, digamos assim, continuísmo dele como presidente do Corinthians”, relembra Mauro Beting.
Após a falácia da década do milagre econômico e também com a sociedade clamando cada vez mais por liberdade, Waldemar Pires assumiu a presidência do Corinthians e indicou como diretor Adilson Monteiro Alves.
Com grandes corintianos, como Washington Olivetto, Juca Kfouri, Flávio Gikova conseguiram arquitetar e bolar a Democracia Corinthiana, que vai muito além dos muros do Parque São Jorge” afirma Mauro.
“É um movimento fundamental não só pro futebol, que se sustentava por uma equipe bicampeã paulista. A Democracia Corinthiana é fundamental, vai muito além desse processo de redemocratização do Brasil”, conclui.
O jornalista Mauro Beting foi uma das fontes entrevistadas pela equipe do Aventuras na História, em parceria com o portal SportBuzz, em uma série especial de podcasts que ligam a História do Brasil e do futebol. A entrevista na íntegra já está disponível. Ouça abaixo!
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