Descoberta em Portugal, estatueta de bronze do século 2 representa uma figura feminina com características faciais que sugerem doença genética rara
Éric Moreira Publicado em 06/01/2025, às 11h18
Recentemente, arqueólogos descobriram em Braga, no norte de Portugal, uma estatueta de bronze do século 2 onde, no passado, existiu a antiga cidade romana de Bracara Augusta.
Porém, o que mais chama atenção na descoberta é que o artefato, que representa uma figura feminina, possui estruturas faciais bastante únicas que levou especialistas em arqueologia, história da arte e medicina a especular que poderia ser a mais antiga evidência romana da síndrome de Crouzon, uma doença genética rara.
A estatueta, conforme repercute o Archaeology News, foi descoberta no topo do Monte Cividade, e chama atenção pelas anormalidades físicas que apresenta. Entre elas, está a exoftalmia (olhos salientes), exotropia (olhos desalinhados) e assimetria facial.
Por essas características, os pesquisadores utilizaram-se do iconodiagnóstico — técnica que consiste em interpretar condições médicas representadas ao longo da história da arte — para apontar a possibilidade de aquela pessoa representada possuir a síndrome de Crouzon. Esse distúrbio genético, vale mencionar, foi descrito pela primeira vez em 1912 pelo neurologista francês Octave Crouzon, e causa a fusão prematura dos ossos do crânio, provocando deformidades cranianas e faciais bastante distintas.
Conforme descrito pelo arqueólogo Rui Morais, que analisou o artefato, "a cabeça é adornada com um diadema de sete torres estilizadas, talvez simbolizando os portões da cidade romana. As características faciais — olhos grandes e proeminentes, lábios assimétricos e um rosto oval ligeiramente inclinado — são renderizadas com precisão notável".
Também é destacado na estatueta que a coroa mural que ela utiliza, comumente vista em estátuas de deusas padroeiras de cidades como Tyche e Fortuna, ressalta seu significado simbólico. Porém, o artefato ainda diverge de representações convencionais de divindades greco-romanas, visto que, em vez da cornucópia de abundância que elas geralmente apresentam, esta empunha uma serpente enrolada em uma vara.
Esse atributo, por sua vez, é relacionado a várias divindades da saúde, como Asclépio e Hígia. Por isso, estudiosos acreditam que a figura seja, na verdade, a representação de uma sacerdotisa envolvida em rituais relacionados à saúde, ou mesmo alguma divindade menos conhecida. O estudo foi publicado na revista Antropologia Portuguesa.
Outro detalhe é que a expressão triste da estatueta, bem como suas características incomuns, levantam questionamentos sobre como as antigas sociedades e religiões tratavam e viam indivíduos com tais diferenças físicas. Vários estudiosos sugerem que esses traços podem ter sido vistos como sinais divinos, o que seria um eco de crenças xamânicas que viam deformidades como dons espirituais.
Por fim, os pesquisadores pontuam que, por mais que hoje a síndrome de Crouzon seja bem compreendida, essa estatueta de bronze representa o que é o mais antigo caso proposto da condição genética rara retratada na arte greco-romana. Com a descoberta, novas compreensões de como as anomalias médicas eram percebidas dentro da antiga sociedade romana são possíveis a pesquisadores.
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